Quinta-feira, 8 de outubro de 2015, às 14h55


Essa palavra não existe! Mas o show, a superprodução cinematográfica que se desenrola em Brasília, protagonizada pela classe política brasileira é digna dos trashs produzidos em hollywood – lembrando que sempre precisamos livrar aqueles que são exceções no elenco.

Gerson Soares

Protagonizada pela atriz principal deste filme, a presidente Dilma Roussef, tendo como diretor do filme o ex-presidente Lula – que faz diversas pontas nesse filme –, o país assiste atônito à sua própria derrocada, onde 50% da população brasileira entregou legitimamente – até que se prove o contrário – quatro anos de mandato a um partido que já vinha sendo investigado em diversos escândalos ao longo de 12 anos. Nem os mais criativos diretores de filmes de horror de Hollywood poderiam imaginar que 100 milhões de brasileiros quisessem o sofrimento para si próprios.

As mais escabrosas cenas são representadas contra essa população e os outros 100 milhões que não votaram no atual Governo. Arrependidos, os votantes pedem a cabeça da atriz principal e se perguntam: quem assumirá seu papel?

Num possível impeachment da atual presidente, o vice-presidente Michel Temer terá problemas para assumir, já que nas eleições ocupou a mesma chapa, sendo que uma das questões das pedaladas fiscais seria o destino das verbas que deixaram os cofres públicos para serem direcionadas à campanha de reeleição de Dilma Roussef.

Se Temer for impedido, o nome natural para assumir seria o do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Eduardo Cunha. Este é acusado de manter US$ 2,4 milhões (o equivalente a 9,4 milhões de reais) em nome de empresas offshore, mandando o dinheiro dos brasileiros para a Suíça. O Ministério Público daquele país, bloqueou e já enviou os extratos das contas para a Procuradoria Geral da República no Brasil, que aguarda a tradução para o português e em seguida as analisará. Além disso, Cunha é investigado na Operação Lava Jato. Caso assuma como presidente do país, será um vexame.

Esta é Brasíllyawood, a versão macabra do cinema brasileiro que tem outras brilhantes atuações, como os partidários peemedistas e a (ex) base aliada, que ontem (7/9) deu mostras da insaciabilidade pelo poder quando 80 parlamentares se disseram descontentes com a partilha ministerial feita pelo Governo Federal que roga seu apoio. Na “Pátria Educadora” dessa gestão, o ministério da Educação já foi leiloado três vezes nestes primeiros nove meses de mandato. Gerir uma pasta com tal importância nessas condições só poderia levar a absurdos, como os cortes de verbas no Sistema S, que tem causado manifestações veementes dos presidentes da FIESP, CNI e FIRJAN em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A oposição liderada pelo PSDB, só tem um objetivo: o impeachment de Dilma Roussef. Enquanto isso, o país patina. Ainda é duvidoso levarmos em conta que essa oposição tenta trabalhar pelo bem e o futuro e não pensa só nas vantagens que terá com a possibilidade do final do mandato da atual presidente que na verdade não será fácil de conseguir.

Por fim, um elenco de 81 senadores e 513 deputados federais, auxiliados por milhares de “funcionários”, além da Presidência da República, Ministérios e Secretarias, estão levando o país a um retrocesso de 15 anos em pouco menos de dois, desde que começou a corrida presidencial, culminando com a eleição de Dilma Roussef.

Esse trash de horror, estrelado por pouco mais de 1.000 pessoas e seus seguidores, estão levando 200 milhões ao poço. O controle da inflação, uma das maiores conquistas do povo brasileiro, está novamente assustando. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), entre o mês de janeiro e setembro de 2015, a inflação alcançou 7,64%, o maior índice desde 2003.

O que interessa para a classe política que forma esse elenco brasillyawoodiano, selecionado para um filme de péssima qualidade, é o poder. Mas, além de ser muito ruim, custar excessivamente caro e não dar retorno, esse filme trash tem o defeito de ser interminável. A cada capítulo que se aproveita, vários outros denigrem sua imagem.

A imprensa e os cidadãos também passam pelo retrocesso que assolou o país na época da ditadura, quando foram obrigados a calar-se diante daquilo com o que não concordavam. Tramita na Câmara dos Deputados, a toque de caixa, um projeto que proibirá as pessoas de falarem mal dos políticos na internet. Se esse projeto de lei passar é a volta da censura sem metralhadoras, agora na base da canetada.

Liberdade é liberdade, não existe meia liberdade. Se as pessoas cometem crimes na internet com difamações descabidas devem assumir seus erros perante a Justiça, seja contra os políticos ou quaisquer cidadãos. Ao contrário disso a classe política dá seu show de poder e tenta tapar a boca daqueles que se manifestam contra suas aberrações.

Vamos a uma delas? Esta é das mais amenas travessuras, nada de tão grave, daqueles que pretendem proibir os brasileiros de reclamar:

Da Radioatividade Jovem Pan – Segundo o pregão eletrônico 76/2015, o cidadão brasileiro vai pagar só de chás de boldo, camomila, capim cidreira, erva-doce, fruta, hortelã e chá preto, R$ 69.186,60. Em leite em pó, suco de caju e maracujá e biscoitos variados, que vão do cream cracker à bolacha recheada, o pregão eletrônico 77/2015 estabeleceu gastos de R$ 78.326,12. O repasse do Pnae, Programa Nacional de Alimentação Escolar, para as merendas do ensino fundamental é de R$ 0,30 por aluno a cada dia letivo. Ou seja, o lanchinho da Câmara custa o mesmo que o repasse de um ano de merenda para 2 mil 458 estudantes da Rede Pública.

Ficou com vontade de chorar?! Não adianta, tem de entender a política. Se 100 milhões de brasileiros deram o poder a pessoas que permitem que essas situações se perpetuem, só há uma maneira de revertê-la: é através do voto. As verbas destinadas a essas mordomias são legais, mas imorais, diante da situação difícil da economia e do necessário e urgente corte nos gastos públicos.

No atual estado da política nacional, em nossa opinião, cada elemento votado (presidente, senadores, deputados e por extensão governadores, prefeitos, deputados estaduais e vereadores) deveria ser reavaliado a cada ano, com direito do cidadão que lhe concedeu o voto poder literalmente cancelá-lo, conforme a atuação do votado. Pelo menos até que a política praticada no Brasil deixe de ser um filme de horror. A participação dos cidadãos é fundamental para o futuro.

Ao invés de proibir as falas contra si, a classe política deveria ter a coragem de se submeter anualmente a um exame, como acontece com os estudantes – dos quais pretendem retirar verbas substanciais em 2016 – para poder passar de ano.

Com isso, a fim de continuar no poder, os políticos deveriam produzir um filme melhor se quisessem sucesso de bilheteria e não as chanchadas que assistimos diariamente, recheadas de mediocridade, acinte e arrogância. Brasíllyawood quer fazer sucesso e consegue no máximo ser patética.

 

Brasíllyawood, o show cinematográfico de baixa qualidade que se vê em Brasília diariamente. Ilustração; aloart