Quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016 às 20h21


O grupo de trabalho formado por pesquisadores da Ufes para monitorar os impactos ambientais, econômicos e sociais no Espírito Santo, em função do rompimento da barragem de rejeito de minério localizada em Mariana (MG), apresentou nesta sexta-feira, 5, um boletim com os resultados das 2.785 análises feitas desde de 13 de novembro, quando o grupo foi criado.

Universidade Federal do Espírito Santo

A apresentação foi feita em uma reunião com a participação dos pesquisadores da Ufes e técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A equipe interdisciplinar de pesquisa tem mais de 70 pessoas de várias áreas da Universidade.

Segundo o diretor do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), Renato Rodrigues Neto, a Ufes tem um banco de amostras único sobre as áreas afetadas. “Nós já vínhamos fazendo estudos sobre o Rio Doce muito antes de o fato acontecer. E quando ocorreu o rompimento da barragem, em 5 de novembro, nós fomos para a foz do rio coletar diversas amostras para comparar com a situação após a chegada da lama, que aconteceu no dia 21 de novembro”, enfatizou ele.

Amostras

Grande parte dos resultados divulgados foram obtidos entre os dias 27 de novembro e 2 de dezembro de 2015, quando os pesquisadores estiveram a bordo do Navio Hidroceanográfico de Pesquisa Vital de Oliveira Moura, da Marinha do Brasil, e coletaram amostras em 15 pontos do oceano Atlântico, desde a foz do Rio Doce até alcançar uma profundidade de 30 metros. Foram coletadas amostradas de água e sedimentos para análises de metais, turbidez, temperatura, salinidade, oxigênio, entre outras.

 

Baleia Jubarte subindo à superfície em Abrolhos. Foto: Amnemona (Marina C. Vinhal) (Flickr) via Wikimedia Commons

Baleia Jubarte subindo à superfície em Abrolhos. Foto: Amnemona (Marina C. Vinhal) (Flickr) via Wikimedia Commons

 

O professor do Departamento de Oceanografia da Ufes, Alex Bastos, fez a apresentação do boletim e destacou a alta concentração de material particulado no mar. “Nunca tínhamos registrado esses níveis de turbidez na água do mar com mais de 20 metros de profundidade. As amostras revelaram uma turbidez muito elevada para níveis com 30 metros de profundidade. Além disso identificamos um percentual muito alto de coloide, em torno de 2% da amostra. O coloide é uma espécie de pó muito fino que não se deposita no fundo do mar e pode ser muito prejudicial ao meio ambiente. Ele pode ser ingerido ou mesmo servir de veículo de transporte para um vírus, por exemplo”, afirmou Bastos.

As pesquisas também mostraram que o mineral mais encontrado na argila analisada foi o silicato de zinco e o silicato de alumínio e que a concentração na água de alguns metais - principalmente ferro, alumínio, cromo e manganês -, chegaram a estar 100 vezes maior que o normal. Além disso, uma pesquisadora relatou que foi encontrado, no fundo do mar, um animal conhecido como “minhoca do mar” coberto de lama. Outro problema detectado está no aumento da vazão do rio. Segundo Renato Rodrigues Neto, a vazão do rio, que na época do desastre estava em 300 m³ por segundo, hoje está perto de 4.000 m³ por segundo, e isso aumenta muito o volume de lama que é despejada no mar.

O relatório também destaca a importância da continuidade das pesquisas e prevê diversas ações que devem ser feitas nos próximos meses.

Texto: Hélio Marchioni
Edição: Edgard Rebouças e Thereza Marinho

Professores da Ufes divulgam pesquisas sobre impactos da lama no estado

 

Matéria especial sobre o Arquipélago de Abrolhos. Assista vídeos, saiba como visitar o arquipélago, com dicas dos próprios organizadores. Entenda como a lama tóxica da Samarco pode afetar a vida marinha e as pesquisas que estão sendo feitas no maior santuário marinho do Brasil.

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Região do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu. Foto: © WWF-Brasil

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