Leia agora a entrevista com o Padre Yeznig Guzelian da Igreja Apostólica Armênia de São Paulo, concedida em 2005, à revista Alô Tatuapé.

 Revista Alô Tatuapé – Explique como começou a igreja cristã na Armênia?

Padre Yeznig Guzelian – Dois dos 12 Apóstolos, São Judas Tadeu e São Bartolomeu, foram pregar o Evangelho na Armênia por volta do ano 50 d.C. e lá foram martirizados. Por isso o nome é Igreja Apostólica Armênia. Até 301 d.C. já existia cristãos na Armênia que pregavam  a religião, que era proibida.

 Revista Alô Tatuapé – Por que está citando essa data?

Padre Yeznig – Na data de 301 d.C. São Gregório (o Iluminador) juntamente com o Rei Drtad III declararam o Cristianismo como religião oficial do Estado armênio.

 Revista Alô Tatuapé – Quanto tempo o senhor morou em Jerusalém?

Padre Yeznig – Durante 5 anos.

Revista Alô Tatuapé – O senhor possui uma tatuagem no braço direito, simbolizando o Espírito Santo. Porquê?

Padre Yeznig – Quem faz esta tatuagem significa que visitou o túmulo de Cristo.

Revista Alô Tatuapé – E qual é a sensação de visitar o Santo Sepulcro?

Padre Yeznig – Se você entra em Jerusalém, você já sente uma energia diferente, não precisa ir até o túmulo.

Revista Alô Tatuapé – No local, onde Jesus foi sepultado erigiu-se uma igreja não é mesmo?

Padre Yeznig – A igreja do Santo Sepulcro pertence há três religiões: Grega Ortodoxa (foram os construtores em 340 d.C.), Armênia e Católica. Helena, a irmã do imperador Constantino – que depois virou santa – mandou construir o templo no local onde Jesus foi sepultado e depois passou a procurar a cruz utilizada para a crucificação de Jesus. 

Revista Alô Tatuapé – E a encontrou?

Padre Yeznig – Encontrou num (procurando palavras em nosso idioma) lixão em Jerusalém, junto com mais duas cruzes. Para provar qual era a de Jesus, colocou-as no chão e passando um cortejo fúnebre Helena o parou e tiraram uma criança falecida. Ela mandou colocá-la em cima de cada cruz, acreditando que na qual a criança ressuscitasse seria a de Jesus.

Revista Alô Tatuapé – E a criança realmente ressuscitou?

Padre Yeznig – Ela ressuscitou e a cruz foi colocada no Calvário. Então, Helena mandou construir a grande igreja, a Basílica hoje chamada de Santo Sepulcro.

 Revista Alô Tatuapé – Mas hoje a cruz não está mais lá?

Padre Yesnig – A cruz de Cristo foi achada 300 depois de ter sido usada. Por volta de 600 d.C. a Pérsia atacou Jerusalém e levou a cruz. Cristãos de toda a Europa, inclusive os armênios, cujo país fazia fronteira com a Pérsia, ajuntaram-se para atacá-la e recuperar a cruz. E recuperaram. Na volta ficou um ano na Armênia. Por causa do rigoroso inverno eles não podiam chegar até Jerusalém.

Revista Alô Tatuapé – E o que aconteceu depois?

Padre Yeznig – A cruz voltou para Jerusalém, passando por Constantinopla terra de Santa Helena, e para não haver mais disputas, a cruz foi dividida entre as igrejas.

Revista Alô Tatuapé – E sobre São Gregório, padroeiro da Igreja Armênia?

Padre Yesnig – Ele foi um cristão e alto funcionário do Estado, enquanto o Rei Drtad III era pagão, sua história é bastante interessante.

Revista Alô Tatuapé – Então conte.

Padre Yesnig – Gregório era cristão e isso era considerado crime. O Rei Drtad III mandou prendê-lo e ainda descobriu que os antepassados de Gregório foram inimigos dos seus pais. Com isso mandou encerrar Gregório num poço, hoje chamado de Khor-Virab, que traduzindo fica "poço profundo". Passados alguns anos, o rei apaixonou-se pelas mulheres judias de uma caravana e quis se casar com elas, que o recusaram. Em represália mandou matar 40 mulheres. Depois disso Drtad ficou enlouquecido, por que ele havia gostado daquelas mulheres. Passado algum tempo a irmã do rei sonhava sempre que o único que poderia libertá-lo da loucura seria Gregório. Mas, para o rei, Gregório já estava morto, pois havia 13 anos que tinha sido jogado no poço. Mesmo assim mandou olhar e constatou que o homem estava vivo. Ele fora ajudado por uma cristã que jogava água e comida para ele. Gregório foi libertado e o rei curado, que em reconhecimento converteu-se ao cristianismo. Com isso a Armênia foi o primeiro país a tornar-se cristão oficialmente em 301 d.C., ao tempo que Roma só o faria 12 anos depois.

Revista Alô Tatuapé – Até o papa visitou a Armênia?

Padre Yeznig – João Paulo II visitou a Armênia em 2001 para comemorar 1.700 de cristianismo.

 Revista Alô Tatuapé – Estando inserida numa região onde a religião predominante é a muçulmana, contemporaneamente o país pagou um alto preço por isso.

Padre Yeznig – Em 1915 a Armênia e seu povo foram vítimas do primeiro grande massacre do mundo moderno, um genocídio cometido pelos turcos que mataram um milhão e meio de pessoas.

Revista Alô Tatuapé – A Armênia está no sopé do Monte Ararat. Qual a verdade sobre Noé?

Padre Yesnig – Ali teria sido o local onde Noé ancorou sua arca. Existem indícios arqueológicos.

Revista Alô Tatuapé – Então esta é uma cultura bastante antiga?

Padre Yesnig – A cultura Armênia tem 4.000 anos e ocupava um território que ficava entre a Turquia, Rússia e a Geórgia, mas que hoje se reduziu ao tamanho do estado de Sergipe, devido as invasões.

GSS

Após dois anos de reforma a igreja tem sua luminosidade e beleza revigorada. Foto: Catedral Apostólica Armênia de São Paulo - São Jorge - atual.

Noite da Cultura Armênia que ocorreu no dia 28 de outubro de 2008, dia de São Judas Tadeu um dos apóstolos de Cristo padroeiro da igreja Armênia, o outro é São Bartolomeu. De terno preto o Padre Yeznig Guzelian, Diretor da Escola Externato José Bonifácio  e de batina o Padre Boghos Baronian, da qual participaram todos os alunos. 

Pintura de São Judas que com São Bartolomeu levaram o evangelho aos armênios. Catedral Apostólica Armênia de São Paulo - São Jorge. Foto: aloimage 2005.

Pintura de São Bartolomeu na Catedral Apostólica Armênia de São Paulo - São Jorge. Foto: aloimage 2005.

Padre Yesnig Guzelian na formatura dos alunos no final do ano passado.

Igreja Armênia, antes da reforma, em 2005. Foto: aloimage.