Sexta-feira, 13 de maio de 2016 às 21h59


Por volta desta data, há 84 anos, São Paulo fervia com a opressão do governo Vargas e exigiu uma nova Constituição. Hoje, quando o país inteiro já decorou a palavra e percebeu a importância do “livrinho”, vale recordar um pouco da história do Estado onde a liberdade encontrou ferrenhos detratores e os heróis escreveram histórias de bravura para que a Justiça prevalecesse, dentre eles a Legião Negra, um episódio à parte da guerra paulista.

Da Fundação Energia e Saneamento de São Paulo


Os “Pérolas Negras”

Fundada em 1931, na Capital, a Frente Negra Brasileira (FNB) foi uma das entidades mais representativas do movimento negro no período e, com o estopim da Revolução Constitucionalista, optou pela neutralidade. Uma dissidência da FNB, a Legião Negra (LN) foi criada em 15 de julho, seis dias após o início do conflito, pelo advogado baiano Joaquim Guaraná Santana. Treinada militarmente pelo capitão Gastão Goulart, estima-se que a LN chegou a enviar cerca de 2 mil homens à guerra.

Algumas de suas unidades eram nomeadas em alusão a personagens de destaque da comunidade negra, como Henrique Dias e o Conselheiro Rebouças. Fato curioso é a participação de negras na guerra; além de enfermeiras, há o relato da presença de cinco mulheres entre as companhias de fuzileiros da Legião, entre elas a “Maria Soldado”, que se tornaria um dos símbolos da luta constitucionalista.

Além dos batalhões da LN, vários membros da Frente Negra Brasileira no interior do Estado se alistaram como voluntários em diversas unidades formadas pelas cidades paulistas. Entre os cerca de 40 mil soldados revoltosos, estima-se que um quarto do exército constitucionalista era formado por negros. Apesar de registrada nos jornais da época como brava e heroica, nem só de glórias viveu a Legião Negra: o historiador Petrônio José Domingues aponta evidências de que seus batalhões foram enviados, em diversas ocasiões, como linha de frente nos conflitos, o que levanta uma discussão sobre a real incorporação do negro no ideário constitucionalista e, mais a fundo, em uma sociedade que ainda convivia com movimentos comumente aceitos como o eugenista. Ao final da guerra, dos 26 constitucionalistas negros mortos, quatro pertenciam à Legião Negra.

 

O então governador do Estado de São Paulo e líder da Revolução Constitucionalista, Pedro de Toledo, visita a sede da Legião Negra, localizada na Chácara do Carvalho, na Barra Funda. O quartel na região central da Capital reunia um batalhão formado apenas por negros e a ida de Toledo, chefe civil dos revoltosos, demonstrava a importância e a participação ativa que a Legião teve na Revolução de 1932.  Foto: acervo da Fundação Energia e Saneamento de São Paulo

O então governador do Estado de São Paulo e líder da Revolução Constitucionalista, Pedro de Toledo, visita a sede da Legião Negra, localizada na Chácara do Carvalho, na Barra Funda. O quartel na região central da Capital reunia um batalhão formado apenas por negros e a ida de Toledo, chefe civil dos revoltosos, demonstrava a importância e a participação ativa que a Legião teve na Revolução de 1932. Foto: acervo da Fundação Energia e Saneamento de São Paulo

 


Para saber mais, leia o artigo “Os ‘Pérolas Negras’: a participação do negro na revolução constitucionalista de 1932”, de Petrônio José Domingues.