Segunda-feira, 13 de agosto de 2018, às 12h57


Mesmo tendo atrás de si o assombro da obra fantasma, um brinquedo lembra que o erário não é diversão, faz vigília e mantém viva a esperança em dias melhores na administração pública. Como as crianças que nele brincaram, ainda sonha reviver a alegria e os sorrisos roubados pela incompetência.

Gerson Soares

A lentidão que existe para punir atos de agentes públicos, principalmente quando se trata de executivos e parlamentares, é algo extraordinário. Depois de o Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes ser destruído pelo ex-prefeito Fernando Haddad (2013–2017) – possível candidato substituto de Lula à presidência da República pelo PT na eleição de outubro –, ser maquiado pelo ex-prefeito João Doria (2017 – 2018) – atual candidato ao governo do Estado de São Paulo pelo PSDB –, o centro esportivo do Tatuapé, que fica ao lado da estação Carrão do metrô, continua na mesma: abandonado.

 

Papel higiênico: no lado de fora do gradil do centro esportivo, o banheiro fica na antiga entrada da Rua Monte Serrat. Foto: aloimage

 

Após diversas reportagens e a constatação por órgãos governamentais sobre o abandono e deterioração do patrimônio público, como o departamento de Vigilância Sanitária, foi aberto inquérito para apurar a situação do local no último dia 18 de junho pelo Ministério Público de São Paulo, para que sejam apuradas as irregularidades que ocorrem no local, tais como paralisação das obras e eventuais prejuízos ao erário.

 

Placa que pode ser vista sobre a muro pichado do Centro Esportivo do Tatuapé: anúncio ou advertência? Foto: aloimage

 

Em 2014, a deterioração do centro esportivo já era sentida com diversas reclamações dos usuários até que o ex-prefeito Fernando Haddad anuncia com alarde a construção de um CEU (Centro Educacional Unificado) que iria transformar o parque em uma grande obra educacional e esportiva. O que aconteceu foi a maior depredação do patrimônio público dos últimos tempos no bairro do Tatuapé.

 

Árvore que enfeita o bairro com sua copa frondosa, tem sobre as raízes os frutos da incompetência. Foto: aloimage

 

Ao invés de frutos, copos e descartáveis florescem sobre as raízes das árvores

A fantasiosa obra, divulgada com ênfase na mídia, ganhou até adeptos ferrenhos que acreditaram no sucesso espetaculoso que um CEU proporcionaria ao Tatuapé. Na verdade, essa iniciativa floresceu a partir de ilações e terminou como se vê nas imagens e vídeos que mostramos. Uma obra sem sentido, em um bairro dotado de infraestrutura espetacular, no qual a maioria das pessoas entrevistadas não consegue divisar a verdadeira utilidade de um CEU. Principalmente, se imaginarem que estão sendo preteridos outros bairros mais afastados, onde projeto de tal porte teria utilidade. Isso se fosse concretizado.

 

Lixo se espalha pelas instalações do parque abandonado. Foto: aloimage

 

Herança do governo Haddad – perpetuada por Doria que também largou o abacaxi nas mãos de Bruno Covas –, além de não realizar nem tomar providências para que a obra tivesse andamento, sob a infeliz gestão de Haddad, a Prefeitura de São Paulo destruiu um ginásio de esportes, quadras poliesportivas e as piscinas com o belo design dos anos 1950/60. Com suaves curvas e ondulações, onde a população podia se divertir, mesmo sob o caos do entulho, as piscinas ainda podem ser vistas sobrevivendo vazias. Como testemunha de tanta imprevidência e jogos de interesses, árvores antigas têm como adorno de suas raízes copos e outros descartáveis.

 

Toboágua: solitário brinquedo amarga atrás de si o fantasma esquelético da inconsequência. Foto: aloimage

 

Um pequeno toboágua solitário vislumbra a destruição proporcionada pela ganância. Vítima do poder de mentes deturpadas que não conseguem ou não querem enxergar a diferença entre fazer manutenção e renovar os equipamentos do parque que já existia ou erguer um CEU no Tatuapé, preterindo a periferia da cidade onde realmente se faz necessário.


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Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes: imagem de arquivo ainda mostrava, em setembro de 2017, os tapumes metálicos que serviam para esconder a destruição proporcionada pela gestão do ex-prefeito Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo. Atualmente, a maioria deles desapareceu. Foto: aloimage

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