Quinta-feira, 17 de maio de 2018 às 18h45


O mesmo disse o pré-candidato ao Governo do Estado de São Paulo pelo PSDB. Mas à afirmação dos dois, o que ficou foi a conotação antiética, se é que realmente não houve a política de fato – mesmo que velada.

Gerson Soares

· Moro deveria ter aceitado o prêmio encabeçado pelo Lide?
· Caiu em uma armadilha do tucano João Doria ou da vaidade?
· A dúvida sobre a gravata e a opção pela de cor vermelha, teria sido para dizer que não tem partido ou preferências políticas, já que contrariou o azul do PSDB e favoreceu o vermelho do desafeto PT?

Estas são algumas dúvidas que pairam na mente de quem está pensando no fato ocorrido que na verdade não mudará a opinião da maioria dos brasileiros sobre o juiz Sérgio Moro, mas poderia influenciar a votação no candidato tucano.

 

Moro declarou que teve dúvida se usava a gravata de cor vermelha ou azul para o evento do Lide. Foto: reprodução redes sociais

 

O Lide é um grupo de líderes empresariais, cujo mentor é justamente Doria, que está afastado devido suas pretensões políticas. Mas não estamos falando de líderes partidários e sim de pessoas com altíssimo poder financeiro e também político. Muito, mas muito distante mesmo da realidade do povo brasileiro. Note-se, apenas como uma ressalva, que a entrega do prêmio foi em Nova York.

Sobre Moro ter caído em uma armadilha tucana, é bem difícil. Não se poderia afirmar o mesmo sobre a sua vaidade, que compete a ele administrar. E, ninguém teria nada com isso, se ele não representasse o que representa.

A cor da gravata, por fim, parece mais um caso estético que se tornou fortuito. Cabe explicar que Moro falou em público sobre a escolha do vermelho para aquela noite. Por que azul ou vermelha e não outra cor? A dúvida e a escolha reforçam certa irreverência desafiadora, mas para entendê-la melhor teríamos de perguntar diretamente ao juiz mais querido do Brasil.

Vamos ficar com o que interessa de fato

Moro já é uma celebridade nacional e internacional. Por uma questão ética, poderia ter declinado do prêmio. Aceitar a indicação neste ano eleitoral no Brasil – onde a fervura dos acontecimentos factuais contra a classe política é notória e a atuação do magistrado como liderança na Operação Lava Jato se faz tão presente – não pegou bem. Posar ao lado do bem cotado candidato ao Palácio dos Bandeirantes, João Doria (PSDB), deve ter sido uma decisão difícil para quem preza pela imagem, já que não se pode admitir sua inocência – no sentido da falta de malícia.

De qualquer forma Moro poderia ter evitado fornecer munição aos que são contrários à Operação Lava Jato. Em 2016, o juiz federal brasileiro já havia sido escolhido pela revista Time como personalidade e figurado na lista de grandes líderes mundiais da revista Fortune, ambas publicações americanas. O atual chairman e presidente internacional do Lide, o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do governo Lula, Luiz Fernando Furlan, chegou a comentar que Moro já é reconhecido em NY pelo seu “trabalho icônico”.

Está muito bem, o juiz brasileiro. Portanto, com sua experiência, deve ter pesado as consequências desse prêmio num momento tão conturbado.

 

Posar ao lado de Doria pode ser bobagem ou não, depende da interpretação de cada um. Foto: reprodução Twitter

 

Posar ao lado de Doria não se trata necessariamente de uma preferência política; não significa dizer que daqui em diante os tucanos terão privilégios junto ao juiz, que já demonstrou seriedade e idoneidade; pela sua coragem Moro está pagando um alto preço pessoal. Trata-se apenas de reservar-se o direito de não estar em um lugar ou ao lado de pessoas que podem levar a entendimentos dúbios e questionamentos desagradáveis devido seu papel contra a corrupção.

O que se discute, é a manutenção de sua discrição, uma das características que o levaram a admiração nacional. Atitudes ponderadas, decisões céleres e a resposta que está dando à sociedade brasileira – pelo fim da corrupção no País – o transformaram em celebridade mundial.

O ego e a vaidade traem até os mais fortes. O cidadão Sergio Fernando Moro, como uma pessoa comum, sujeito a erros e acertos, aos holofotes e às mínimas vontades às quais estão suscetíveis os homens, também pode ser traído ou se deixar levar quando bem entender.

Como ícone que se tornou em seu país e no mundo, a cautela não o acompanhou na noite de gala em NY. Certamente, se expôs ao lado de forças empresariais do mais alto escalão, onde o poder e os comprometimentos estão na estratosfera. Mencione-se o próprio ex-prefeito João Doria e sua promessa de cumprir os quatro anos de mandato à frente da Prefeitura de São Paulo e agora lançar-se ao Governo, antes ainda foi alçado a pré-candidato à Presidência da República.

Homenagem fora de hora

A homenagem dos empresários ao paladino magistrado poderia ter sido deixada para o ano que vem ou alguma outra data, na qual sua presença não comprometesse o já comprometido processo eleitoral brasileiro. Ao ascender tão alto, posar para a foto com João Doria, mesmo pela convenção de o último vencedor do prêmio fazer a entrega ao próximo. Doria recebeu o título em 2017 e seria natural que ele entregasse a premiação ao juiz Moro.

Não se trata de condenar a elite, nem depreciar os menos favorecidos pelas finanças, trata-se de equilibrar a visão para a repercussão de tal fotografia e o que isso acarreta em termos de poder para quem. Oportunistas, os detratores da Lava Jato chamaram Moro de garoto-propaganda do tucano Doria e colocaram lenha na fogueira das eleições de outubro.

O prêmio de Personalidade do Ano (Person of the Year Awards), entregue grandioso evento na noite de 16 de maio, no Museu de História Natural em Manhattan, existe há 48 anos. Anualmente, são escolhidos dois nomes (um brasileiro e um estadunidense) para receberem o título da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Brazilian-United States Chamber of Commerce). Em 2018, os empresários que a compõe premiaram Michael Bloomberg – ex-prefeito de Nova York e dono de uma das mais expressivas fortunas dos americanas. Ao seu lado, o brasileiro Sérgio Fernando Moro, juiz federal da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba que se notabilizou pela liderança nos julgamentos da Operação Lava Jato.

Brasileiros rebaixam a confiança nas instituições. Imagem: aloart

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