Sexta-feira, 18 de setembro de 2015, às 03h40 – atualizado às 08h23


O anúncio feito na África do Sul e EUA, após a exumação dos ossos de 15 indivíduos que viveram há 3 milhões de anos reabre a discussão na busca de detalhes, cada vez mais surpreendentes, sobre a evolução dos seres humanos.

Gerson Soares

Há uma semana, o mundo passou a conhecer a história do Homo naledi que começou a ser explorada por uma equipe de cientistas entre Novembro de 2013 e Março de 2014, mas só agora revelada amplamente. O anúncio foi feito no dia 10 de setembro, pela Universidade Witwatersrand (Wits University) da África do Sul, National Geographic Society dos Estados Unidos e pelo Departamento de Ciência e Tecnologia/Fundação Nacional de Pesquisa da África do Sul [South African Department of Science and Technology/National Research Foundation (DST/NRF)].

 

Reconstituição de como teria sido a face do Homo naledi. Foto: National Geographic / reprodução

Reconstituição de como teria sido a face do Homo naledi. Foto: Mark Thiessen / National Geographic / AFP

 

A descoberta desta nova espécie de hominídeos, com mais de 1.550 elementos fósseis compostos de ossos e dentes, é a maior descoberta já feita na África. Foram encontrados na caverna Rising Star, a 50 km de Johanesburburgo – principal núcleo urbano, industrial, comercial e cultural da África do Sul. O anúncio para a comunidade científica e ao mundo indica que os achados foram colocados intencionalmente em uma câmara. Esse tipo de comportamento, até então só era atribuído ao Homo sapiens (humanos anatomicamente modernos que se originaram na África há cerca de 200 mil anos, atingindo o comportamento atual por volta de 50 mil anos).

“Com quase todos os ossos do corpo representado várias vezes, o Homo naledi é praticamente o membro fóssil mais conhecido em detalhes de nossa linhagem”, disse Lee Berger, professor e pesquisador no Instituto de Estudos Evolutivos da Universidade de Witwatersrand e explorador residente da National Geographic, que liderou as duas expedições que descobriram e recuperaram os fósseis. Impressiona a conservação dos ossos encontrados: crânio, dentes e pés parecem com o de uma criança humana, mas eram do esqueleto de uma mulher em idade avançada. “Vi algo que eu jamais pensei que fosse ver em toda a minha carreira”, surpreendeu-se Berger. “Foi um momento para o qual, mesmo depois de 25 anos de paleoantropologia, eu não estava preparado”, falou à BBC.

“Este é um achado tremendamente significativo”, disse Terry Garcia, diretor de ciência e exploração da National Geographic Society . “Quando National Geographic recebeu um telefonema de Lee Berger relatando a descoberta inicial dos fósseis, nós imediatamente nos comprometemos a apoiar este esforço notável.”

 

Fósseis: ossos de diversos indivíduos naledi que juntos formaram o conjunto da parte central da imagem. Foto: Lee Roger Berger research team (http://elifesciences.org/content/4/e09560) via Wikimedia Commons

Fósseis: ossos de diversos indivíduos naledi que juntos formaram o conjunto da parte central da imagem. Foto: Lee Roger Berger research team (http://elifesciences.org/content/4/e09560) via Wikimedia Commons

 

Homo naledi uma nova espécie

A espécie foi batizada com esse nome em homenagem ao local onde os fósseis foram encontrados: naledi significa estrela na língua africana sotho e Homo é o mesmo gênero ao qual pertencem os humanos modernos. “No geral, o Homo naledi parece com um dos membros mais primitivos do nosso gênero, mas também tem algumas características surpreendentemente semelhantes a humanos, suficiente para colocá-lo no gênero Homo”, disse John Hawks, da Universidade de Wisconsin-Madison, EUA, um dos autores do artigo que descreve a nova espécie.

O cérebro do Homo Naledi era do tamanho de uma laranja, aproximadamente 500 centímetros cúbicos, considerado minúsculo, quase a mesma dimensão do de um gorila. Seu corpo esguio tinha 1,5 metros de altura e 45 quilos. Com dentes e crânios semelhantes aos do Homo habilis (2,2 milhões a 780 mil anos atrás), os ombros e a pélvis são mais parecidos com os dos macacos. Devido essas características, o hominídeo está sendo considerado como “ponte entre os primatas bípedes e os humanos modernos”, disse Berger em entrevista à BBC. “Nós vamos saber tudo sobre essa espécie”, acrescentou.

“As mãos sugerem capacidade de uso de ferramentas”, disse Tracy Kivell da Universidade de Kent, Reino Unido, que fez parte da equipe que estudou este aspecto da anatomia de H. naledi. “Surpreendentemente, H. naledi tem dedos extremamente curvos, mais curvos do que qualquer outra espécie de hominídeo ancestral, o que demonstra claramente habilidades para escalada.”

Essa característica contrasta com os pés, que são “virtualmente indistinguíveis dos humanos modernos”, disse o Dr. William Harcourt-Smith, da Lehman College, Universidade da Cidade de Nova York, e do Museu Americano de História Natural, que liderou o estudo dos pés de H. naledi. Seus pés, combinados com suas longas pernas, sugerem que a espécie era bem adaptada para caminhadas de longa distância. “A combinação de características anatômicas em H. naledi o distingue de qualquer espécie previamente conhecida”, juntou Berger.

Caley Orr da Universidade do Colorado e coautor do artigo dedicado aos resultados da análise dos fósseis propriamente ditos, esteve a cargo do estudo das mãos e acrescentou. “A mão tem características de tipo humano que lhe permitiam manipular objetos, mas ao mesmo tempo tem os dedos curvos, bem adaptados para subir em árvores.”

 

Ilustração da câmara onde foram encontrados os fósseis do Homo naledi. Ilustração: Paul H. G. M. Dirks et al (http://elifesciences.org/content/4/e09561) via Wikimedia Commons. Tradução para o português: Alô São Paulo

Ilustração da câmara onde foram encontrados os fósseis do Homo naledi. Ilustração: Paul H. G. M. Dirks et al (http://elifesciences.org/content/4/e09561) via Wikimedia Commons. Tradução para o português: Alô São Paulo

 

Podendo ser chamado de “homem das estrelas”, foi necessário obter a ajuda de verdadeiras astronautas subterrâneas para chegar até a câmara onde estavam os fósseis dos Homo naledis. Seis mulheres jovens e pequenas desceram pela única via de acesso, uma fissura vertical de 12 metros, onde a largura não passava de 20 cm em alguns trechos. “A câmara que contém os fósseis está a uns 30 metros de profundidade e a cerca de 80 metros de distância, em linha reta, da entrada atual mais próxima da câmara”, foi descrito num dos artigos da eLife.

De acordo com as informações conhecidas até agora, a idade dos fósseis ainda não foi determinada, mas é possível que esses ancestrais humanos tenham vivido cerca de 3 milhões de anos atrás e representem o primeiro grupo do gênero Homo que andou na Terra. A descoberta, ainda causa surpresa e está fazendo os cientistas repensarem a história da evolução humana.

Com informações internacionais da National Geographic, eLife, Público de Portugal e da BBC.

A descoberto de um novo ancestral humano: Homo Naledi (vídeo exclusivo)

New Human Ancestor Discovered: Homo naledi (EXCLUSIVE VIDEO)

 

Compreender a composição química dos alimentos e como ela influencia na qualidade sensorial e nos efeitos biológicos é uma das propostas do Centro de Pesquisa em Alimentos. Foto: Wikimedia Commons

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