Sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016 às 21h18
Em artigo publicado no The Guardian, Brasil é acusado de negligente, pela proliferação do Aedes aegypti. Em 2014, o Instituto Osvaldo Cruz (Fiocruz) já alertava para uma epidemia, mas somente após a incidência de microcefalia registrada na região Nordeste é que as autoridades intensificaram suas ações.
Gerson Soares
O mosquito já estava famoso por transmitir a dengue, quando as notícias o elevaram ao patamar de transmissor de outra doença, a chikungunya; não demorou e o pequeno inseto, que se reproduz aos milhares, ganhou ainda mais notoriedade ao ser também o vetor do zika, um vírus que entre outras moléstias é capaz de provocar microcefalia nos bebês ainda em gestação. Esse fato, mais a proximidade das olimpíadas, chama a atenção mundial para o Brasil.
Na terça-feira, a notória negligência do governo brasileiro que há incontáveis décadas tenta mascarar as desigualdades no país, como no tocante à saúde da população, foi tema de matéria no The Guardian – diário britânico. O artigo, escrito pela jornalista e documentarista brasileira Eliane Brum, descreve o mosquito como o “maior delator”, superando as delações premiadas da Operação Lava Jato. “Com menos de um centímetro está chamando a atenção para as doenças crônicas que ainda não foram derrotadas por uma das 10 maiores economias do mundo”, lembra. Aponta para o frágil sistema de saúde e também para o fato de que menos de 50% da população tenha acesso à coleta de esgoto – uma das imagens que ilustram a matéria mostra a vida nas palafitas do Recife (assista um vídeo sobre as palafitas).
O jornal inglês evidencia os negócios entre os grandes empreiteiros, lembra o enfraquecimento do pedido de impeachment de Dilma Roussef e fala do atoleiro em que se encontra a economia, citando também o fiasco da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos. Este último, evento ainda por se realizar, causa dúvidas sobre o número de turistas esperados, que segundo o governo brasileiro deve chegar a 400 mil. Tudo devido a “um inseto de pernas longas”, que atualmente ocupa os destaques dos noticiários. O The Guardian, ainda menciona o carnaval, “um festival que permanece praticamente intocado pelas notícias ruins, e durante o qual os brasileiros satirizam e riem de questões que irão fazê-los chorar durante todo o resto do ano”.
Em São Paulo, o movimento Parque Augusta Já! denunciou há seis dias que o local está infestado de larvas do mosquito Aedes aegypti e divulgou vídeos no Youtube, que comprometem os proprietários do terreno. O parque foi criado em 23 de dezembro de 2013 pelo prefeito Fernando Haddad, mas virou alvo de disputas entre construtoras (Setin e Cyrela) e a população que não quer prédios nos 24 mil metros quadrados que formam o parque. O terreno está localizado entre as ruas Augusta, Caio Prado, Marques de Paranaguá e Consolação.
Ao iniciarmos esta reportagem, no final da tarde de hoje, conversamos com a assessoria de comunicação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, órgão responsável pelos parques na cidade. Em seguida, entramos em contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura para falar sobre os vídeos e a situação no Parque Augusta. De acordo com o órgão municipal a responsabilidade pela conservação e manutenção desse local está a cargo das empreiteiras Cyrela e Setin que devem ser notificadas e poderão ser multadas, caso não resolvam os problemas mostrados no vídeo.
Diante da gravidade que envolve a proliferação do Aedes aegypti, em que até mesmo o exército está sendo convocado para o combate ao mosquito, a repercussão internacional quanto a atuação e a responsabilidade do governo brasileiro está sendo questionada, desde as palafitas do Recife, passando pelas centenas de casos confirmados de microcefalia, até o Parque Augusta em São Paulo, onde as larvas do mosquito proliferam.
Em nota, a Subprefeitura Sé informou que na próxima semana irá vistoriar o local e, se identificar irregularidades, o proprietário será notificado a sanar os problemas.
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