Quinta-feira, 17 de maio de 2018 às 18h19


O Conselho de Segurança da ONU, em reunião de emergência na terça-feira (15), pediu calma na Faixa de Gaza após o assassinato de dezenas de palestinos na segunda-feira (14) durante protestos perto da fronteira com Israel.

“Para a população de Gaza, ontem foi um dia de tragédia”, disse o coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, aos membros do Conselho.

De acordo com a imprensa internacional, ao menos 60 pessoas, incluindo seis crianças, foram assassinadas e mais de 1,3 mil ficaram feridas na segunda-feira no enclave palestino ocupado por Israel, cujas tropas utilizaram munição letal, balas de borracha e gás lacrimogêneo contra manifestantes.

 

Palestinos feridos em protestos de 14 de maio de 2018 recebem atendimento médico em Gaza. Foto: OCHA

 

“Israel tem a responsabilidade de calibrar seu uso da força, para não usar força letal, exceto como último recurso, sob ameaça iminente de morte ou ferimentos graves”, disse Mladenov. “Deve proteger suas fronteiras da infiltração e do terrorismo, mas deve fazê-lo proporcionalmente”.

Ele também pediu que o Hamas, grupo militante que controla Gaza, não use os protestos como um desvio para realizar ataques violentos na fronteira e provocar as forças israelenses. “Seus agentes não devem se esconder entre os manifestantes e arriscar a vida de civis”, disse.

Os protestos chamados de “Grande Marcha do Retorno” começaram em 30 de março, se intensificando na terça-feira (15) devido ao “Al-Nakba” ou “A Catástrofe”, como os palestinos lembram o êxodo em massa durante a guerra de 1948-1949, que envolveu a criação do Estado de Israel.

Mladenov disse que como parte da marcha e para protestar contra a transferência da embaixada norte-americana de Tel Aviv para Jerusalém, estimados 35 mil palestinos reuniram-se perto da cerca da fronteira entre Gaza e Israel, e centenas se uniram aos protestos em cidades da Cisjordânia, como Ramallah, Belém, Hebron, Jericó, Nablus e Jerusalém Oriental. Não houve registros de pessoas feridas ou assassinadas nessas localidades.

O oficial da ONU também disse que o Hamas e outros grupos militantes se engajaram em atos violentos e provocativos, incluindo a instalação de explosivos improvisados no perímetro da cerca, que detonaram perto de um veículo israelense.

As forças de segurança israelenses, de acordo com Mladenov, realizaram 18 ataques aéreos e bombardeios na direção de 26 alvos do Hamas em resposta aos protestos.

“Esse ciclo de violência em Gaza precisa acabar”, disse o oficial da ONU. “Se não acabar, explodirá e arrastará todos na região para mais uma confrontação mortífera”.

“A comunidade internacional precisa agir e evitar a guerra”, enfatizou.

 

Protestos na Faixa de Gaza no dia 14 de maio de 2018. Foto: OCHA

 

Durante o debate que se seguiu, Nikki Haley, embaixadora dos EUA na ONU, disse que a violência foi generalizada não apenas em Gaza, mas em todo o Oriente Médio, e em defesa de Israel disse que “o uso de pesos diferentes são comuns neste Conselho”.

Ela disse que o Conselho deveria examinar o papel do Irã nos recentes ataques às posições israelenses nas colinas de Golã e o lançamento de mísseis pelo que ela chamou de forças “proxy” (por procuração) iranianas no Iêmen na Arábia Saudita. Segundo ela, “os terroristas do Hamas, apoiados pelo Irã, incitaram ataques contra as forças de segurança e infraestrutura israelenses”.

Haley argumentou que a transferência da embaixada norte-americana para Jerusalém refletia “a realidade”, e que a cidade serve como capital de Israel desde a fundação do Estado, sendo a antiga capital do povo judeu.

“Não há acordo de paz plausível sob o qual Jerusalém deixaria de ser a capital de Israel. Reconhecer essa realidade torna a paz mais viável, não menos”, disse ela, acrescentando que seu país está preparado para apoiar negociações e um acordo de paz em todos os sentidos. “Uma paz na qual pessoas de todas as religiões sejam livres para adorar em Jerusalém”.

Membros europeus do Conselho, no entanto, pediram de forma unânime um acordo negociado entre israelenses e palestinos sobre o status de Jerusalém.

A posição do Reino Unido “é clara e duradoura”, disse a embaixadora britânica da ONU, Karen Pierce. “Jerusalém deveria ser a capital compartilhada dos Estados israelense e palestino”.

Ela também enfatizou a necessidade de uma investigação independente e transparente para “estabelecer fatos” envolvendo as mortes de segunda-feira, e processar os responsáveis, incluindo determinar se o uso da força por parte de Israel estava de acordo com a lei internacional.

Também dirigindo-se ao Conselho, Riyad Mansour, observador permanente do Estado da Palestina, descreveu os eventos de segunda-feira como um “massacre odioso”, e a ocupação israelense em território palestino como a principal fonte de tensão.

A provocativa transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém violou as resoluções do Conselho, disse ele, enfatizando que nenhum país tem o direito de pôr em perigo o território palestino sob ocupação, especialmente porque o status de Jerusalém deve ser determinado por meio de negociações.

“Quantos palestinos precisam morrer antes de vocês agirem?”, questionou, perguntando-se como os membros do Conselho reagiriam se manifestantes desarmados tivessem sido mortos em circunstâncias semelhantes em seus próprios países.

“Nosso povo esperou por muito tempo. Não podemos mais esperar pelo fim dessa injustiça ”, disse ele.

Danny Danon, embaixador de Israel na ONU, disse que o país deixou Gaza em 2005, mas o enclave nunca atingiu seu potencial porque o Hamas assumiu o controle depois das eleições de 2006. Em vez de investir em educação, infraestrutura e economia, o grupo gastou seus recursos com o objetivo de “aterrorizar Israel”, disse ele.

A comunidade internacional, com algumas poucas exceções, não fez nada para impedir os palestinos de aterrorizar Israel, acrescentou.

O embaixador Danon disse que a alegação dos palestinos de que a transferência da embaixada norte-americana teria provocado as manifestações era apenas mais uma “desculpa” para a violência contra Israel. Ele disse que o Conselho foi obrigado a “denunciar mentiras”, condenar a violência do Hamas e “colocar-se do lado certo da história”.

O presidente dos EUA Donald Trump. Foto: By The White House [Public domain], via Wikimedia Commons

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