Quinta-feira, 7 de abril de 2016 às 11h34


As mudanças climáticas do planeta estão influenciando de maneira definitiva as atividades no planeta. Muitas dessas alterações foram provocadas pela ação do homem, que agora precisa revertê-las, mas principalmente entender como ocorrem. Leia mais uma reportagem sobre o assunto, desta vez focando um dos mais intrincados biomas da Terra.

Peter Moon | Agência FAPESP – O Pantanal, a maior planície alagada do mundo, corre o risco de, em 2100, ver as suas temperaturas médias anuais elevadas em até 7 °C. Tamanho aumento de temperatura implicaria uma redução sensível no regime de chuvas da região, principalmente no inverno. Tais mudanças climáticas teriam impacto sobre a evaporação da região e a própria existência do Pantanal como o conhecemos.

 

Modelos também sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, a região poderá ter redução na quantidade de chuva de 30% a 40% (foto: Wikimedia Commons)

Modelos também sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, a região poderá ter redução na quantidade de chuva de 30% a 40% (foto: Wikimedia Commons)

 

Essas projeções foram estimadas a partir da aplicação ao Pantanal dos modelos climáticos globais do 5º Relatório de Avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2014.

O trabalho “Climate Change Scenarios in the Pantanal”, publicado no livro Dynamics of the Pantanal Wetland in South America, é de autoria da equipe do hidrologista e meteorologista José Antonio Marengo Orsini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em Cachoeira Paulista, e tem apoio da FAPESP e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas – que, por sua vez, é apoiado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O Pantanal tem uma área de 140 mil km², 80% da qual fica no Brasil, nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. É uma região semiárida. Não fosse o enorme fluxo anual de água para a região, o bioma seria tão seco quanto a caatinga nordestina. Isso não ocorre porque o Pantanal é um grande reservatório que armazena as águas que escoam dos planaltos circundantes.

Nos meses de novembro a março, na estação chuvosa, os rios transbordam, inundando até 70% da planície. É quando se formam os banhados, os lagos rasos e quando os pântanos incham. Tudo isso faz com que, nas áreas mais elevadas, surjam ilhas de vegetação, um refúgio para os animais. Grandes áreas permanecem inundadas por quatro a oito meses no ano, com uma cobertura de água que varia de uns poucos centímetros até 2 metros.

Durante a estação seca, de abril a setembro, as águas refluem para a calha dos rios e os banhados são parcialmente drenados. As águas antes represadas seguem seu curso através das bacias dos rios Paraguai e Paraná, em direção ao rio da Prata e ao Atlântico Sul. Deixam em seu lugar uma camada de sedimentos férteis que impulsionam o crescimento da vegetação e das pastagens.

Esse é o retrato do Pantanal hoje. Nele caem anualmente entre 1.000 e 1.250 milímetros de chuva. A temperatura média anual é 24 °C – sendo que a temperatura máxima, alguns dias no ano, atinge os 41 graus. O que as projeções climáticas de Marengo indicam para o futuro?

O 5º Relatório de Avaliação do IPCC projeta um aumento na temperatura média global em 2100 de 3,7º C a 4,8°C. Quando seus parâmetros são usados para analisar as variáveis climáticas específicas do Pantanal, o resultado impressiona. Até 2040, as temperaturas médias devem subir de 2º C a 3 °C. Em 2070, o aumento poderá ser de 4ºC a 5°C, atingindo em 2100 uma temperatura média 6 °C mais elevada do que a atual.

Embora haja muita incerteza com relação às projeções pluviométricas, os modelos sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, o Pantanal poderá experimentar uma redução na quantidade de chuva de 30% a 40%.

A associação entre temperaturas mais elevadas e menos chuva implicará um aumento da evaporação no Pantanal. Dependendo da temperatura, volumes consideráveis de água represada poderão desaparecer, o que reduzirá a área total alagada e a quantidade de água nas porções de terra que permanecerão alagadas. “Um aumento da temperatura média de 5º C a 6 °C implicaria em deficiência hídrica, o que afetaria a biodiversidade e a população”, observa Marengo.

As consequências para a fauna e a flora poderão ser severas. Espécies vegetais pouco adaptáveis a um grau de umidade inferior ao atual poderão desaparecer ou migrar para outras regiões. Em seu lugar, germinariam outras espécies, que preferem climas mais secos.

A alteração na vegetação implicaria diretamente as populações de invertebrados e de vertebrados herbívoros – capivaras, antas que delas dependem (mas também o gado das fazendas) – , numa reação em cadeia que afetaria todos os nichos da cadeia alimentar, até atingir os predadores de topo, como os felinos, os jacarés e as aves de rapina.

Muito embora Marengo faça questão de salientar que as incertezas com relação às mudanças climáticas ainda são elevadas, especialmente no quesito do regime pluviométrico, uma coisa é certa: as temperaturas globais estão aumentando e o mesmo acontecerá no Pantanal.

Como aquela planície alagada fica no centro da América do Sul, portanto longe da influência marítima que poderia ajudar a amenizar o clima, o aumento das temperaturas no Pantanal tende a ser mais dramático. “O dia mais quente do ano pode vir a ser até 10 °C mais quente do que hoje”, diz Marengo.

Se atualmente, nos dias mais quentes do verão, a temperatura no Pantanal passa fácil dos 40 °C, estamos falando em temperaturas máximas em torno ou superiores aos 50 °C. É temperatura de deserto. A maioria das plantas suporta pontualmente um calorão desses. Pontualmente.

São Paulo. Foto: Flickr/Márcio Cabral de Moura

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Região do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu. Foto: © WWF-Brasil

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