Terça-feira, 8 de agosto de 2017 às 13h49


De cada mil nascimentos no estado de São Paulo, dois bebês terão pé torto congênito (PTC). A afirmação é do ortopedista pediátrico Alexandre Francisco de Lourenço, presidente do Departamento Científico de Ortopedia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Ele conta também que metade das crianças com o problema apresenta alterações nos dois pés e que a prevalência entre os meninos é o dobro do que nas meninas.

O termo PTC é usado para nomear o pé equinocavovaro, deformidade sem causa conhecida. Além do membro voltado para dentro, a batata da perna é um pouco menor, mais fina, e existe uma alteração vascular. Nos casos mais graves, o pé pode ficar até um número menor. “Sabemos que existe um componente genético, mas, na maioria dos casos, o problema é único na família”, informa o médico.

Existem várias outras alterações que podem estar associadas ao PTC, e por isso é necessário que seja feita uma avaliação completa para verificar se se trata de uma deformidade isolada ou não. É possível constatar que o bebê tem problema ainda na barriga da mãe, com a ultrassonografia fetal. “Nesse momento, é preciso orientar a família de que essa deformidade pode ser tratada com gessos, de forma indolor, sem cirurgia, e a criança vai ficar boa”, confirma o doutor Alexandre.

 

Existem várias alterações que podem estar associadas ao PTC. Foto: divulgação / SPSP

 

O grau de deformidade varia segundo a classificação da Escala de Pirani, sendo o zero o pé normal e o seis a alteração mais grave. “O tratamento deve começar nos primeiros dias de vida e não usamos nenhum tipo de exame, porque os ossinhos são cartilagens. Alguns médicos indicam uma ultrassonografia do quadril para ver se existe uma outra alteração chamada displasia de quadril associado. Mas a maior parte dos casos não tem”, ressalta.

Nos últimos anos, o tratamento mudou muito devido à maior divulgação da técnica desenvolvida pelo médico catalão Ignacio Ponseti. Esse procedimento consiste em engessar o pé e a perna até a coxa do bebê durante cinco semanas, trocando o gesso semanalmente.

“Com a cirurgia, a gente corrigia, mas a deformidade voltava. Com esse método do Ponseti, isso não acontece. Gradualmente vamos puxando o pé para o lugar correto e fazendo a correção. Todos os elementos da parte interna do pé que estão endurecidos vão se alongando. Antes se usava gesso por seis a oito meses e se fazia a cirurgia”, explica o ortopedista.

Embora seja um método considerado conservador, em cerca de 90% das vezes há a necessidade de se fazer uma pequena cirurgia para corrigir o equinismo (tendência para ficar na ponta do pé). “Então fazemos uma tenotomia, um corte no tendão de Aquiles para soltá-lo se estiver rígido, e colocamos o último gesso, que deve ficar na criança por três semanas. Depois disso, o bebê deverá usar um aparelho ortopédico para manter a correção obtida. Esse aparelho, órtese de abdução, consiste de duas botinhas conectadas por uma barra e que deve ser usada o dia inteiro (pode tirar apenas para o banho) durante três meses”, informa o doutor.

Após esse período, a criança só vai usar essa órtese de abdução até os 3 ou 4 anos durante a noite (12h), período em que ela aprende a usar o músculo e, assim, manter a correção. “Após o tratamento, a criança estará curada e poderá praticar todas as atividades físicas, sem restrição, e usará calçados normais”, finaliza o doutor Alexandre.

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