14 de junho de 2014 às 7h55 - atualizado às 14h25

 

Gerson Soares

Os mitos arturianos surgiram a partir do século XII e “o maior rei da Grã-Bretanha” teve sua trajetória ligada a um sábio: o druida Merlin. Arthur, os Cavaleiros da Távola Redonda e o mago Merlin, ocupam os mais altos patamares dos contos e lendas britânicos.

Hoje arqueólogos constatam a existência de um cavaleiro que uniu os bretões. Essas descobertas foram a base do filme Rei Arthur de Antoine Fuqua, consagrado diretor. A produção tenta reproduzir como teria sido a saga de Arthur, seus cavaleiros e o conselheiro Merlin, conhecido contendor da invasão romana. Mesmo nesta versão, uma das melhores dentre as várias existentes, os Cavaleiros da Távola Redonda estão norteados de aventuras como nos contos arturianos.

Nas lendas brasileiras, temos o Boto – peixe que se transforma em belo rapaz e seduz donzelas nas cercanias do Amazonas –, a Yara – mãe das águas, igarapés e rios – que ao contrário deste atrai os homens e dentre tantos personagens do imaginário caboclo, o peralta menino de uma perna só que segura na boca um cachimbo, conhecido como Saci-pererê, que entre outras diabruras é responsável por amarrar os rabos dos cavalos uns aos outros para depois espantá-los e ver a algazarra que isso causa, a fim de se divertir. Segundo a lenda brasileira, só há uma maneira de prendê-lo, arrancando de sua cabeça seu gorro vermelho.

Nessa linha do imaginário popular os antigos povos do que hoje conhecemos como Europa, de forma geral, também criaram suas lendas e possuem seus personagens mitológicos. Na Grã-Bretanha, Merlin, sir Lancelot, sir Percival e lady Guinevere (inglês) ou Gwenhwyfar (em galês), assim como os Cavaleiros da Távola Redonda, ocupam altos patamares dos contos. o Rei Arthur, mito ou realidade, sempre foi venerado.

Diversos poetas europeus, baseados na Mitologia Celta, converteram Arthur e Merlin em protagonistas e símbolos medievais. Além deles, vários escritores contribuíram para a perpetuação desse ser lendário, dentre eles Geoffrey Ashey – um dos precursos das lendas arturianas, em sua obra “King Arthur’s Avalon” –, Elizabeth Jenkins em “Os mistérios do Rei Arthur” e ainda Chrétien de Troyes, que em 1.190 escreveu “O Conto do Graal”, tido como o início do mitológico Rei Arthur.

A respeito de Merlin, considerado uma das figuras mais místicas do folclore britânico, os primeiros registros são do começo do século X, onde consta como mago, profeta e conselheiro do renado de Arthur. Merlin também é conhecido como Myrddin ou Mirlo*, nome de um pássaro. Ligado à natureza como eram na realidade os druidas, o mago tinha a fama de vagar pelas florestas como um lobo. Teria sido ele quem promoveu o torneio para a retirada da espada encravada na pedra, a qual somente o escolhido para ser o grande rei da Bretanha conseguiria o feito. Essa espada era Caliburnius nas línguas antigas e existem lendas específicas para ela, que teria sido perdida, mas retornou às mãos de Arthur como Excalibur e réplicas de como teria sido em sua glória, ainda hoje são comercializadas no Reino Unido. Walt Disney também produziu um de seus melhores desenhos baseados nessa versão da lenda, e a partir dele foram criados livros infantis de grande sucesso.

A lendária Excalibur seria entregue ao rei por Viviane, “A Dama do Lago”. As lendas arturianas são um intrincado de histórias ou estórias, passadas de geração em geração. Viviane, a sacerdotisa de Avalon, tinha como aprendiz Morgana, meia irmã de Arthur, considerada uma fada do bem. E aqui inicia mais uma lenda revivida por atores e escritores consagrados nas magníficas versões em filmes e livros. Esses contos foram alimentados através dos séculos e a escritora Marion Zimmer Bradley também ajudou a imortalizá-las em seu best-seller “As Brumas de Avalon”. Considerado um dos principais manuscritos da Idade Média e uma obra grandiosa sobre o Rei Arthur. Outra obra importante é o livro The History of the Kings of Britain (História dos Reis da Bretanha) de Geoffrey of Monmouth – escritor, historiador e clérigo, professor de Oxford (Inglaterra) –, concluído em meados de 1.136.

As lendas arturianas têm sido exploradas com brilhantismo, apesar de sempre existirem as críticas, pela indústria cinematográfica. Os filmes “As Brumas de Avalon”, “Rei Arthur”, são exemplos relativamente recentes, além da saga incomparável de “O Senhor dos Anéis” – que apesar de ficcional e grandiosa se deixa levar em alguns momentos pelo fascínio de Arthur, sua realeza e liderança. Histórica e cientificamente pouco se pode afirmar acerca desse personagem. Atribuído a ele, consta um rei que governou a Grã-Bretanha na primeira metade do século VI, capaz de reagrupar diversos reinos após a retirada romana. Antes disso, os romanos fundaram Londinium, hoje conhecida como Londres, capital da Inglaterra.

No seu livro “Os Templários”, editado em 1972, o escritor Adelino de Figueiredo Lima, cita o Rei Arthur, a Ordem do Santo Graal e Titurel, Cavaleiro da Távola Redonda, que desejava construir um tempo onde depositar o santo cálice, usado por Jesus na última ceia com os Apóstolos, e que teria chegado às ilhas britânicas pelas mãos de José de Arimatéia.

As verdades, mitos, ciência, esoterismo que envolvem o velho continente e seus povos – amantes da liberdade na mais profunda acepção da palavra, que lutaram para conquistá-la e trabalham até hoje para mantê-la –, são fontes inesgotáveis de muitos estudos, pesquisas e histórias fascinantes.

Ilustração da espada Excalibur que norteia lenda do Rei Arthur, portado por Elijah Howell em seu artigo sobre o assunto. WordPress/2012.

Capa do livro The Mists of Avalon (As Brumas de Avalon)Marion Zimmer Bradley.

Imagem do filme King Arthur (Rei Arthur) dirigido por Antoine Fuqua, rodado na Irlanda. Nesta imagem o ator Clive Owen (Arthur) e Keira Knightley (Guinevere). Foto: Divulgação

Grande Hall do Castelo de Winchester, construído em 1222. Na parede ao fundo, está a mesa redonda, construída provavelmente no primeiro reinado de Edward, por volta de  1280, e pintado no início do reinado de Henrique 8 º em 1510. Foto: Graham Horn

* Nota sobre comparação de Gandalf e Merlin

 

J.R.R. Talkien – Escritor aclamado, filósofo e professor universitário em Oxford - UK. Nomeado Comandante da Ordem do Império Britânico pela Rainha Elizabeth II.

J.R.R. Talkien – Escritor aclamado, filósofo e professor universitário em Oxford - UK. Nomeado Comandante da Ordem do Império Britânico pela Rainha Elizabeth II.

Nota do autor deste artigo

* Profundo conhecedor das lendas celtas, nórdicas e seus antigos idiomas, o Linguísta e escritor J.R.R. Talkien, criador da saga The Lord of Rings (O Senhor dos Anéis), também deve ter bebido na fonte dos mistérios arturianos, nem que para saciar um breve momento de sede lendária ou por estar no seu próprio imaginário, fazendo uma homenagem ao Rei Arthur, quando chegou ao final de sua maravilhosa obra que na verdade ou de certa forma, inicia-se com o Silmarillion (considerada sua maior obra, publicada postumamente por seu filho Christopher J. R. Talkien), sendo The Lord of Rings, o final do seu grande livro se somarmos a obra completa iniciada durante as batalhas da I Guerra Mundial da qual o escritor tomou parte.
Lembrando o idioma inglês antigo dominado por Talkien – professor e considerado um dos maiores especialistas de anglo-saxão na Oxford University –, o mágico Gandalf, de “O Senhor dos Anéis”, era chamado de Mithrandir e Olórin. Note a semelhança com o nome do mago Merlin (Olórin) e Myrddin (Mithrandir).

Stephen Dillane, interpreta Merlin no filme Rei Arthur (King Arthur) de Antoine Fuqua. Foto: Divulgação/Warner

Gandalf, personagem das histórias de J.R.R. Talkien, por John Howe.