Segunda-feira, 18 de dezembro de 2017 às 10h


Governar uma cidade como São Paulo não é para amadores ou aventureiros, exige dedicação. Antes de tudo é preciso conhecê-la bem e respeitá-la. Ter humildade e percepção, para conduzir um exército de paulistanos com uma infinidade de costumes, é um requisito fundamental. Nos últimos tempos a cidade carece de administradores com esses atributos.

Gerson Soares

Mesmo com todos os requisitos acima, e tantos outros mais estritamente necessários para empunhar a bandeira de São Paulo, onde do latim se lê: “Non Dvcor, Dvco” – que quer dizer “Não sou conduzido, conduzo” –, a tarefa de ser Prefeito não é nada fácil. Deixando de lado qualidades importantes citadas acima, trocando a modéstia e sobriedade pela arrogãncia dificulta ainda mais a tarefa do candidato. Assim, as situações vexatórias rondam secretários, subprefeitos e os hierarquicamente comandados pelo chefe do município. A cidade parece ser um tubo de ensaio, onde cada um que chega quer imprimir sua própria marca e o nome que lhe deram ao nascer, esquecendo-se que a cidade pertence aos paulistanos e não a apenas alguns deles.

O que veremos aqui é a prova cabal de que há muito para ser aprendido pelos candidatos a líderes da capital paulistana, quando de seus próprios arroubos se envaidecem.

 

Faixa de campanha da Prefeitura: a imagem fala por si só. A incoerência e desarmonia das equipes comandas pelo prefeito por aplicativos de celular e redes sociais, tidas por ele como excelentes, parecem necessitar de mais comando. Enquanto uma faz campanha a outra age em direção totalmente contrária, permitindo há longo tempo, um criadouro de larvas de pernilongos. Foto: aloimage

 

Observemos estas duas notícias divulgadas pela Prefeitura da Cidade de São Paulo: “Força tarefa intensifica ações de combate ao Aedes aegypti na Zona Norte” – publicada no dia 8 de novembro de 2017; e “Treze parques públicos são fechados por precaução” – publicada no dia 26 de outubro de 2017. Ambas foram divulgadas pelo site do órgão e estão relacionadas à proliferação de pernilongos, vetores de doenças graves.

Agora vejamos as notícias publicadas pelo Governo do Estado de São Paulo em 2017: “Luta contra a dengue e outras arboviroses avança em SP” (21 de fevereiro); “#SPContraoAedes: Encontro debate medidas para combater arboviroses” (em 30 de janeiro); “Alckmin fecha acordo com BNDES para fábrica de vacina contra a dengue” (03 de janeiro); “Governo e BNDES investem em fábrica de vacina contra a dengue” (também em 03 de janeiro); e ainda, “Estado e município se unem no combate à dengue em SP”. Está última, publicada em 14 de dezembro de 2016, há exatamente um ano.

Doria assumiu em janeiro de 2017, as campanhas acima foram veiculadas a partir de então, e as obras do CEU Carrão no Centro Esportivo do Tatuapé estiveram paralisadas ou em ritmo tartaruga desde meados de 2016. O perigo ronda os moradores há pelo menos um ano, como os moradores das imediações já sabem.

 

Muro da EMEI Quintino Bocaiuva: mato do parque vizinho, quase na metade do muro e o esqueleto de construção promovida pela Prefeitura, uma obra inacabada e desnecessária que merece investigação mais apurada pelo MPSP. A obra abriga milhões de larvas de mosquitos, e outros tantos perigos, bem ao lado de uma escola infantil da Prefeitura. Foto: aloimage

 

O porquê da humildade, sobriedade e modéstia

Depois de reabrir o Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes (CEBEG), sem nem mesmo divulgar à imprensa, às escondidas, sem a costumeira propaganda que faz de cada uma de suas ações do programa “Cidade Linda” e pessoais, o prefeito João Doria ignorou o alerta que fizemos há alguns meses, sobre os problemas e a esperança de uma solução eficaz para o parque. Também não respondeu às nossas questões sobre o Centro Esportivo, apesar de encaminhadas devidamente aos canais de imprensa. Afinal, porque não quer responder à simples questão: Quando a Prefeitura pretende devolver o Centro Esportivo como era antes ou ainda melhor à população, já que o CEU Carrão não será levado à frente?

Nesta quarta-feira (13), depois da reaberto o parque no início de dezembro, conseguimos entrar para saber do que se tratava essa reabertura e a decepção já estava garantida. Cercada por tapumes, uma área foi destinada ao público, lembrando mais o muro de Berlin do que uma área pública. Mas o que havia por trás daqueles tapumes do parque modelo cidade linda tipo periferia? Na zona Sul há carros elétricos para a Guarda Civil Metropolitana (GCM) – que sem ter mais o que fazer Doria quer mudar o nome para Polícia Municipal; na zona Norte, ele acaba de fechar acordo com Michel Temer e criou mais um mega projeto para o Campo de Marte.

E porque somente algumas pincelas de tinta, desta vez de uma cor bege escura, não o branco do Cidade Linda que tanto enaltece os olhos de quem só beleza enxerga? Aliás, pinceladas mal acabadas, pois os postes de iluminação do campo foram descaradamente pintados só até um pedaço, o restante da estrutura permaneceu como estava. Que lindo!

 

Outra arquibancada pintada, algumas pinceladas no muro no entorno do campo e postes de iluminação mal pintados só até um pedaço, para economizar tinta, talvez. Do outro lado do campo, todo tipo de material que poderia servir de armas caso um entrevero entre os times e torcidas que agora podem jogar no campo reaberto pelo prefeito da cidade. Pedras, madeiras com pregos, objetos cortantes, tudo está à disposição. Cidade linda modelo Tatuapé periferia zona Leste. Ops! Foto: aloimage

 

Sem segurança ou qualquer funcionário

Não havia segurança ou qualquer representante da Prefeitura no local, nenhum GCM, nada. Como ninguém nos impediu – antes éramos proibidos de entrar – fomos ver o que fora feito do dinheiro do município em troca de um esqueleto de concreto. Entramos e passamos pela lateral do campo como poderia fazer qualquer usuário, desde que o parque foi reaberto. Totalmente quebradas, umas madeiras cheias de pregos espalhadas pelo chão separavam a área agora destinada ao público e a parte de trás dos tapumes.

O que se vê é aterrador, em matéria de desperdício do dinheiro público, pago através dos impostos recolhidos dos cidadãos, que suam diariamente nos ônibus e metrô superlotados, atravessam a cidade para trabalhar e com isso são perseguidos incessantemente para terem seus veículos multados constantemente por infringirem uma velocidade de 50 km/h e ainda pagam uma porcentagem absurdamente alta de todo esse esforço ao governo.

Ainda ontem, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), órgão ligado à Prefeitura, praticou um ato de extrema benevolência: suspenderá o rodízio entre os dias 22 de dezembro e 12 de janeiro de 2018. O ato pode ser enquadrado na máxima conhecida pelos brasileiros, a de criar as maiores dificuldades para depois oferecer algumas facilidades. Nunca se multou tanto em São Paulo, como nos últimos tempos. Afinal, os agentes, canetas, palm tops e as câmeras também merecem férias!

 

Cerca quebrada e caixa d'água criadouro: com a abertura do parque, qualquer criança pode passar por aqui. E o que encontrarão? Madeiras com pregos pontiagudos, materiais cortantes e mosquitos: Prefeitura reabre o parque atentando contra a população paulistana. Foto: aloimage

 

O que escondem os tapumes?

Para que servem os tapumes e um parque sem nenhum aparelhamento, sem segurança, onde qualquer um pode fazer o que quiser? Atrás dos tapumes vistos no Centro Esportivo do Tatuapé, existe um imenso criadouro de pernilongos, dois monumentos ao desperdício de dinheiro público e o sinônimo da má administração pública. Aceitando que isso se perpetue, os usuários participam não só dos perigos contra a sua própria saúde, mas dão margem à continuidade de escândalos absurdos que chocam a sociedade brasileira diariamente com a divulgação das operações do Ministério Público, Procuradoria-geral da União e da Polícia Federal, através da Lava Jato.

 

Água parada: a caixa d'água que vimos na imagem anterior, deteriorou-se com o tempo. Portanto, é possível deduzir que durante um longo período está assim e no interior dela o leitor pode ver com os seus próprios olhos o que presenciamos: tudo o que as campanhas divulgadas em todo o país combatem. Este espetáculo é proporcionado pela Prefeitura e os órgãos a ela subordinados, como a Subprefeitura Mooca, que infelizmente é responsável pelo Tatuapé, bairro que apesar do seu gigantismo não possui um subprefeitura local. Foto: aloimage

 

Larvas e insetos a longo tempo

Sem nenhum aparato de segurança, os esqueletos das construções servem de abrigo para todo tipo de coisas que se possa imaginar: uso de drogas, moradia de sem teto, motel, mas o pior estava debaixo de tábuas que cobrem os buracos das fundações. Poças de água enormes, contendo insetos e milhares de larvas. Durante a filmagem que pode ser vista clicando (aqui Youtube/alotatuape) e as fotografias, tínhamos que espantar os pernilongos que nos atacavam, sendo possível identificar claramente as características do inseto transmissor das doenças mais temidas pelos infectologistas como a Malária, Dengue, Zika, Chikungunya. Ao caminharmos por toda a extensão por trás dos tapumes, que escondem a sujeira da cidade feia, deixada para trás com algumas pinceladas de tinta bege, contentando os bajuladores de plantão, fomos encontrando mais e mais poças d’água, onde os insetos planavam.

 

Irresponsabilidade: Esta poça d'água foi fotografada na fundação ou alicerce do que seria o CEU Carrão. Ela está a menos de 200 metros da EMEI Quintino Bocaiuva, onde estudam e permanecem centenas de crianças. O que revolta é que mesmo tendo conhecimento de todo o cenário que mostramos nesta reportagem, os responsáveis pelo Centro Esportivo tiveram a coragem de reabri-lo, é revoltante. Foto: aloimage

 

Quem poderá definir se as larvas são de mosquitos transmissores de doenças são os especialistas, mas somente o fato desses criadouros existirem a longo tempo ao lado de uma EMEI, onde dezenas de crianças passam o dia, é algo deplorável, chega-se ao cúmulo do descaso, ao desrespeito para com os cidadãos. Não é para menos que o prefeito não veio ao Tatuapé para reinaugurar o parque, não chamou a grande imprensa para mostrar sua obra, somente o noticiário inócuo testemunha e apoia esse ato aviltante.

O odor e a sujeira que encontramos arás dos tapumes, os perigos a que expôs a população com mais este ato de desrespeito ao Tatuapé e aos moradores do entorno do parque, devem ter afastado os secretários e o próprio prefeito. Apesar de não ser muito propício a um picnic, o parque está bem próximo da padaria onde o candidato e prefeito João Doria é recebido para comer coxinhas. Peça pelo delivery e as saboreie ao lado do secretariado nas fundações do ex-nunca CEU Carrão, dividindo o sangue de todos com os pernilongos. Nada mais cinematográfico.

A visita surpresa feita no Hospital Municipal do Tatuapé não encontrou mais do que qualquer morador do bairro já conhece. Nós também fizemos uma visita surpresa ao parque reaberto e o que vimos está no vídeo publicado em nosso canal do YouTube. Uma desagradável surpresa.

Centro Esportivo do Tatuapé: Abandono pela Prefeitura, causa perigo para a saúde pública