Gerson Soares
Fotos: aloimage
Ações como a do senhor Mauro, proprietário da banca de frutas do Largo Nossa Senhora do Bom Parto devem ser ressaltadas. Calma, não estamos falando da tradição da banca famosa que já passa das três décadas, mas da boa vontade em querer compartilhar uma praça bonita com todos. “É uma forma de agradecimento”, disse o atual proprietário.
Por iniciativa própria ele comprou tinta verde e pagou a um pintor para colorir todo o Largo do Bom Parto em dezembro do ano passado. Muretas, bancos e até as mesas de jogos dos anciãos. Diga-se de passagem, eles estão transmitindo esse costume aos mais jovens, que já aderem ao carteado no finalzinho das tardes e durante as manhãs.
E foi assim que o Bom Parto ficou mais bonito e comemorou o Natal. Mas não demorou, para que aparecesse uma pichação aqui e outra lá, até que da iniciativa louvável restasse apenas alguns pontos onde o desprezo pela beleza, a inversão de valores ainda não tenha atacado as pinturas feitas voluntariamente pelo comerciante.
Conversamos com um jovem casal que tranquilamente lia um jornal e tomava açaí, para saber o que acham da praça. Mais uma vez aprendemos que a praça é do povo e nela surgem situações inusitadas como nos relataram: “Estávamos sentados aqui e vimos você fotografando, depois os dois meninos ali (apontando para um cantinho da praça) nos surpreenderam quando um deles perguntou ao outro se queria trocar figurinhas, mas advertiu para ficarem próximos à lixeira, a fim de que pudessem fazer seus descartes”, disse a moça. “Meu filho me adverte quando fico com a torneira aberta além do tempo necessário e nunca joga lixo na rua. Acho que essa nova geração já está mais preparada”, lembrou o homem.
Esperamos que sim, que as novas gerações cada vez mais abominem a destruição daquilo que é delas mesmas e que elas mesmas herdaram e deixarão de herança. É bom imaginar que as gerações vindouras retomarão seu lugar nas praças, tirando o espaço de quem só vem para destruir e subverter seu sentido ou fazer com que esses se adaptem àquilo que se espera dos bons cidadãos. Uma praça não é construída, limpa e aparelhada sem razão. Ela é feita para que as pessoas possam estar ali em harmonia, deixando um pouco a angústia e os problemas afastados, um momento de paz disponível a todos.
De quem é a praça? Ora, ela é do povo. Mas não é para fazer sujeira, pichar, usar drogas incitando jovens à mesma prática, dar mau exemplo. A praça não foi feita para ser banheiro de cachorro, nem esconderijo de bandido. Confundir estas atribuições mínimas é negar a imortalidade dos versos do “Poeta dos Escravos”.
A praça, a praça é do povo!
Como o céu é do Condor!
É antro onde a liberdade
Cria a águia ao seu calor!
Castro Alves | 1847 – 1871