Segunda-feira, 2 de maio de 2016 às 17h17


O evento, uma iniciativa do vereador Andrea Matarazzo, contou com a presença de diversos especialistas no assunto em parceria com a ProAcústica – Associação Brasileira para a Qualidade Acústica e a colaboração do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT).

Gerson Soares

A 3ª Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora teve início na última quarta-feira dia 27 de abril, em frente a Casa das Rosas na Avenida Paulista, com uma atividade da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Desembargador Amorim Lima, sob a coordenação da pedagoga e diretora Ana Elisa Pereira Flaquer de Siqueira, onde as crianças puderam demonstrar aos adultos a importância desse assunto, com destaque para os 60 segundos em que o trânsito, numa das principais avenidas de São Paulo, ficou interrompido nos dois sentidos por essa boa causa. A realização da Conferência nessa data de abril coincide com o Dia Internacional da Conscientização Sobre o Ruído, ou INAD – International Noise Awareness Day, na sigla em inglês. As crianças tiveram um bom motivo para fazer valer sua opinião, já que às providências acústicas realizadas no colégio Amorim Lima proporcionou ganhos a elas e aos profissionais que atuam em meio a 800 estudantes.

 

Vereador Andrea Matarazzo faz a abertura da ª Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora na Câmara Municipal de São Paulo. Foto: aloimage / celular

Vereador Andrea Matarazzo faz a abertura da ª Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora na Câmara Municipal de São Paulo. Foto: aloimage / celular

 

Na quinta-feira (28), à partir das 17h, o vereador Andrea Matarazzo (PSD) fez a abertura da conferência propriamente dita na Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), dando continuidade ao evento do dia anterior. Andrea citou a importância de controlar e estabelecer limites sobre a poluição sonora em São Paulo. O debate aconteceu no contexto dos impactos da nova Lei de Uso e Ocupação do Solo – Lei de Zoneamento – e da expectativa de aprovação do Projeto de Lei (PL) 75/2013, que dispõe sobre o Mapa do Ruído Urbano, que pretende fixar metas e prazos para redução de barulho na cidade, aprovado em primeira votaçã e apoiado por um bloco de vereadores.

De acordo com Matarazzo, autor do PL junto com o vereador Aurélio Nomura (PSDB), a identificação dos ruídos emitidos é uma importante ferramenta de gerenciamento de soluções. “A expectativa é de criar um mapa de ruído, assim como o da cidade de Fortaleza, para definir na cidade quais são as zonas de maior ruído, de menor ruído, o que é autorizado e o que não é. Até para que o cidadão saiba o que é permitido e para o poder publico controlar melhor essa questão”, afirmou. Entre outras informações, Matarazzo disse que “nas ruas onde há paralelepípedos existe um grande número de pessoas que reclamam devido ao excesso de ruídos”. A informação pode parecer banal para alguns, mas demonstra a sensibilidade de cada grupo à emissão de ruídos. Essas e outras questões foram discutidas para identificar o que afeta a saúde humana.

O vereador Gilberto Natalini, que apoia o PL, falou em seguida e abordou quatro tipos de poluição (ar, água, visual e sonora), lembrando que “com a poluição do ar e da água vamos convivendo e a visual foi controlada através de leis. A poluição sonora é gravíssima e piorou por causa do afrouxamento da lei do PSIU, por parte de uma bancada de vereadores”, acusou. Quem já tentou obter alguma ajuda do PSIU nesse tipo de questão, sabe que parece haver entraves na prestação do serviço que deveria garantir a tranquilidade da população, no que diz respeito à observância das leis que regem o silêncio.

 

Os debatedores do Painel 1 Educação, Saúde e poluição sonora: desafios dos centros urbanos. Na direita o ex-secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Fábio Feldmann e à sua esquerda a fonoaudióloga Ana Claudia Fiorini, engenheiro mecânico Gilberto Fuchs, a pedagoga Ana Elisa P. F. de Siqueira e a arquiteta e urbanista Sheila Walbe Ornstein. Foto: aloimage /celular

Os debatedores do Painel 1 Educação, Saúde e poluição sonora: desafios dos centros urbanos. Na direita o ex-secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Fábio Feldmann e à sua esquerda a fonoaudióloga Ana Claudia Fiorini, engenheiro mecânico Gilberto Fuchs, a pedagoga Ana Elisa P. F. de Siqueira e a arquiteta e urbanista Sheila Walbe Ornstein. Foto: aloimage /celular

 

Após a abertura oficial da conferência, foi formada a mesa e os debatedores deram início ao primeiro dos quatro painéis de discussões da noite. O mediador do Painel 1 foi Fabio Feldmann – ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo – que citou as dificuldades em colocar o tema na agenda brasileira. “Pessoas muito fragilizadas com a poluição sonora acabam perdendo a razão e cometem atos impensados. Ainda acho que estamos longe de tratar o assunto como ele merece. O PSIU trabalha muito mal e o radar de vocês é fazer esse tema chegar àqueles que tomam as decisões”. Para Feldmann a preocupação só acontece quando as pessoas sentem na pele. “O sujeito vai comprar um imóvel e não se incomoda com o barulho, só depois é que ele vai perceber”, sensibilizou.


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A representante do colégio Amorim Lima do Butantan foi a primeira a falar. “A nossa acústica na hora do recreio era igual ao barulho do aeroporto de Guarulhos”, ressaltou a debatedora, lembrando que parte da reforma foi feita nos forros de salas do colégio. “A acústica da escola era péssima. Depois da reforma, as pessoas ficaram procurando o que havia sido feito. Pouca gente olha para o teto”, enfatizou, fazendo referência à adequação dos espaços da EMEF em parceria com a ProAcústica. Uma das perguntas endereçadas a ela foi quanto à melhoria da aprendizagem depois da redução do barulho no estabelecimento. “Não é possível mensurar se houve melhora na aprendizagem das crianças. O que eu posso dizer é que a convivência melhorou muito”, ressaltou.

O que dizem os especialistas

“Estamos aqui discutindo um tema da maior importância das nossas cidades. Temos que destacar nas faculdades de arquitetura esse tema, que não é tratado com a devida importância”, assim começou a fala da arquiteta e urbanista Sheila Walbe Ornstein, que foi vice-diretora da FAU USP e atualmente é diretora do Museu Paulista da USP e especialista em avaliação pós-ocupação de ambientes construídos. O Painel 1 da Conferência tratou do tema “Educação, saúde e poluição sonora: desafios dos centros urbanos” e de acordo com Sheila, os prédios já deveriam nascer com redução de ruídos, citando a dificuldade de incluir esse tipo de custo nos orçamentos.

 

Debatedores do Painel 2 Mobilidade, Ruído e Vibração da 3ª Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora, à esquerda o físico Marcelo de Mello Aquilino e os demais debatedores: André Forcetto, mestre em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade pela USP e tecnólogo em Mecânica pela FATEC-SP, atuando na área de Homologação de Veículos pela CETESB, desde 2011; o moderador Marcos Holtz, arquiteto e urbanista, mestre em Acústica pela FAU USP, coordenador do Comitê Acústica Ambiental da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica - ProAcústica e sócio-dretor da Harmonia Acústica e Victor Bécard, engenheiro mecânico especialista em Acústica e Vibração pela ENSIM (França) e titular de mestra em acústica pela Universidade do Maine (França), pós-graduado em acústica ambiental e de edifícios na POLI USP.

Debatedores do Painel 2 Mobilidade, Ruído e Vibração da 3ª Conferência Municipal sobre Ruído, Vibração e Perturbação Sonora, à esquerda o físico Marcelo de Mello Aquilino e os demais debatedores: André Forcetto, mestre em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade pela USP e tecnólogo em Mecânica pela FATEC-SP, atuando na área de Homologação de Veículos pela CETESB, desde 2011; o moderador Marcos Holtz, arquiteto e urbanista, mestre em Acústica pela FAU USP, coordenador do Comitê Acústica Ambiental da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica - ProAcústica e sócio-dretor da Harmonia Acústica e Victor Bécard, engenheiro mecânico especialista em Acústica e Vibração pela ENSIM (França) e titular de mestra em acústica pela Universidade do Maine (França), pós-graduado em acústica ambiental e de edifícios na POLI USP. Foto: aloimage / celular

 

Para o mestre em Ciências em Engenharia Mecânica com ênfase em Acústica e Vibração, engenheiro mecânico e presidente do Conselho de Administração da ProAcústica, Gilberto Fuchs, “no Brasil, a maioria dos engenheiros não têm conhecimentos de acústica”. Para ele um dos fatores de estudo é a saúde. “O ruído aumenta o cortisol e a gente fica irritado e estressado”, disse. O especialista falou sobre a iniciativa de um professor que passou a usar os cinco minutos iniciais da sua aula para fazer com que os alunos ouvissem o barulho que vinha do lado de fora. “Com isso ele passou a ter um ganho de produtividade, devido à percepção das crianças que aprenderam a lidar melhor com os ruídos. A acústica na sala de aula é fundamental”. Fuchs discorreu sobre a parceria feita com a Amorim Lima, depois que seu filho passou a ser um dos alunos chamando sua atenção. A reforma na escola feita pela empresa onde trabalha levou a uma melhoria excepcional da acústica, ou seja, à diminuição da poluição sonora.


Saiba mais:
Leia a opinião do físico Marcelo de Mello Aquilino, ligado ao Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) e entenda como é possível medir os ruídos que estão colocando em risco a saúde da população nas grandes cidades.


“A poluição sonora é um problema de saúde pública”, destacou a fonoaudióloga, epidemiologista, doutora em Saúde Pública, professora doutora da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) e da PUC-SP, Ana Claudia Fiorini. “Precisamos sempre mostrar que este é um problema sério e leva a doenças auditivas, cardiovasculares nos adultos e distúrbios de aprendizagem nas crianças. O incômodo do ruído nas escolas são apontados por professores e funcionários. Este evento tem a importância de divulgar o assunto e o quanto é importante na saúde do trabalhador”, enfatizou a fonoaudióloga.

“O afrouxamento das leis é um caso sério. O PSIU foi um programado emblemático; fazê-lo voltar a funcionar e contaminar positivamente outros lugares seria importante. O que falta é fazer com que as leis funcionem”, concluiu o engenheiro Gilberto Fuchs da ProAcústica.

Ao encerrar o primeiro painel de debates, o moderador Fábio Feldmann fez suas observações, citando que há 20 anos tenta colocar na pauta de discussões esse assunto dentre os diversos cargos que ocupou, tendo o apoio da fonoaudióloga Ana Claudia Fiorini. “A poluição sonora é um grande desafio no mundo, a cada dia os estudos científicos mostram como ela prejudica a saúde. Discussões como estas são importantes, pois o país tem negligenciado o tema da poluição sonora e acho que isso tem a ver com o bem estar e com a privação do direito à qualidade de vida das pessoas”, ressaltou o ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Os debatedores do Painel 1 Educação, Saúde e poluição sonora: desafios dos centros urbanos. No centro o ex-secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Fábio Feldmann. Foto: aloimage /celular

Os debatedores do Painel 1 Educação, Saúde e poluição sonora: desafios dos centros urbanos. No centro o ex-secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Fábio Feldmann. Foto: aloimage /celular

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Vítimas “da poluição sonora” em horário nobre: a imagem que mostra os ruídos da TV, também serve para ilustrar a situação dos nervos em frangalhos em que vivem as pessoas assoladas pela poluição sonora. Ilustração de D-GRRR via Wikicommons

Vítimas “da poluição sonora” em horário nobre: a imagem que mostra os ruídos da TV, também serve para ilustrar a situação dos nervos em frangalhos em que vivem as pessoas assoladas pela poluição sonora. Ilustração de D-GRRR via Wikicommons

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Aparelho para medição de ruídos e cidadão perturbado com o excesso de barulhos. Fotomontagem ilustrativa: aloart / Sobrefotos: Getty Images

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