Quarta-feira, 23 de agosto de 2017 às 11h14

Carmelúcia Mello é filha de um mestre de obras que veio para Brasília do Piauí num pau-de-arara, com três filhos e a mulher grávida de sete meses. Ao longo da vida, a brasileira encontrou na ONU um emprego e um propósito — transformar a vida de muitas famílias que enfrentam dificuldades para cuidar das crianças e botar comida na mesa.

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Há 18 anos trabalhando nas Nações Unidas, ela foi homenageada pelo Centro de Excelência contra a Fome, onde trabalha atualmente, por ocasião do Dia Mundial Humanitário, lembrado pelo organismo internacional neste 19 de agosto.

 

Há 18 anos trabalhando nas Nações Unidas, ela foi homenageada pelo Centro de Excelência contra a Fome, onde trabalha atualmente, por ocasião do Dia Mundial Humanitário, lembrado pelo organismo internacional neste 19 de agosto.

 

Carmelúcia Mello, do Centro de Excelência contra a Fome. Foto: PMA/Isadora Ferreira

 

“Meus avós maternos tiveram 20 filhos, 16 se criaram. Minha mãe era responsável por fazer os pratos e dividir o que tinha de comida entre todos os irmãos, para que ninguém ficasse sem comer”, lembra a especialista em finanças. “Eu nunca passei fome porque tudo o que tivesse em casa era dividido entre meus pais, os seis filhos e quem mais precisasse”. Mas a vida não foi fácil.

“Sempre estudei em escola pública e me beneficiei da alimentação escolar. O nosso dinheiro era muito limitado, mas aproveitei toda e qualquer oportunidade de fazer cursos na escola, curso de costura, de bordado, do que fosse”, conta Carmelúcia. O gosto pela educação foi aprendido com a mãe.

Acredito que trabalho não é apenas um meio
de garantir a minha própria sobrevivência,
mas um instrumento para ajudar outras pessoas.

“Tenho muito a agradecer aos meus pais, mas minha mãe sempre teve uma preocupação muito grande de nos manter estudando, e ver o empenho dela em nos manter na escola me mostrou o quanto é importante estudar. E vejo o efeito positivo que isso teve na minha geração e mais ainda na geração dos meus sobrinhos e meus três filhos”, afirma.

Aos 16 anos, a então adolescente conseguiu seu primeiro emprego num banco privado. “Nunca gostei de lamentar os problemas, sempre procurei olhar para mim mesma e me perguntar o que poderia fazer para mudar a situação”, conta. Carmelúcia trabalhou no setor privado por alguns anos e, em 1999, viu num anúncio no jornal de uma vaga para um organismo internacional.“Me interessei porque as exigências tinham relação com a área financeira, estatística”.

Carmelúcia Mello na segunda série do Ensino Fundamental. Foto: Arquivo pessoal

A vaga era para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e foi o primeiro emprego de Carmelúcia no Sistema ONU. O primeiro contato com as Nações Unidas foi tão marcante que ela nunca esqueceu a data da primeira entrevista de emprego: 2 de novembro de 1999. Foram quatro anos de trabalho no UNICEF, seguidos por mais quatro anos no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Em 2008, saiu do PNUD para assumir a unidade de administração e finanças da ONU Meio Ambiente, que na época se chamava PNUMA, a sigla para Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Após quatro anos intensos, que incluíram a organização da Rio+20, Carmelúcia saiu da ONU para acompanhar a família em uma temporada nos Estados Unidos. “Quando estava me preparando para voltar ao Brasil em 2013, estava disposta a olhar outras perspectivas, mas eu já não conseguia ver nada que me interessasse fora do sistema ONU”.

A vaga no Centro de Excelência, do Programa Mundial de Alimentos (PMA), foi anunciada um dia após seu retorno ao Brasil. “Tive certeza de que era para mim!”, brinca Carmelúcia.

 

Coleção de documentos de identificação acumulados ao longo de 18 anos de trabalho para as Nações Unidas. Foto: PMA/Isadora Ferreira

 

“Eu não via nenhum outro lugar, mesmo no governo, em que o trabalho tivesse tanta abrangência, tivesse um efeito positivo que reverberasse tão longe. Dentro da ONU, qualquer trabalho que você faça, mesmo no nível local, tem efeitos positivos em todo o mundo”, explica a profissional. “Acredito que trabalho não é apenas um meio de garantir a minha própria sobrevivência, mas um instrumento para ajudar outras pessoas.”

Há quatro anos, ela administra as finanças do Centro de Excelência. Formada em economia, com pós-graduação em negócios internacionais, ela aponta que uma boa gestão é fundamental para a prestação de assistência.

“O tipo de trabalho que faço, da área operacional, costuma ser invisível, mas acredito que os recursos da ONU só alcançam os objetivos de desenvolvimento se houver controle. Ao fazer bem o meu trabalho, zelo para que ao final o recurso tenha o melhor uso possível. O trabalho de administração e finanças bem feito atrai mais pessoas e recursos para ampliar o alcance do trabalho de campo”, aposta.

Tráfico de pessoas é o terceiro crime mais lucrativo do mundo, depois do tráfico de drogas e de armas. Foto: ONU

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