Terça-feira, 22 de dezembro de 2015 às 12h27


País vive momentos desastrosos diante do maior processo de corrupção e desvio de verbas públicas, já visto em sua história. Por sua vez, autoridade classifica de “cortina de fumaça” os pronunciamentos da Justiça. Assim se foi um ano inteiro, vivido na penumbra e na expectativa de melhorias que não vieram.

Gerson Soares

Tudo pelo poder, o Brasil está vivendo sob um ano do desgoverno de Dilma Roussef – influenciada também pelas articulações do ex-presidente Lula – e a indiferença da oposição pelo destino do país que caminhou à deriva durante 2015. Sem perspectivas favoráveis, o mercado financeiro projeta um difícil 2016, mesmo depois da mudança no comando do Ministério da Fazenda. Com a saída de Joaquim Levy e a chegada do ministro ligado às “pedaladas” da presidente, a indicação de Nelson Barbosa não foi bem recebida pelos investidores que reagiram mal ao anúncio. O país atravessa, talvez, o seu pior momento político em tempos de paz.

A cada prisão ou delação premiada da Operação Lava Jato, discute-se o envolvimento do ex-presidente Lula. Portanto, retroagindo ao calendário político de 2003, quando foi empossado e seguindo pela sucessora, são 12 anos de governo do PT. Em um dos desmembramentos dessa reação da Polícia Federal ao desenfreado processo de corrupção que acomete o país, a Operação Vidas Secas, que investiga a obra de transposição do Rio São Francisco, empresários são acusados de desvios milionários. Depois de permanecerem presos durante 10 dias, foram liberados ontem (21), os onze empresários envolvidos num esquema que pode ter desviado 200 milhões do projeto iniciado no governo Lula – uma promessa de campanha bradada aos setes ventos. A obra, que já deveria estar aplacando a sede dos nordestinos, está atrasada em seis anos.

Num outro desastre sem precedentes na história do país, de acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, a Samarco poderia ter evitado as consequências desastrosas se não fosse o famoso jeitinho brasileiro de facilitar as coisas para o lado errado, quando não acatou as determinações dos técnicos que há três anos alertaram para problemas na barragem que veio a ruir e espalhou lama tóxica por mais de 700 quilômetros de Mariana (MG) até a foz do Rio Doce, já no estado do Espírito Santo.

Vale qualquer coisa para manter-se no poder, até mesmo depois da alcunha de delinquente – pois foi assim que o procurador-geral da República Rodrigo Janot classificou o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. A tentativa deste para dissuadir a opinião pública sobre sua interferência nos trabalhos do Conselho de Ética, transmitidos ao vivo pela TV Câmara (via internet e TV a cabo) é patética. Sessões conturbadas por aliados do deputado Cunha com o nítido objetivo de protelar as decisões, favorecendo-o com os adiamentos e os recessos, arrastaram mais uma vergonha nacional para o ano que vem, quando vamos assistir indignados às aberturas das mesmas cortinas, sejam elas de fumaça, de teatro ou de circo.

Tudo se arrasta para 2016, como o lixo que é varrido para ser levado à lixeira. Mas diferente deste que se recicla ou incinera, o Legislativo e o Executivo continuam a distanciar-se dos principais objetivos da população. Em seu papel de opositores ao governo, os partidos que não fazem parte da atual gestão ou não compactuam com as políticas adotadas, também se esquecem de que por trás da cortina estão os espectadores que observam sua inércia, limitada a pedidos de impeachment e obstruções para que o governo não aprove as medidas que julgue necessárias, a fim de que a economia reaja.

As cortinas são de fumaça, como classificou Cunha, sobre o pedido de Janot, que quer seu afastamento da presidência da Câmara e atesta a cassação do seu mandato pelo Conselho de Ética. Os picadeiros e os palcos da política em Brasília estão repletos de protagonistas, na penumbra das cortinas ou sob as luzes das câmeras eles formam um elenco sombrio, fantasmagórico. Espectros que se refestelam em meio às notícias diárias de sua insensatez.

 

Cortinas do picadeiro. Ilustração: aloart