:: Fantasmas do passado


Gerson Soares

A população brasileira é fruto de miscigenações, como sabemos. O índio, os europeus da colonização e os afrodescendentes; essa mistura de raças consolidada, teve o acréscimo dos orientais notadamente no final do século XIX e início do século XX. E é nessa época que se inicia esta pequena e despretensiosa análise. Nosso foco está no vínculo entre os imigrantes que chegaram a São Paulo e a pandemia que se abate sobre estado, agora no século XXI.

Consultando pesquisas e publicações valorosamente elaboradas pela equipe do Museu da Imigração, intitulada “Hospedaria em Quarentena”, resolvi escrever estas crônicas. A ambientação passeia entre a periferia de São Paulo antiga e marginalizada do passado, quando a hospedaria foi construída para abrigar os estrangeiros trazidos para suprir a força dos escravos recém libertos. O oriente nunca esteve tão perto devido à pandemia que surgiu na China.

 

Foto: Acervo Museu da Imigração/APESP

 

O local escolhido no final do século XIX para a construção, propriamente dita, bem distante do centro da cidade e, portanto, periférico, já denotava a intenção do isolamento. Não convinha aos barões do café e suas famílias a aproximação com os pobres imigrantes que para eles, apenas generalizando nesta oportunidade, se equiparavam aos escravos. Um erro que muito brevemente seria percebido.

Antes desse abrigo, os imigrantes eram instalados em uma antiga hospedaria que existiu no Bom Retiro, menor e mais acanhada. As instalações da Hospedaria do Brás, como o lugar também já foi, foram providas de melhorias e entre elas um hospital. O Museu da Imigração, nome atual, é na verdade o prédio restaurado da Hospedaria de Imigrantes do Brás, nome oficial.

A Hospedaria dos Imigrantes ou Hospedaria do Brás, assim chamada popularmente e descrita por diversos historiadores, seu conjunto arquitetônico e as inúmeras histórias que envolvem seu passado, merecem um lugar na memória de São Paulo e do Brasil. Devem ser carinhosamente lembrados e consultados como um “livro de cabeceira” que está sempre à mão. Agora estamos todos isolados em casa, neste século XXI. Os fantasmas do passado vêm nos assombrar.

 


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