Terça-feira | 22 de abril, 2014 | 17h49 – atualizado em 4 de fevereiro, 2019 | 11h55
No início do século XX, começou o desenvolvimento do Brazilian Jiu Jitsu.
Segunda Parte
Conde Koma, Carlos e Helio Gracie, Luiz França e Oswaldo Fadda.
Gerson Soares
Durante essa viagem pelo Brasil, as apresentações do discípulo de Kano ficavam conhecidas. Em 1917, Carlos Gracie, filho de Gastão Gracie, então com 14 anos, foi aceito como aluno pelo mestre Mitsuyo Maeda e treinou ao lado de Luiz França, que estava entre os primeiros alunos.
O mestre Maeda não ensinou aos seus alunos apenas a luta, mas lhes demonstrou todos os ensinamentos da cultura milenar que trazia em sua bagagem, como por exemplo, a forma de se alimentar, lidar com a força, os adversários e de maneira geral com a vida. Entre eles, no choque das culturas oriental e ocidental, criou-se a harmonia.
Carlos Gracie seria o fundador de uma vertente do Jiu Jitsu e o fuzileiro naval Luiz França de outro ramo da arte suave. Carlos teve a companhia do irmão Hélio e Luiz revelou Oswaldo Fadda, seu aluno. Dessas duas vertentes do Jiu Jitsu brasileiro, a mais famosa é a da família Gracie. De acordo com recentes depoimentos de Hélio Fadda, filho de Oswaldo, houve diversas lutas entre essas duas vertentes.
Consta que num desses desafios, a família Gracie foi derrotada pelo ramo dos Fadda, em 1954. E, novamente, no ano seguinte os chamados “sapateiros” (pela preferência das chaves de pernas e pés), venceram. Isso levou o grande mestre Hélio Gracie à frase: “É preciso existir um Fadda, para mostrar que o Jiu Jitsu não é privilégio dos Gracie”, publicada na Revista dos Esportes, Rio de Janeiro em 1955.
Carlos Gracie, dedicou sua vida a arte que hoje passou a ser conhecida como Brazilian Jiu Jitsu, fundando sua primeira academia no Rio de Janeiro, em 1925, chamada Academia Gracie de Jiu Jitsu, mas o grande difusor dessa arte passou a ser Hélio Gracie.
Quando jovem, Hélio estava impossibilitado de praticar a arte marcial ensinada pelo irmão, pois sua saúde frágil não permitia que ele treinasse com os outros irmãos. Porém, ele começou a observar os treinos ministrados por Carlos e a partir de suas observações desenvolveu um sistema de alavancas com o corpo que lhe davam uma força extra.
O aprimoramento desenvolvido por ele, lhe garantiria muitas vitórias transformando o Jiu Jitsu brasileiro em uma das artes marciais mais eficientes e difundidas no mundo. Em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, são promovidos os mais concorridos campeonatos de BJJ (Brazilian Jiu Jitsu) e sua prática faz parte do currículo escolar e das forças armadas.
Hélio Gracie passou a difundir o Jiu Jitsu pelo Brasil e pelo mundo, participando de lutas memoráveis. Uma delas aconteceu em 1955, quando lutou contra Masahiko Kimura no Maracanã. O judoca japonês ganhou o embate, usando uma chave de braço chamada Ude Garame. Devido a esse episódio os Gracie passaram a chamar essa chave de Kimura, hoje uma das chaves mais conhecidas no Jiu Jitsu.
Considerado o mestre dos mestres, Helio Gracie faleceu aos 95 anos em 2009. Deixou seu legado e exemplo para uma legião de lutadores e uma arte marcial brasileira, que privilegia o respeito, a técnica, a vontade, hierarquia e a disciplina.
Sobre o mestre Luiz França e Osvaldo Fadda.
Publicamente, sabe-se que o mestre Luiz França faleceu no interior do Brasil em idade avançada. Infelizmente, não foi possível encontrar imagens disponíveis sobre ele. Durante sua vida ensinou o Jiu Jitsu também no Rio de Janeiro, porém levando sua arte aos mais humildes, como os moradores das favelas. Seu aluno mais célebre foi Oswaldo Baptista Fadda que manteve seu ideal de ensinar jiu jitsu às classes populares. O esforço deste seu aluno, originou outro ramo do jiu jitsu brasileiro.
Oswaldo Fadda escreveu o livro “Jiu Jitsu e a Queda do Complexo”, onde descreve os benefícios, físicos e emocionais, obtidos com a prática da “arte suave”. Trecho da obra: “Deve-se sempre ter em mente, que toda a estrutura do Jiu Jitsu é baseada no uso da estratégia, agilidade e velocidade de movimento ao invés de força bruta.”