Quinta-feira | 4 de abril, 2019 | 20h14


Apesar da renovação, Congresso continua o mesmo, preso aos velhos costumes.

Gerson Soares

O clima já começou tenso, logo na abertura da sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CCJ). As primeiras atitudes dos deputados foram os já conhecidos pedidos da “palavra pela ordem”, mas o comportamento deles foi ainda mais surpreendente, ficando muito distante do se espera de uma “casa” de leis, onde a ordem deveria imperar.

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, debate a reforma da Previdência (PEC 6/19). Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Brasilia

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, ficou calmo por poucos momentos. No entanto, assim que começaram as formulações de perguntas, a tensão ficava aparente e não demorou para que o péssimo tratamento dispensado ao Ministro levasse o novato deputado Felipe Francischini (PSL-PR) presidente da CCJ, lembrar aos demais que Guedes era um convidado, portanto deveria ser ouvido com mais cortesia.

O nível de educação de suas excelências foi descendo até chegar à notória e insolência vista por milhares de espectadores pelas redes sociais e internet. Simbolizando a renovada, porém a mesma, empáfia vista pelo menos nos últimos quatro mandatos, os filhos de ex-parlamentares. Clarissa Garotinho (PROS), filha do ex-governador Anthony Garotinho e da ex-governadora Rosinha Garotinho e Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu.

Faltou educação

Atualmente, os ex-governadores do Rio de Janeiro, pai e mãe de Clarissa, recorrem em liberdade depois de várias prisões. O mesmo acontece com o ex-ministro José Dirceu, pai de Zeca, que está em liberdade graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Os pais dos deputados que não pouparam Paulo Guedes foram enquadrados em diversos desdobramentos da Operação Lava Jato.

Se por sua vez a deputada Clarissa procurou denegrir a imagem de Guedes, dizendo não saber se ele teria tão boa memória para responder à enxurrada de perguntas que fez, quando teve a oportunidade para se pronunciar, o deputado Zeca não só desrespeitou o Ministro, chamando-o de “tigrão e tchuchuca” – este respondeu que “tchuchuca é a mãe –, mas deixou claro o nível de civilidade que se permite aos senhores parlamentares. Faltou decoro, qualidade que lhes é exigida, mas foi esquecida nesse encontro.

Muitas perguntas para pouco tempo de resposta

Notadamente seria de imaginar que não haveria tempo para responder tantas questões sensíveis impostas a Paulo Guedes. A falta de respeito não compatível com os cargos e funções que ocupam e a importância da CCJ, demonstrou claramente ao Brasil as dificuldades que serão enfrentadas para a aprovação dessa pauta que parece não interessar a uma boa parte dos deputados presentes na sessão de ontem (3).

Depois de ser duramente ofendido e se exaltar acusando os deputados, pediu uma pausa para ir ao toilete, alegando que estava à 7h tomando água. O embate com a oposição foi duro: “Vocês estão há quatro mandatos no poder, porque deram benefícios para bilionários? Porque deram dinheiro à JBS? Porque deram dinheiro para o BNDES? Vocês estiveram no poder. Nós estamos há três meses, vocês estão há 18 anos no poder e não tiveram coragem de mudar”, endureceu e foi aplaudido.

Apesar de ter sido renovado - Câmara 52% e Senado 87% - o Congresso Nacional continua dando mostras que não mudou. A oligarquia mantém os péssimos hábitos que se distanciaram há muito tempo das aspirações populares que na verdade representam. A votação da PEC 2/15, em tempo recorde deixa claro que ainda falta amadurecimento na relação entre governo e governados. A queda na Bolsa de Valores, que na projeção do PIB (Produto Interno Bruto) e a desconfiança dos investidores, demonstram ao mundo que o Brasil ainda patina, apesar dos inúmeros esforços que existem pela arrancada.

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