Da simples cabana de barro e palha ao uso do concreto armado, uma cidade muito além de suas fronteiras. Do progresso notório à pausa para reivindicar a Constituição, uma guerra contra as injustiças. A Revolução de 1932 é um marco na história de São Paulo e dos paulistas, uma história de amor e honra.

Gerson Soares


Os intrépidos paulistas sempre estiveram à frente dos movimentos e batalhas pela expansão, independência, liberdade. Desde a fundação da São Paulo de Piratininga, índios, bandeirantes, padres, baronesas, governantes, riquezas, matas, construções, estiveram ligados à história do Brasil, que é rica. Seria difícil enumerar toda a grandiosidade de São Paulo e a coragem de sua gente; quando chamados aos brios os paulistas pegaram em armas sem receio.

 

Revolução de 32 – Paulistas em armas: altas autoridades concentram-se nas escadarias da Catedral da Sé, ainda em construção. Foto: livro “Lembranças de São Paulo”

Revolução de 32 – Paulistas em armas: altas autoridades concentram-se nas escadarias da Catedral da Sé, ainda em construção. Foto: livro “Lembranças de São Paulo”

 

São Paulo é famoso pelo ritmo intenso, por não parar, pela agitação dos seus habitantes, mas também é conhecida pelo desenvolvimento cultural, gastronômico, industrial e científico, dentre tantas outras características que estão ligadas ao seu progresso, crescimento e expansão, das quais destacamos as construções e a obtenção de recursos hídricos, situando-nos entre o final do século XIX e o início do século XX.

Nascido na simplicidade do barro em 1554, foi assim descrita pelo Padre Anchieta:

“Desde janeiro até o presente, estivemos às vezes mais de vinte em uma casa pobrezinha feita de barro e paus e coberta de palha, de 14 passos de comprimento e 10 de largura, que é no mesmo tempo escola, enfermaria, dormitório, refeitório, cozinha e despensa…”.

No livro “A Construção da Cidade”, publicado pelo Instituto de Engenharia, Pedro Cavalcanti fala de outra obra:

“Um dos marcos, hoje desaparecido, da grande transformação de São Paulo foi o primeiro Viaduto do Chá. Aprovado desde 1877, sua conclusão ficou retardada até 1892, pela teimosia da Baronesa de Itapetininga, contestando a desapropriação de sua chácara, que ocupava o fundo do Vale do Anhangabaú e de sua casa, na Rua Direita, em frente ao futuro viaduto. Só abandonou o imóvel quando a Intendência Municipal chegou com a polícia para iniciar a demolição. O viaduto permitiria a formação e o crescimento do chamado Centro Novo, lugar anteriormente ocupado por grandes chácaras de famílias”.

Outra referência para entender como evoluiu a cidade foi a criação de ruas e os nomes que receberam. No dia 4 de dezembro de 1882, a Baronesa da Limeira enviou um requerimento à Câmara Municipal de São Paulo. Proprietária de uma chácara declarou que:

“(…) tendo resolvido abrir ruas em parte da dita sua chácara, oferece à aprovação da Câmara a planta que acompanha a sua petição(…). Em frente ao atual portão da chácara abrirá uma longa rua que a Suplicante entregará à Câmara completamente nivelada, pedindo que a ela seja dada a denominação de Alameda do Barão de Limeira”.

E assim foi feito conforme consta no livro “Câmara Municipal de São Paulo – 1560-1998 – Quatro séculos de história”, de Délio Freire dos Santos e José Eduardo Ramos Rodrigues.

 

Antigo Viaduto do Chá sobre o Vale do Anhangabaú, ainda com pomares e plantação, por volta de 1900. Foto: livro “Lembranças de São Paulo”

Antigo Viaduto do Chá sobre o Vale do Anhangabaú, ainda com pomares e plantação, por volta de 1900. Foto: livro “Lembranças de São Paulo”

 

Mas, esse empreendimento seria seguido por outros como o do uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, que abriu e loteou a Avenida Paulista em 1892, antes uma trilha para boiadas tocadas para o Matadouro de Vila Mariana. A avenida símbolo de São Paulo logo seria ocupada por diversos palacetes, construídos com o dinheiro do café. No início do século XX, a Prefeitura que se preocupava com o crescimento da cidade, contrata o arquiteto francês Joseph Antoine Bouvard, diretor dos serviços de arquitetura e de viação de Paris, que elaborou o relatório Bouvard. Dentre as considerações constava a necessidade da “criação de espaços livres, de centros de vegetação, de reservatórios de ar”, que continuava, “mais a população aumentará, mais alto subirão os edifícios, mais se imporá a urgência de espaços livres, de praças públicas, de jardins”.

O relatório abriu os olhos da iniciativa privada e em 1911, a companhia inglesa City of São Paulo Improvments and Freehold Co., comprou uma área de cerca de um milhão de metros quadrados e lançou dois loteamentos estritamente residenciais, impondo regras desconhecidas no Brasil. Estava lançada a pedra fundamental do Jardim América e Jardim Europa, onde os lotes foram divididos entre 450 e 3.000 m2.

“As casas deveriam ocupar o centro dos terrenos, não se permitindo edifícios, sobradinhos, casas geminadas e, muito menos, estabelecimentos comerciais, a não ser em trechos determinados”.

A Cia. City, como ficou conhecida, ainda faria o mesmo nas áreas do Pacaembú e nas chamadas City Butantã e City Lapa. Projetos de sucesso como esses contrastavam com os problemas de uma cidade que nunca parou de crescer.

 

Residências Siciliano e Andraus (à direita) na Avenida Paulista, por volta de 1900. Foto: livro “Lembranças de São Paulo”

Residências Siciliano e Andraus (à direita) na Avenida Paulista, por volta de 1900. Foto: livro “Lembranças de São Paulo”

 

Em 1907, o engenheiro Augusto Carlos da Silva Telles, reclamava do estado das ruas do Brás e da Mooca, que se achavam:

“na rústica primitividade – com o vestígio de um nivelamento conveniente que dê destino às águas, sem uma trilha que ofereça passagem a pé enxuto, ruas que se transformam em tremedais e caldeirões, apenas chove dois ou três dias”.

Para a cidade que em 1872 era a décima do país com 26 mil habitantes, que chegaria aos 240 mil em 1900 e aos 580 mil em 1920, obter energia e água para a população e a crescente instalação de fábricas e indústrias era uma necessidade urgente. A maior obra hidrelétrica dos primeiros 25 anos do século XX, considerada um clássico da engenharia, foi a Usina de Cubatão, projetada e construída pelo engenheiro norte-americano Asa White Kenney Billings, conhecido mundialmente por suas obras nos E.U.A., Cuba, México.

Billings chegou em 1922 para estudar as possibilidades de novos recursos hidrelétricos, voltando seus olhos para a Serra do Mar. O projeto básico apresentado por ele foi muito ampliado e o represamento do Rio Grande, principal afluente do Rio Pinheiros, permitiu o armazenamento de 1 bilhão de metros cúbicos de água num reservatório que se unia por um canal a um outro reservatório formado pelo Rio das Pedras. A represa, que mais tarde se chamaria Billings, permitia a captação de água que descia quase na vertical até a Usina de Cubatão, chamada depois de Henry Borden I. Quatro anos depois de sua chegada, a usina entra em funcionamento com capacidade de 70.000 kw, a maior do mundo na época.

Atualmente, São Paulo concentra os negócios e serviços, enquanto a maioria das fábricas saiu da cidade, dirigindo-se à periferia, dando origem aos núcleos produtores de automóveis, eletroeletrônicos, alimentação e tantos outros. O controle parece estar sempre se perdendo, principalmente no que diz respeito ao item segurança.

Estrangeiros de nacionalidades tão diversificadas quanto suas obras, ajudaram na construção deste patrimônio chamado São Paulo. Imigrantes, gerações de seus descendentes brasileiros, migrantes e paulistas natos, juntos escrevem diariamente a história da cidade que não consegue mais parar, nem de abraçar a todos que aqui chegam. Mas que também se levantou contra a ditadura, as arbitrariedades e a injustiça em plena desvantagem contra as forças governistas, mostrando destemor e honra, amor pela Pátria, pela Ordem e pelo Progresso.

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