Gerson Soares

Nenhum outro judoca atingiu grau tamanho no bairro quanto Tambucci, um verdadeiro Kodansha. Sua importância para a arte do Judô, transcende a São Paulo e ao Brasil.

Homenageado em livreto elaborado pelo Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPUSP) em 2003, cujo dojô passou a chamar-se Professor Luiz Tambucci é mais uma lenda das artes marciais, um exemplo de conduta, abnegação pelo esporte e as marcas deixadas por ele estão espalhadas pelas inúmeras entrevistas e livros onde é citado. Permaneceu com suas aulas de Judô até o final da vida, dos nove aos 90 anos.

Alô Tatuapé fez uma homenagem ao mestre Tambucci, na edição de março de 2011, no suplemento esportivo da revista um ano antes do seu falecimento, que ocorreu na tarde do dia 25 de maio de 2012. Naquela oportunidade, estava há poucos meses de comemorar 89 anos de vida, 71 deles dedicados ao Judô, tendo começado com os irmãos Ono, em 1931.

 

Mestres Pedra, à esquerda, atrás do mestre Tambucci, graduados e alunos da Xtreme no dia 3 de março de 2011. Foto: aloimage / GS

 

Tive a honra de treinar com ele na Xtreme Gold Team no Tatuapé, onde todas as quartas-feiras ele comparecia e iniciava com as técnicas de Judô, a aula de Jiu Jitsu que viria em seguida com o mestre Pedra. Tambucci era sempre acompanhado pelo mestre Paulino, que hoje continua nas aulas de Judô às quartas. Certa noite, no vestiário, vendo a dificuldade do velho mestre em dobrar-se para amarrar os sapatos, ajoelhei e amarrei-lhe o calçado. Ele sentiu-se aliviado do esforço e eu senti-me como uma criança que ajudava seu mestre. Jamais me esquecerei das suas palavras de incentivo. Infelizmente, foram poucas as oportunidades e o conheci muito tarde para mim, menos de dois anos aprendi nas suas aulas. Conhecê-lo já em idade avançada, dava a impressão de treinar com alguém que tinha a essência do Judô, que ele seria capaz de ensinar com precisão e técnica irreparáveis. Suas mãos e pés totalmente calejados e marcados pela luta revelavam seus anos de experiência. Como mestre da arte marcial do Judô, é um exemplo em todos os sentidos.

O professor Tambucci, como era conhecido, recebeu alguns exemplares da revista, disse que guardaria e daria a alguns amigos. Foi ele quem nos forneceu o livreto do CEPUSP para leitura, tempos antes. O mestre esteve nas páginas da Alô Tatuapé várias vezes, antes dessa homenagem. Mas nós ainda não o conhecíamos pessoalmente. Foram imagens entregues pelos pais de seus pequenos alunos, moradores do bairro, que ficavam honrados em ter uma foto publicada na revista ao lado do professor.

 

Capa do suplemento esportivo Alô Tatuapé Esportes. Março de 2011 - Edição nº 4.

 

Kodansha é uma palavra japonesa que ficou assim traduzida para o português, mas seu significado é muito mais amplo do que mostram as oito letras do alfabeto latino. Na história das artes marciais e escrita nipônica é possível entender melhor a profundidade desse termo.

Hoje (08/05/2014), reproduzimos na sequência, a reportagem que homenageou o professor Tambucci sem alterações ou correções de datas e título. Para que o texto conste neste site originalmente da forma como foi editado. Neste mês, já se vão dois anos sem suas aulas, sem sua presença. Mitos não morrem, mas sempre é bom lembrar deles.