Sexta-feira, 26 de junho de 2015, às 09h53 - atualizado às 16h46
Cada vez que o secretário Jilmar Tatto vem a público falar sobre mudanças e projetos tem início uma polêmica. Talvez, fosse interessante mudar o apelido ou acrescentar “bonzinhos” aos marronzinhos e por extensão aos agentes de trânsito que se escondem nas sombras para multar.
Gerson Soares
E não foi diferente quando a CET divulgou sua pesquisa sobre Controle de Qualidade da Segurança no Trânsito, durante a 13ª reunião ordinária do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito, coordenada pelo secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, no último dia 19.

Sem vagas para tantos carros, o Tatuapé é um campo enorme para autuações, como acontece nesta imagem, feita na Rua Euclides Pacheco, enquanto o agente de trânsito (ao longe no centro da imagem) multa os incautos, que por outro lado já não têm mais vagas para estacionar. Espaços públicos e ruas do bairro que poderiam ter estacionamentos, inclusive em 45º, sequer são mencionados pela Secretaria Municipal de Transportes. O programa CET no Seu Bairro, não foi levado adiante pelo secretário Tatto, parou muito antes de chegar ao Tatuapé, um dos bairros que mais cresce em população e veículos. Foto: aloimage
“Há uma parcela dos motoristas que entendem que não há fiscalização na cidade de São Paulo. Essa pesquisa mostrou o quão grave é o comportamento de uma grande parcela dos motoristas da cidade. Faremos uma fiscalização por amostragem e, portanto, de forma aleatória, para que o motorista tenha a sensação de que poderá vir a ser fiscalizado e para que vigie a si próprio”, afirmou durante a reunião.
A pesquisa mostra que cruzamentos com semáforos, o maior índice de infrações se deu pelo não uso da seta (de 26,13% a 39,75%, a depender do dia), seguido pelo não uso de cinto de segurança (de 7,37% a 16,06%). Proporcionalmente, os veículos que mais cometeram infrações foram motos (de 69,68% a 84,62%), seguidos de caminhões (de 60,71% a 85,71%).
Portanto, os condutores de automóveis já estão mais disciplinados e diferente dos outros, como pode ser notado, adequando-se aos novos tempos, onde a velocidade média em dia sem trânsito intenso na cidade não passa dos 60 km/h. Dificilmente um automóvel consegue ultrapassar esse limite nas ruas e avenidas, a não ser nas Marginais – isso quando estão sem congestionamentos.
Não é possível generalizar a atitude de todos os motoristas, a compará-los com as sandices ainda cometidas por quem ainda não entendeu que a cidade nem comporta o número de veículos existente e que é impossível trafegar em alta velocidade ou fazer manobras arriscadas para satisfazer a pressa ou a ansiedade e demonstrações de perícia ao volante. Ainda existem motoboys, que arriscam a própria vida e colocam em perigo outros motoristas, além dos próprios colegas de trabalho – motoboys afirmam a pressão exercida por outros motociclistas para que acelerem expondo-se ao perigo.
A generalização ocorre quando o órgão que melhor representa a secretaria de Transportes, divulga que metade dos motoristas comete infrações nos cruzamentos da cidade e que 10 pessoas são mutiladas por esses infratores, únicos culpados pelas atrocidades do trânsito, deixando outros 50% isentos de culpa. A pesquisa diz ainda que a cada 4.416 infrações, apenas uma multa é aplicada, o que deixa a impressão de que o órgão – que aplicou 10,6 milhões de multas em 2014 – é bastante condescendente.
O grande caso é que as verbas dessas multas desaparecem e aguardamos ansiosamente um demonstrativo de suas destinações, que foram aplicadas integralmente na educação do trânsito e em outras áreas que auxiliem nesse objetivo. Mas pior do que causar dúvidas sobre a indústria que gira em torna dessas polpudas verbas, é a complacência da secretaria municipal de Transportes e demais órgãos públicos encarregados de fiscalizar esse setor, a respeito das máfias que agem com autorização e em nome do Detran, distribuindo e viabilizando novas CNHs (Carteira Nacional de Habilitação), sem a devida qualificação dos pretendentes, basta ter dinheiro e pagar.
“Quando a gente fala que existe a indústria da multa, eu costumo brincar que ela está na idade da máquina a vapor, enquanto a indústria de infrações está na velocidade da luz.”, disse o engenheiro responsável pela metodologia adotada pela pesquisa do CET, engenheiro Horácio Augusto Figueira, mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (USP).
A atuação de autoescolas, CFCs e despachantes e advogados que agem nos bastidores para liberar e desvencilhar motoristas infratores de suas responsabilidades, também são culpados pelas mortes no trânsito e a indisciplina dos motoristas, que continuam cometendo crimes e infrações na certeza de que tudo é possível, basta ter dinheiro e um bom contato nos bastidores da indústria das multas. Se essa fábrica de fazer dinheiro está na idade da máquina a vapor, imagine quando chegar na supersônica.
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