Depois da adaptação aos alimentos, admiração pelo cenário e dos estímulos pelas oportunidades em uma terra muito diferente, os imigrantes japoneses encontraram seu lugar no Brasil e, na bagagem, trouxeram costumes e tradições milenares.
Oficialmente, o início da imigração dos japoneses ao Brasil foi em 18 de junho de 1908. Eles enfrentaram barreiras linguísticas, culturais, condições de trabalho difíceis. Ao longo dos anos, a comunidade nikkei contribuiu para o desenvolvimento do Brasil em diversas áreas. Dentre as contribuições, estão os alimentos e a produção agrícola. Entre os principais alimentos trazidos por eles, destacamos a batata-doce, o rabanete, nabo, pepino, a acelga; as frutas como o caqui, morango e maçã fuji, entre outros.
Esta é uma das histórias que envolve a imigração japonesa e as diferenças culturais, mas há outras tantas histórias de sucesso, a continuidade e manutenção da sua própria cultura e o respeito pela diversidade cultural brasileira, que já celebra 130 anos do “Tratado de Amizade Brasil-Japão” e da imigração japonesa para o Brasil, iniciada com a chegada do navio Kasato Maru, completando 117 anos em 2025.

Jindai Sakura, com dois mil anos de existência, especialmente cuidada, com várias estruturas que ajudam na sustentação de seus galhos. Foto: Organização de Turismo Yamanashi
Cerejeira mais antiga do Japão
Parte importante dos costumes japoneses, o Hanami e o Sakura Matsuri, também cruzaram o oceano. Um exemplar simbólico dessa cultura é a cerejeira Jindai Sakura. Com idade estimada em 2000 anos, ergue-se imponente nos jardins do Templo Jisso-ji, que está localizado na cidade de Hokuto, província de Yamanashi.
A forma como continua a florescer por todo esse período de tempo inimaginável é considerada divina. De acordo com a Associação de Turismo da Cidade de Hokuto, as pessoas que a veem não conseguem evitar juntar as mãos em oração, e ela passou a ser reverenciada pelos amantes das cerejeiras em todo o país.
A árvore milenar tem 10,3 m de altura e 11,8 m de circunferência na base e no tronco, é uma das maiores e mais antigas árvores japonesas e, durante a era Taisho (1912-1923), tornou-se o primeiro monumento natural. Em 1990, foi selecionada como uma das “Novas 100 Árvores Famosas do Japão”.
Muito tempo antes, por volta do século XIII, o monge budista Nitiren (1222-1282), a viu em uma fase de deterioração e rezou por sua recuperação, e ela se regenerou, razão pela qual também é conhecida como “Myoho Sakura”, que significa “flor de cerejeira do Saddharma”.
Segundo a lenda, se deve a outro personagem famoso a existência da Jindai Sakura. Quem a teria plantado foi o lendário senhor da guerra Yamato Takeru no Mikoto, também conhecido como “Príncipe Otsu”, que plantou a árvore quando viajou para a região, que fica próxima ao Monte Fujiyama. Ele foi o 12º Tenno ou Imperador do Japão.
Beleza e contemplação com alegria
As tradições culturais milenares viajaram na mente dos imigrantes japoneses que trouxeram ao Brasil a beleza da sakura ou cerejeira. Originalmente envolta em rituais antigos, a floração da árvore determinava a época de plantar o arroz.
“O Sakura Matsuri, originalmente, era um festival para comemorar a colheita, anunciando a estação de plantação de arroz. Nestas ocasiões, as cerejeiras em flor ofereciam sua beleza, banquetes eram organizados sob suas copas, regados a saquê e iguarias preparadas com muito esmero, como o dangô e o bentô”, escreveu Mamoru Matsuda da Nippo Brasília Cultura Japonesa.
Matsuda ensina sobre o Hanami e lembra que este momento ímpar de beleza e serenidade nos leva a admirar a paisagem das cerejeiras em flor e o tapete de pétalas que forra o chão sob as árvores. “No Japão, essa atividade se chama contemplar as flores ou Hanami — Hana (flor) e Mi (ver, olhar). Quando as cerejeiras atingem a plena floração, o que se dá no início da primavera, acontece esta tradicional celebração japonesa, que consiste na contemplação da flor Sakura, símbolo nacional japonês, da cerejeira Prunus serrulata. A árvore da cerejeira é considerada pelos japoneses símbolo de longevidade e sabedoria. Já no Brasil, em contraste com o país do Sol Nascente, a floração das cerejeiras e o Hanami podem ser apreciados durante o inverno.”
Festa das Cerejeiras em São Paulo
A capital paulista possui a maior concentração de imigrantes japoneses do país e a maior comunidade fora do Japão. Por isso, percebe-se a forte influência dessa cultura. Uma das mais notáveis é a Festa das Cerejeiras, que acontece anualmente no Parque do Carmo, zona leste de São Paulo.
Neste ano, as atrações incluem muita comida gostosa, shows e atrações, a partir de sexta-feira (25) e nos dias 26, 27 de julho. A festa continua no final de semana seguinte, em 1º, 2 e 3 de agosto, das 11 às 17 horas durante a semana, e das 9 às 17 horas aos sábados e domingos.
Saiba como chegar utilizando o transporte público
Ainda de acordo com Matsuda: “Este ambiente florido de cerejeiras propiciava, também, aos apreciadores da arte de escrever, de expressar em poemas um paralelo entre a exuberância e a efemeridade da flor e a transitoriedade da vida. As flores de sakura, por durarem apenas duas semanas, mostravam assim que, como na vida, as coisas são passageiras, mas são muito intensas, que devem ser aproveitadas ao máximo em seu período de vigor e de cultivar a gratidão pelo que a natureza e a vida nos oferecessem.”
Destaque – Imagem: aloart / G.I. / IA image




