Leia sobre as possíveis consequências das mudanças climáticas que o planeta está enfrentando e por que a contribuição de cada um é importante. Este estudo foi divulgado há 3 anos, faz parte de uma pesquisa ainda maior e expõe fatos extremamente atuais, analisando possibilidades de convivência com desafios extremos, como as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul em 2024, o maior desastre natural da história do estado brasileiro.

Science News


As mudanças climáticas afetam a sociedade gradualmente, exceto quando isso não acontece. O lento aumento do nível do mar, por exemplo, faz com que as águas subam gradativamente mais alto nas costas ano após ano. Mas quando surge uma grande tempestade — o que pode estar acontecendo com mais frequência devido às mudanças climáticas — as consequências se tornam muito mais óbvias. A maré de tempestade inunda rapidamente comunidades e causa estragos desproporcionais. É por isso que a cidade de Nova York instalou comportas em seu sistema de metrô e túneis após a supertempestade Sandy de 2012, e por que a nação insular do Pacífico de Tuvalu pediu à Austrália e à Nova Zelândia que estejam preparadas para acolher refugiados que fogem da elevação do nível do mar.

A lista de impactos climáticos é infinita — e, em muitos casos, as mudanças estão ocorrendo mais rapidamente do que os cientistas previam algumas décadas atrás. Os oceanos estão se tornando mais ácidos à medida que absorvem dióxido de carbono, prejudicando minúsculos organismos marinhos que constroem conchas protetoras de carbonato de cálcio e são a base da teia alimentar marinha. Águas mais quentes estão branqueando os recifes de corais. Temperaturas mais altas estão levando espécies animais e vegetais para áreas onde antes não viviam, aumentando o risco de extinção para muitas delas. “Não se trata mais de impactos no futuro”, diz Rachel Cleetus, especialista em políticas climáticas da Union of Concerned Scientists. “Trata-se do que está acontecendo nos EUA aqui e agora, e em todo o mundo.”

 


Mudança histórica e projetada da temperatura global

E. Otwell; Fonte: IPCC

 

Diversos cenários sobre como as emissões de gases de efeito estufa podem mudar no futuro ajudam os cientistas a prever as mudanças climáticas futuras. Este gráfico mostra a tendência histórica simulada da temperatura, juntamente com projeções futuras da temperatura da superfície global com base em cinco cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. A mudança de temperatura é a diferença em relação à média de 1850-1900.


 

Nenhum lugar no planeta está imune aos efeitos. Em muitas áreas, temperaturas mais altas levaram a grandes secas, que secam a vegetação e fornecem combustível adicional para incêndios florestais como os que devastaram a Austrália, o Mediterrâneo e o oeste da América do Norte nos últimos anos. O Rio Colorado, fonte de água para dezenas de milhões de pessoas no oeste dos Estados Unidos, entrou em alerta de escassez de água em 2021 pela primeira vez na história.

Há também o Ártico, onde as temperaturas estão subindo mais que o dobro da média global e as comunidades estão na vanguarda das mudanças. O permafrost está derretendo, desestabilizando prédios, oleodutos e estradas. Criadores de caribus e renas se preocupam com o aumento do risco de parasitas para a saúde de seus animais. Com menos gelo marinho disponível para proteger a costa da erosão causada por tempestades, a aldeia inupiat de Shishmaref, no Alasca, corre o risco de desabar no mar. Ela precisará se deslocar de sua ilha de barreira de areia para o continente.

 


Rastreando uma geleira da Groenlândia

Fotos: Nasa

 

 

A frente de desprendimento — borda de uma geleira onde ocorre o desprendimento de blocos de gelo, formando icebergs ou outros pedaços menores — da Geleira Helheim, na Groenlândia, que flui em direção ao mar, onde se desintegra em icebergs, manteve-se praticamente na mesma posição da década de 1970 até 2001 (à esquerda, a frente de desprendimento está na extrema direita da imagem). Mas, em 2005 (à direita), havia recuado 7,5 quilômetros em direção à sua nascente.


 

“Sabemos que essas mudanças estão acontecendo e que o Titanic está afundando”, diz Louise Farquharson, geomorfóloga da Universidade do Alasca em Fairbanks, que monitora o permafrost e as mudanças costeiras ao redor do Alasca. Como muitos cientistas do Ártico, ela está trabalhando com comunidades indígenas para entender as mudanças que estão vivenciando e o que pode ser feito quando os prédios começam a ceder e os suprimentos de água começam a se esgotar. “Uma grande parte é simplesmente ouvir os membros da comunidade e entender o que eles estão vendo mudar”, diz ela.

Em todo o planeta, aqueles que dependem de ecossistemas intactos para sua sobrevivência enfrentam a maior ameaça das mudanças climáticas. E aqueles com menos recursos para se adaptar às mudanças climáticas são os que sentem isso primeiro.

“Vamos aquecer”, diz Claudia Tebaldi, climatologista do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia. “Não há dúvida. A única coisa que podemos esperar é aquecer um pouco mais lentamente.”

Essa é uma das razões pelas quais o relatório do IPCC (The Intergovernmental Panel on Climate Change), divulgado em 2021 se concentra nos níveis previstos de aquecimento global. Há uma grande diferença entre o aquecimento do planeta em 1,5 grau versus 2 graus ou 2,5 graus. Considere que estamos agora pelo menos 1,1 grau acima dos níveis pré-industriais de CO2 e já estamos testemunhando mudanças drásticas no clima. Diante disso, manter novos aumentos da temperatura global o mais baixo possível fará uma grande diferença nos impactos climáticos que o planeta enfrenta. “A cada fração de grau de aquecimento, tudo fica um pouco mais intenso”, diz a paleoclimatologista Jessica Tierney. “Não há mais tempo para rodeios.”


Fonte: Science News, publicado em 10 de março de 2022.


Destaque – Sobrevoo em Canoas, região de Porto Alegre. Foto: Ricardo Stuckert / PR


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