Tendo como protagonista o motociclista Bruno dos Santos, ele deixa uma mensagem em nome de novos hábitos: ‘Os minutos que tentei recuperar com a velocidade perdi para o resto da vida’. Vídeo exemplifica e leva a reflexões sobre o valor da saúde em relação ao tempo.
Entregadores de pizza, portadores e uma infinidade de trabalhadores utilizam a motocicleta como meio de subsistência. O que deveria ser algo produtivo se tornou uma disputa de tempo e espaço. Não é preciso fazer grande esforço para presenciar os próprios motoqueiros pressionando-se em corredores como o da Radial Leste ou mesmo nas ruas dos bairros, por alguns segundos. Uma disputa sem fim e, talvez, com um propósito financeiro. Mas todos esses fatores somados podem levar a uma situação ainda pior.
O Detran-SP lançou no dia 1º de outubro uma campanha focada em mudança de comportamento para reduzir mortes de motociclistas, em resposta ao aumento de 12% nas fatalidades no trânsito. As peças publicitárias usam pesquisa e depoimentos reais para alertar: ‘Não corra. A velocidade não perdoa’.
A iniciativa é uma resposta direta ao atual cenário da segurança viária no estado, que, em 2024, registrou 2.630 mortes no trânsito – aumento de 12% em relação a 2023. A campanha foi desenvolvida em parceria com a Iniciativa Bloomberg para a Segurança Viária Global (BIGRS), com apoio técnico da Vital Strategies.
Dados foram o ponto de partida para definir o foco: motociclistas representam 43% de todas as vítimas fatais de trânsito, sendo o perfil mais vulnerável o de homens até 24 anos. A análise revelou que 38% dos sinistros fatais com motos em cidades como São Paulo e Campinas não envolveram outros veículos, indicando que a velocidade excessiva é fator determinante. Além da tragédia humana, o impacto econômico é severo: estima-se que os sinistros de trânsito na cidade de São Paulo, sozinhos, geraram uma perda de produtividade superior a R$ 3,3 milhões em 2024.
“Os dados mostram que precisamos agir. Esta campanha não é apenas para informar, é para provocar uma mudança real de comportamento, mostrando que a escolha de acelerar tem consequências irreversíveis”, diz Roberta Mantovani, diretora de Segurança Viária do Detran-SP
Para construir uma narrativa efetiva, a estratégia incluiu testes de mensagem com o público-alvo. Os resultados mostraram que, embora os motociclistas conheçam os riscos, eles são pressionados pelas necessidades financeiras, de trabalho e, inclusive, são atraídos pela adrenalina. A campanha busca desconstruir essa ideia, focando nas abordagens de maior impacto: o sentimento de culpa por ferir outra pessoa e a dor causada à família. O formato de depoimento real foi o que se provou mais relevante e eficaz.
‘Os minutos que tentei recuperar com a velocidade perdi para o resto da vida’, lamenta o participante de campanha do Detran pela conscientização dos motociclistas, Bruno dos Santos, protagonista da nova campanha educativa do Detran-SP, que teve a perna amputada depois de acelerar para compensar atraso.
“Diversas vezes, enquanto trabalhava com minha moto, eu via casos na rua. Nunca pensei que poderia ser eu um dia ali, no lugar daquelas pessoas. Não podia nem imaginar o que elas estavam passando e iriam passar. Hoje eu sei. É um impacto não só na minha vida, mas na vida da minha família.” Assim, Bruno dos Santos, de 33 anos, resumiu a experiência que vive desde 8 de maio, quando, ao acelerar a moto, foi ao chão e teve a perna amputada.
Confrontado com uma mudança radical de vida, hoje com limitações, Bruno sentiu que precisava conscientizar outros motociclistas.
“O mais difícil é aceitar que precisamos das pessoas para fazer as coisas mais simples. Dependo de ajuda da minha esposa, de amigos, de familiares. Meus parentes às vezes precisam dar um auxílio financeiro”, disse Bruno, que precisou parar de trabalhar e encarar a reabilitação depois da lesão.
“Na véspera do acidente, parei para ver um jogo com amigos, cheguei em casa tarde e acordei atrasado no dia seguinte. Para compensar, quis acelerar minha moto. Aqueles minutos que eu pensei que estivesse recuperando, eu, na verdade, perdi para o resto da vida.”
“Esta campanha, diferente das outras, teve início com uma série de grupos de discussão, em que debatemos como atingir o público que os dados mostravam ser o mais suscetível aqui: o de homens jovens”, disse o presidente do Detran-SP, Eduardo Aggio, comentando a estratégia adotada no desenvolvimento das peças.
“Vimos que falar do respeito à legislação em si ou do risco hipotético de uma tragédia não causava tanta comoção entre os participantes como tratar das sequelas dos sinistros para o próprio motociclista e para a família”, contou Aggio. “Procuramos assim inaugurar uma nova perspectiva, concreta, para identificar nosso público-alvo, a mensagem e a maneira de torná-la mais eficaz.”
Destaque – Confrontado com uma mudança radical de vida, hoje com limitações, Bruno sentiu que precisava conscientizar outros motociclistas. Foto: Governo SP





