Diversos setores, como o agronegócio, minério de ferro ou petróleo bruto, laranja, aço, café e aeronaves; federações das indústrias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre outros estados, repercutem o aumento da tarifa de exportação imposta pelo presidente americano Donald Trump.
Segundo a carta que enviou na quarta-feira (9) ao presidente brasileiro, Trump considerou fatores como as políticas tarifárias e não-tarifárias para sua decisão. Outro fator que deve ser considerado foi a nova Lei nº 15.122, publicada no dia 11 de abril de 2025, conhecida como lei da reciprocidade econômica, que em resumo permite retaliar ações estrangeiras, autorizando o Poder Executivo, em coordenação com o setor privado, “a adotar contramedidas na forma de restrição às importações de bens e serviços ou medidas de suspensão de concessões comerciais, de investimento e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual e medidas de suspensão de outras obrigações previstas em qualquer acordo comercial do país”.
No entanto, o documento enviado por Trump começa chamando de “caça às bruxas” e “vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele também lembrou das ameaças de milhões de dólares de multas e censuras impostas a empresas de mídia social norte-americanas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Portanto, demonstra a indignação internacional com os fatos que vêm ocorrendo no Brasil, quanto a decisões polêmicas da Suprema Corte.
Colapso nos principais setores de exportação brasileiros
Por sua vez, o presidente do Brasil anunciou no mesmo dia que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da lei brasileira de reciprocidade econômica”. Nesta quinta-feira (10), o petista concedeu entrevistas e emitiu nota publicada em diversos veículos internacionais sobre o tema. Reafirmando sua posição.
A notícia do aumento da tarifa de exportação para 50% surpreendeu os setores que mais exportam para os Estados Unidos e já falam em colapso econômico, se for mantida a nova taxa para os produtos brasileiros a partir do dia 1º de agosto, apesar de existirem possibilidades de as mercadorias seguirem para outros países consumidores.
EUA é o segundo maior parceiro para as exportações brasileiras, atrás da China. Segundo especialistas, o Brasil depende mais dos Estados Unidos do que o contrário.
Repercussão internacional
O The New York Times publicou texto sobre a medida, afirmando que a tensão comercial entre o Brasil e os EUA teve um início repentino. Mas, na verdade, começou com a tarifação de 10% em 2 de abril. Dias depois, o Brasil publicou a lei de reciprocidade. “Trump parece condicionar o fim das tarifas à suspensão do processo contra Bolsonaro”, diz o texto do jornal.
O Washington Post publicou que a medida se refere “a relações pessoais e alinhamentos políticos”, mais do que a fundamentos econômicos, e “é claramente atrelada ao julgamento de Bolsonaro”.
De acordo com a BBC, ambos os jornais afirmaram que é falsa a informação de que os Estados Unidos têm um déficit comercial com o Brasil, como Trump afirmou em carta.
O The Guardian chamou de “exaltada” e “marcadamente diferente” a carta do presidente americano, se comparada a outras cartas tarifárias que ele costuma enviar.
Abaixo, a íntegra da carta enviada ao governo brasileiro:
À sua excelência,
Luiz Inácio Lula da Silva,
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília,
Prezado Senhor Presidente:
Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Devido em parte aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (conforme recentemente ilustrado pela Suprema Corte brasileira, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS às plataformas de mídia social dos Estados Unidos, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e suspensão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos e quaisquer produtos brasileiros enviados para os Estados Unidos, desvinculados de todas as tarifas setoriais. As mercadorias transbordadas para fugir desta tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais elevada.
Além disso, tivemos anos para discutir nossa relação comercial com o Brasil e concluímos que devemos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta gerada pelas políticas tarifárias e não-tarifárias e pelas barreiras comerciais do Brasil. Nosso relacionamento tem estado, infelizmente, longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que o número de 50% é muito menor do que o necessário para termos condições de concorrência equitativas que devemos ter com o seu país. E isso é necessário para retificar as graves injustiças do atual regime. Como você sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas de seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos todo o possível para obter aprovações de forma rápida, profissional e rotineira – em outras palavras, em questão de semanas.
Se por algum motivo você decidir aumentar suas tarifas, então, qualquer que seja o número que você escolher para aumentá-las, será adicionado aos 50% que cobramos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não-tarifárias e barreiras comerciais do Brasil, causando esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Este déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional! Além disso, devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades de comércio digital de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais injustas, estou instruindo o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 do Brasil.
Se você deseja abrir seus mercados comerciais até então fechados para os Estados Unidos e eliminar suas políticas e barreiras comerciais tarifárias e não-tarifárias, talvez consideremos um ajuste nesta carta.
Estas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo da nossa relação com o seu país. Você nunca ficará desapontado com os Estados Unidos da América.
Obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos,
Sinceramente,
Donald J. Trump
Presidente dos Estados Unidos da América
Destaque – O presidente Donald Trump assina uma Ordem Executiva sobre os planos tarifários do governo no evento “Make America Wealthy Again”, quarta-feira, 2 de abril de 2025, no Jardim de Rosas da Casa Branca. Foto oficial da Casa Branca por Daniel Torok




