Apesar da queda nos roubos – quando há violência –, os furtos registraram aumento. A partir desta análise de dados, realizada pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) – referência nacional em Educação na área de negócios desde 1902, localizada no Largo de São Francisco e atualmente no bairro da Liberdade em São Paulo – deixará de utilizar o número total de aparelhos subtraídos para adotar o número de Boletins de Ocorrência (B.O.) registrados para furtos e roubos de celulares.


Levantamento realizado pelo Centro de Estudos em Economia do Crime da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) revela a diminuição de 1,83% nas ocorrências de furtos e roubos de aparelhos celulares no Estado de São Paulo entre os meses de janeiro e maio de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado. O estudo foi feito a partir da análise de boletins de ocorrência registrados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) estadual.

Tabela Comparativa dos Roubos e Furtos de Celulares (Jan-Mai 2024/2025)

 

Fonte: FECAP

 

Enquanto os roubos de celulares, que envolvem violência ou grave ameaça, apresentaram uma queda expressiva, os furtos, baseados na oportunidade e na distração da vítima, registraram um aumento. Segundo o pesquisador responsável pelo levantamento, professor Erivaldo Vieira, esta dualidade aponta para uma mudança no perfil do crime e exige estratégias de segurança distintas.

Roubos

Os roubos apresentaram redução significativa, totalizando queda de 10,41% entre 2024 e 2025. Os meses de abril e maio destacaram-se com diminuições mais intensas, chegando a 14,77% e 14,62%, respectivamente. Fevereiro também apresentou uma redução importante de 12,34%. Janeiro e março registraram quedas mais moderadas.

 

Fonte: FECAP

 

Furtos

O total de furtos aumentou em 5,09% em 2025 comparado ao mesmo período de 2024. Destaque especial para março, com uma alta expressiva de 17,05%, seguido por janeiro (8,87%) e maio (7,80%). Apenas fevereiro e abril tiveram redução, com destaque negativo para fevereiro, que apresentou uma queda de 4,61%.

O comportamento dos furtos em 2025 foi marcado pela instabilidade e por uma tendência geral de alta. O ano registrou um pico expressivo em março (14.779 casos), muito acima da média dos outros meses. Mais importante ainda é a tendência recente: após uma queda em abril, o número de furtos voltou a crescer de abril para maio, com uma alta de 7,80%. Isso indica que o problema não está arrefecendo e continua a ser um desafio crescente.

 

Fonte: FECAP

 

A análise expõe uma clara dicotomia: há um sucesso visível e consistente na redução de crimes violentos (roubos), mas, ao mesmo tempo, uma dificuldade crescente no controle de crimes de oportunidade (furtos).

Segundo o pesquisador da FECAP, a dinâmica observada pode sugerir uma “migração” da atividade criminal. Com o aumento do risco e da dificuldade em cometer roubos, os criminosos podem estar optando por furtos, que são percebidos como de menor risco e penalidade.

“As estratégias de policiamento ostensivo e investigativo contra o roubo estão funcionando e devem ser mantidas e reforçadas. Mas o aumento dos furtos exige uma nova abordagem, focada em prevenção, inteligência e tecnologia”, afirma Vieira.

Cidades com mais ocorrências

São Paulo teve aumento moderado de 1,21%, destacando-se ainda Ribeirão Preto (+11,83%) e São Vicente (+8,05%) com crescimentos expressivos. Por outro lado, Diadema apresentou redução acentuada de 10,91%, seguido por Campinas (-9,42%) e Santo André (-6,30%). O cenário geral das cidades analisadas apontou para uma leve elevação de 0,49%, indicando estabilidade com tendências regionais bastante diversas.

 

Fonte: FECAP

 

São Paulo: a capital, que concentra o maior volume de ocorrências, é o principal exemplo da mudança no perfil criminal.

:: Pinheiros: manteve-se como o bairro com mais registros, com estabilidade numérica quase perfeita (2.351 casos em 2025 vs. 2.350 em 2024). No entanto, a composição do crime mudou drasticamente: os furtos cresceram 6,2% (de 1.553 para 1.650), enquanto os roubos caíram 12,0% (de 797 para 701).
:: Bela Vista: apresentou uma redução geral de 5,1% (de 1.876 para 1.780 casos). Essa queda foi impulsionada por uma expressiva diminuição de 29,6% nos roubos. Em contrapartida, os furtos no bairro aumentaram 4,5%.
:: Bom Retiro / República: o bairro de Bom Retiro, terceiro maior hotspot em 2025 (1.638 casos), não figurava entre os três primeiros em 2024, lugar que era ocupado pela República (1.654 casos). Isso indica uma possível concentração ou deslocamento da mancha criminal na região central.

São Bernardo do Campo

O município apresentou uma melhora geral nos seus principais bairros.

:: Centro: registrou uma queda significativa de 8,5% nas ocorrências totais (de 433 para 396). A melhora foi puxada principalmente pela redução de 27,4% nos roubos, que superou o leve aumento de 7,2% nos furtos.
:: Rudge Ramos: também teve uma redução de 10,6% no total (de 151 para 135 casos), com quedas tanto nos furtos quanto nos roubos.

Campinas

O padrão de queda nos bairros centrais se repetiu em Campinas.

:: Centro: apresentou uma redução de 4,3% no total de crimes (de 490 para 469). Novamente, a dinâmica foi a mesma: os roubos caíram 4,7%, enquanto os furtos tiveram uma leve redução de 4,2%.

Osasco

Osasco é o principal ponto de atenção e a exceção à regra, com um agravamento do cenário em seu principal bairro.

:: Centro: na contramão dos outros municípios, o Centro de Osasco teve um aumento expressivo de 14,1% no total de ocorrências (de 362 para 413). O crescimento foi impulsionado por uma alta de 18,8% nos furtos, que não foi acompanhada por uma queda nos roubos, que permaneceram estáveis.
:: Vila Yara e Presidente Altino: ambos os bairros mantiveram estabilidade nos números totais.

Guarulhos

Guarulhos mostra um cenário de “novos hotspots” e agravamento em bairros específicos.

:: Centro: o bairro, que era o mais crítico em 2024 com 219 casos, viu este posto ser tomado por Cumbica em 2025.
:: Cumbica: apresentou um aumento alarmante de 28,9% no total de crimes (de 166 para 214 casos). Diferentemente da maioria dos outros bairros, aqui tanto os furtos (+20,0%) quanto os roubos (+34,0%) registraram forte alta.

Ocorrências por Bairro (2024 vs. 2025)

Análise focada nos principais “hotspots” de cada município

 

Fonte: FECAP

 

Bairros com mais ocorrências (2024/2025)

 

Fonte: FECAP

 

Ocorrências na capital paulista

Em 2025, a cidade de São Paulo apresentou aumento de 10,36% nos furtos em relação a 2024, enquanto os roubos caíram 10,31%. O total geral subiu levemente 1,20%. O mês de março destacou-se com alta de 24,42% nos furtos, sugerindo um pico sazonal ou maior exposição da população a riscos. Por outro lado, fevereiro concentrou quedas acentuadas, tanto em furtos (-5,88%) quanto, especialmente, em roubos (-14,63%). Os dados evidenciam uma migração da criminalidade violenta para crimes patrimoniais sem violência (furtos), reforçando a necessidade de políticas específicas para conter pequenos delitos em áreas urbanas.

Em 2025, houve crescimento expressivo nos furtos em bairros como Santo Amaro (+40,07%) e Vila Mariana (+33,78%). Entretanto, roubos caíram fortemente em quase todos os bairros, com destaque para Liberdade (-43,61%) e Itaim Bibi (-36,14%). No saldo geral, bairros como Bom Retiro (+23,72%) e Vila Mariana (+15,82%) se tornaram áreas sensíveis, concentrando mais ocorrências. Já Itaim Bibi perdeu 17,32% no total, sugerindo deslocamento de áreas de risco ou impacto positivo de políticas locais. A República manteve estabilidade, refletindo sucesso parcial no combate à criminalidade.

 

Fonte: FECAP

 

A análise de logradouros revela contrastes marcantes. A Rua Treze de Maio quase triplicou em furtos (+128,24%) e cresceu também em roubos (+33,33%), tornando-se um novo ponto crítico. A Avenida Paulista, tradicionalmente vulnerável, apresentou queda geral de -24,80%, possivelmente efeito de maior policiamento. A Avenida Tiradentes subiu fortemente em furtos (+67,21%). A Praça da Luz permanece preocupante, mesmo com queda nos roubos. O resultado destaca microzonas vulneráveis, exigindo ação cirúrgica, com policiamento ostensivo, monitoramento e políticas urbanas integradas.

 

 

Fonte: FECAP

 

Em São Paulo, a via pública segue como maior palco de crimes, mas cresceu apenas 0,61%, revelando estabilidade. Terminais/estações subiram expressivos 14,17%, sinalizando preocupação com mobilidade urbana. O aumento drástico na categoria “Outros” (+694,08%) indica reclassificação de registros ou novas formas de delito não capturadas antes. Quedas em comércio (-24,37%) e restaurantes (-11,62%) sugerem eficácia local ou menor fluxo. Lazer cresceu (+27,60%), sugerindo vulnerabilidades em espaços públicos. São indicadores-chave para redesenhar estratégias de segurança com foco em transportes, áreas públicas e vigilância de espaços privados.

 

Fonte: FECAP

 

A análise detalhada da cidade de São Paulo entre 2024 e 2025 revela um cenário complexo: os furtos aumentaram expressivamente (+10,36%) enquanto os roubos recuaram (-10,31%). Apesar da queda nos crimes violentos, a leve alta no total de ocorrências (+1,20%) demonstra que o crime continua migrando para modalidades menos violentas, mas não menos danosas.

“O comportamento distinto entre bairros, ruas e locais exige políticas públicas altamente localizadas, capazes de responder tanto a grandes fluxos populacionais como na Avenida Paulista, quanto a microzonas emergentes como a Rua Treze de Maio. O desafio é equilibrar repressão, prevenção e urbanismo inteligente para garantir segurança sustentável”, finaliza o pesquisador da FECAP.

Metodologia

A partir deste boletim, a métrica para a análise de crimes envolvendo aparelhos celulares será alterada. O Centro de Estudos em Economia do Crime da FECAP deixará de utilizar o número total de aparelhos subtraídos para adotar o número de Boletins de Ocorrência (B.O.) registrados para furtos e roubos de celulares.

A mudança visa aprimorar a precisão e a relevância de nossos dados por duas razões principais:

Consistência dos Dados – a contagem por ocorrência elimina inconsistências e possíveis erros de digitação no campo que especifica a quantidade de itens subtraídos, garantindo um dado de entrada mais limpo e confiável.

Acurácia do Mapeamento Criminal – o objetivo da análise de dados de segurança é mapear eventos criminais e sua distribuição geográfica, e não o volume de itens. A nova metodologia reflete isso com maior fidelidade. Por exemplo: um único Boletim de Ocorrência registrando o roubo de um lote de 100 celulares de uma loja representa um único evento criminal em um único local. Contabilizá-lo como 100 “roubos” distorceria o mapa criminal, inflando artificialmente a mancha de criminalidade daquele ponto. Por outro lado, 100 ocorrências distintas, registradas por 100 vítimas diferentes em uma mesma região, representam de fato cem eventos criminais distintos e devem ser mapeados como tal para que o policiamento seja direcionado corretamente.

Adotar o número de ocorrências melhora significativamente a qualidade da informação e permite construir um mapa criminal mais preciso, refletindo com maior fidelidade o comportamento da criminalidade, as áreas mais vulneráveis e a atuação policial.


Destaque – Imagem: aloart / Getty Images


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