Sexta-feira, 24 de abril de 2015, às 18h57


Danilo Macedo* - Repórter da Agência Brasil
Edição: Denise Griesinger

Comunicados oficiais dos governos turco e armênio, por ocasião dos 99 anos do genocídio de armênios pelo Império Otomano (entre 1915 e 1917) mostram que o primeiro e um dos quatro maiores genocídios do século 20 – junto com o Holocausto, Camboja e Ruanda – ainda gera divergências entre Armênia e Turquia, país que sucedeu o antigo império. A deportação forçada e matança com intenção de exterminar a presença cultural e econômica em seu território pode ter levado à morte 1,5 milhão de armênios.

Mortes são consideradas um evento-chave da História moderna da Armênia e servem para explicar diáspora. Foto: AFP | BBC Brasil

Mortes são consideradas um evento-chave da História moderna da Armênia e servem para explicar diáspora. Foto: AFP | BBC Brasil

 

No dia 24 de abril de 1915, dezenas de lideranças armênias foram presas e massacradas em Istambul e, por isso, a data é adotada como o início do massacre. Pela primeira vez em quase 100 anos, o governo turco abordou o tema abertamente e apresentou “pêsames” pelo ocorrido. Ontem (23), o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, apresentou condolências da Turquia “aos netos dos armênios mortos em 1915”, se referindo ao genocídio cometido pelo Império Otomano no contexto da 1ª Guerra Mundial.

Oficialmente, no entanto, a Turquia, desde sua fundação em 1923, nunca reconheceu o genocídio armênio. No comunicado, Erdogan afirma que é um “dever humano compreender e partilhar a vontade dos armênios em comemorar os seus sofrimentos durante essa época” e deseja que os que perderam sua vida nesse contexto repousem em paz. “Exprimimos as nossas condolências aos seus netos”, disse. O primeiro-ministro ressaltou, no entanto, que é “inadmissível” que os acontecimentos de 1915 sejam usados como “pretexto” para hostilizar a Turquia ou promover o “conflito político”.

“No mundo de hoje, promover a inimizade através da história e criar novos antagonismos não é aceitável nem útil para a construção de um futuro comum”, disse Erdogan. Por fim, ele reforçou o apelo da Turquia em se estabelecer uma comissão conjunta, com historiadores turcos, armênios e internacionais, para estudar os acontecimentos de 1915 “na perspectiva de uma abordagem acadêmica”.

Atualmente, enquanto a Armênia e organismos internacionais como a ONU adotam o número de aproximadamente 1,5 milhão de mortos por perseguições e deportações, a Turquia considera que cerca de 500 mil armênios morreram, mas de fome ou em combates durante a Primeira Guerra Mundial, rejeitando o termo genocídio.

Hoje (24), um dia depois das condolências turcas, o presidente da Armênia, Serge Sarkissian, acusou a Turquia de insistir em uma “política de negação completa” do genocídio. “Estamos convencidos de que a negação de um crime constitui a sua continuação direta. Apenas o reconhecimento e a condenação podem impedir a repetição de um crime destes no futuro”, disse por meio de um comunicado.

Sarkissian disse ainda que a proximidade do 100º aniversário do massacre dá à “Turquia uma boa oportunidade de se arrepender e pôr de lado o estigma histórico”. Entre os 21 Estados que reconhecem oficialmente o genocídio estão Alemanha, Canadá, França, Holanda, Itália, Rússia e Vaticano. Na América do Sul, Argentina, Chile e Venezuela reconhecem. O Brasil e Estados Unidos nunca reconheceram de forma oficial o genocídio, embora São Paulo, Paraná e Ceará, além de 43 estados norte-americanos reconheçam.

O Brasil recebeu uma grande quantidade de armênios sobreviventes do genocídio. Atualmente, estima-se que o número da comunidade armênia no país esteja próximo a 100 mil pessoas, vivendo principalmente nas cidades de São Paulo e Osasco e tendo o comércio como principal atividade econômica.

*Com informações da Agência Lusa

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