Os nomes das ruas de São Paulo, durante a época da Colonização, foram designados muitas vezes imitando os próprios nomes de seus ilustres moradores – às vezes nem tão ilustres assim. O mesmo acontecia com os caminhos que levavam às diversas localidades, tais como: Caminho da Borda do Mato (que se refere ao alto da Serra do Mar depois de vencer a íngreme subida), Caminho da Aldeia dos Pinheiros (atual bairro paulistano), Caminho da Canoa (São Vicente), Caminho da Ponte para Nossa Senhora (Santos) ou Caminho de Piratininga (aberto em 1560).
Peixes secos e peixes fora d’água
“A palavra piratininga significa peixe seco e este foi o primeiro nome de São Paulo. Em rápida explicação, a palavra se origina nas cheias e vazantes do Rio Tamanduateí que inundava as várzeas, quando a água voltava ao leito muitos peixes ficavam secando ao sol, por não conseguirem retornar ao rio, sendo fonte de alimento aos nativos. O termo piratininga também se conecta com piracema que significa saída dos peixes da água. O mesmo acontecia nas várzeas do Rio Tietê, e logicamente ocorria em outros lugares,” descreve o livro “Memórias do Tatuapé”, do jornalista Gerson Soares.
Nomes de ruas
Algumas denominações de ruas são muito antigas. A Passarela do Piques que atravessa a Avenida 23 de Maio em direção à Praça da Bandeira é uma delas. O nome é alusivo ao Largo do Piques – onde foram vendidos escravos –, atual Largo da Memória, e ao Obelisco do Piques que ainda se encontra no lugar, sendo um dos únicos monumentos conservados na capital paulista desde a colonização portuguesa. Mas há outros nomes interessantes, por exemplo: a antiga Rua do reverendo Padre Tomé Pinto, que passou a ser Rua Quintino Bocaiúva; a Rua da Freira, agora Rua Senador Feijó; a atual Rua Benjamin Constant chamava Rua do Jogo da Bola. Um pequeno trecho no Largo da Misericórdia, chamou-se ‘beco de Ângela Vieira’, e assim como a Rua Padre Tomé Pinto, foram denominadas com referência aos seus antigos moradores.
Inundações do Rio Tamanduateí
Uma das mais impressionantes imagens que retratam as antigas feições de São Paulo, tendo como inspiração sua própria origem, as imediações da Várzea do Carmo, foi produzida por Benedito Calixto (1853-1927). Na pintura em destaque é possível perceber à direita o Palácio do Governo e mais ao centro a baixada da Ladeira do Porto Geral – que também manteve sua antiga denominação. Ao lado do Mercado Municipal que existiu ali e foi transferido para o atual endereço, vemos a atual Rua General Carneiro que ja foi chamada de Rua João Alfredo e Ladeira do Palácio. Começando na esquerda e passando pelo centro da visão do artista, vemos a Rua 25 de Março que ladeava o porto que existiu no lugar. Calixto reproduziu uma das muitas inundações provocadas pelo Rio Tamanduateí e a obra está datada em 1892.
Caminhos
A cruzar as águas do Rio Tamanduateí, vemos na obra do pintor, dois dos caminhos existentes que levavam ao Brás e a Penha de França. Fora desta representação artística, havia o Caminho da Tabatinguera (ou da Tabatinga = barro branco) que ficava próximo à Ladeira do Carmo, hoje respectivamente Rua Tabatinguera e Rua do Carmo. Os nativos já aproveitavam as cheias e vazantes do rio para colher seu alimento e a Várzea do Carmo foi tema de moções na Câmara Municipal de São Paulo desde os primórdios de sua criação, dentre elas a construção e as várias reconstruções da ponte ali existente – que ligava o Centro Histórico ao leste –, muitas vezes levada pelo Rio Tamanduateí.
Fonte: Livro “Memórias do Tatuapé – Uma Viagem às origens nos séculos XV a XVII” – volume I.
Publicação:
Sábado | 2 de setembro, 2023