Segunda-feira, 18 de dezembro de 2017 às 10h


Quem treinou com o mestre Baltazar e curte sua história de boxeador brasileiro jamais nocauteado, sabe quanta falta ele faz. Quem ouviu as piadas do Zé dos Paralamas, sabe que a bocha da zona Leste é revestida de glórias. Quem jogou no Ginásio poliesportivo do parque deve se lembrar dos ecos que reverberavam as torcidas.

Gerson Soares

Mas para quem não sabe, isso é passado, pouco importa. O ato de exercer o poder diante de pessoas que nada podiam fazer contra as forças governamentais, neste caso a Prefeitura de São Paulo, que demoliu a acanhada e gloriosa sede do boxe e o ginásio poliesportivo do parque é abominável. Ao invés de investir na difusão do esporte nessa área que já tinha as mínimas condições – mínimas mesmo, sempre faltou de tudo – para se tornar um centro esportivo de referência no Tatuapé, com localização privilegiada ao lado de uma estação do metrô, a Prefeitura resolve criar um CEU (Centro Educacional Unificado).

 

Criadouros de insetos: cada uma das setas indicam locais onde existe água parada. As tampas quebradas ou semi abertas e o conteúdo das poças d'água estão no vídeo que pode ser visto no final da matéria. Foto: aloimage

 

Fato é que em qualquer cidade administrada com seriedade, teriam sido levadas em conta antes da tomada de decisão pela construção do CEU todas as implicações e o impacto exercido na região. Uma dessas circunstâncias seria a real necessidade. Portanto, vejamos: o Tatuapé possui uma rede excelente de escolas municipais, estaduais e particulares; o bairro é habitado por pessoas que ocupam uma posição alta na estratificação social da cidade – média e média alta, com nichos de extratos ainda mais elevados. Somente esses fatores já demoveriam um administrador consciente da ideia de construir ali tal dispositivo, criado para classes diferentes das citadas.

Mas contrariando todas as estatísticas, a ideia de Haddad foi recebida com entusiasmo pelos incautos e bajuladores da mídia. O que viria a se chamar CEU Carrão, já começou com a incoerência de estar no Tatuapé e receber o nome de outro bairro, o que demonstra total desconhecimento da região. Mesmo contrariando a lógica, ele deu início ao projeto e destruiu um patrimônio precioso do bairro. Agora, apesar de negar, Haddad é um possível candidato do PT à cadeira de Governador do Estado de São Paulo, segundo gostaria seu padrinho Lula. Isso é apavorante, sabe-se lá que tipo de ideias terá. Lula, por sua vez, condenado há nove anos e meio de prisão pelo juiz Sérgio Moro, buscará todos os recursos para poder candidatar-se à presidência da República e escapar da cadeia, caso seja eleito. Muitos duvidam que consiga.

 

A incrível pista reformada para a reabertura do parque: notícias duvidosas continuam iludindo a população do bairro. Basta observar a imagem e ver o absurdo de reabrir um parque municipal nestas condições. Ao lado desta grade estão criadouros gigantescos de mosquitos transmissores de doenças. Só isto já seria motivo para inviabilizar este ato de irresponsabilidade. Foto: aloimage

 

É nessa toada que foi reaberto o Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes precariamente. Com esse histórico de fatos ocorridos é que o atual prefeito João Doria teve a ousadia de reabri-lo, expondo crianças, animais e os usuários, que desavisados e impulsionados pela comunicação rasteira, agora correm risco de contraírem doenças – inclusive também de transmiti-las –, como estamos mostrando nesta reportagem, já que o local é um criadouro de pernilongos a céu aberto, amplamente constatado pelas fotos e filme aqui apresentados, além dos ratos.

Memória do mestre Baltazar

O coração dos boxeadores que antes batia acelerado durante as aulas e treinamentos do mestre Baltazar devem estar mais tristes, vendo que seu antigo espaço perdeu-se, pouco lhes restou senão procurar outro local para treinarem. Mestre Baltazar foi entrevistado por mim duas vezes, uma delas estava ao lado da filha que também é boxeadora. Na primeira entrevista, devido à sua qualidade de revelar talentos, a matéria foi intitulada como “Fábrica de Campeões”. Essa fábrica ficava no Centro Esportivo do Tatuapé. Seus alunos sonhavam ser como o mestre e ganhar muitos títulos de boxe. O que vemos na imagem abaixo é o que existe onde antes havia esportes.

 

Barraco contendo materiais cortantes, afiados, lâmpadas quebradas e outros tantos produtos abandonados. Foto: aloimage

 

Bocha sem água e luz

Quanto aos veteranos e bochófilos que tiveram a sua área preservada, lá estavam em duas parcas mesas, jogando cartas na penumbra nesta quarta-feira (13). A Prefeitura reabriu o parque sem fornecer-lhes água e luz, portanto não é possível molhar a cancha de bocha o que impossibilita o jogo, segundo eles. Logo, o jogo de cartas será a luz de velas. José Ramos Pereira, conhecido como Zé dos Paralamas, marcou uma era na bocha da zona Leste, arregimentou um exército de bochófilos, organizando torneios e festas. Membro do Rotary Tatuapé há décadas, até hoje é lembrado pelos companheiros e pela turma do bolim. Piadista a todo instante, teria uma anedota pronta para a destruição proporcionada pela Prefeitura de São Paulo no parque, onde ajudou a construir a história da bocha e sedimentar a própria sede que vemos hoje.

 

A imagem não precisa de legenda. Esta situação se espalha por toda a extensão que fica atrás dos tapumes e das pinturas feitas pela Prefeitura. A limpeza da área à frente dos vergonhosos tapumes foi feita pela Subprefeitura Mooca. Todos os órgãos subordinados à Prefeitura são responsáveis pelo que se encontra na parte detrás dos tapumes, onde desde o início das obras fomos proibidos de entrar. Foto: aloimage

 

Corrupção

Todos os esforços já feitos para preservar e dar continuidade às atividades esportivas do parque, foram destruídos pela insensatez do ex-prefeito Fernando Haddad, mas que só a concretizou pela falta de investimentos e visão dos seus antecessores, assim como a desorganização da sociedade local. O atual prefeito João Doria, nada mais faz do que dar continuidade a essa situação lastimável em que se encontra o lugar, onde quadras ao ar livre se transformam em poeira, onde o mato cresce e a ferrugem corrói. Onde as larvas de mosquitos proliferam e pior ainda, essa mesma sociedade que permitiu as demolições continua observar inerte, a reabertura do parque nas condições atuais, a favorecer poucos interessados.

Apesar de já ter sido considerado o país do futebol, sediado duas copas mundiais e os jogos olímpicos, administradores como esses contribuem para que o País continue patinando na área esportiva – sem citar outras áreas do desenvolvimento. A não ser que algo interesse aos corruptos, nada fazem pelo progresso. Se não existissem, fossem rigorosamente punidos e levados ao ostracismo, o conjunto da sociedade, que se reduz ao local do bairro onde reside, não estariam na situação em que se encontram. Quando não incentivam, os corruptos destroem. Quando não destroem, se envolvem nos mais escabrosos escândalos.

Essa mazela brasileira, criou tantas raízes que passou a ser exportada e agora vemos os casos de empresas brasileiras e o próprio esporte, através de membros do Comitê Olímpico e CBF, envolvidos internacionalmente em escândalos. Na sexta-feira (15), o atual presidente da CBF foi suspenso por 90 dias pela Fifa. A decisão foi tomada por estar o brasileiro Marco Polo Del Nero, sendo acusado pelos promotores do Caso Fifa, nos Estados Unidos, de receber US$ 6,5 milhões, cerca de 21,5 milhões de reais, em propinas para beneficiar empresas de marketing esportivo.

Ginásio poliesportivo

O mesmo destino das atividades esportivas na Bocha e no Boxe, teve o lazer no belo Parque Aquático que nos dias de calor causava certa dose de inveja aos usuários do metrô. Ao passarem pela passarela podiam ver as crianças se divertindo nas piscinas, muitas pessoas brincaram ali. Do metrô se divisava as piscinas com seus recortes diferenciados escavados na terra, que de tão belos felizmente os desenhos ainda estão preservados, a circundá-los hoje, montanhas de entulhos e sujeira.

 

Áreas das piscinas vista do alto: poças d'água, sujeira e entulho, roedores e insetos. Ao lado, vemos a estação Carrão do Metrô. Foto: aloiamge

 

Para coroar sua insensatez, a ignorância e certamente motivos que precisam ser amplamente investigados, Haddad simplesmente derrubou entre 2015 e 2016, um Ginásio poliesportivo amplo, recém-reformado, onde aconteciam jogos de futsal, vôlei e basquete. Pior ainda, com a consciência de quem agora aceita e incentiva a reabertura do parque. Portanto, tem participação nesse paradoxo. Hoje, o Ginásio poliesportivo que foi demolido, também poderia abrigar competições de Judô, Jiu Jitsu, trazer divisas e mais desportistas ao bairro, abrigar tantas outras modalidades esportivas. Dando continuidade a essa insensatez, o prefeito João Doria, reabriu o parque sem apresentar solução compatível e proporcionou alimento mais farto ainda aos pernilongos que lá habitam. Além da EMEI que existe ao lado dos criadouros dos mosquitos vetores de doenças, como mostram as imagens e os filmes desta matéria, além dos moradores do entorno, agora os pernilongos poderão se alimentar dos usuários.

Irresponsabilidade

Prevemos que nossos alertas durante os meses de agosto e setembro através de reportagens, e os protestos de cidadãos conscientes não surtiriam efeito diante das ações de membros do governo municipal. Inclua-se a Subprefeitura Mooca que também teria o dever de salvaguardar a saúde dos usuários, já que coube a ela a limpeza do local e, portanto, o subprefeito Paulo Sergio tem conhecimento do que havia atrás dos tapumes, mostrado aqui. Se alegar desconhecimento, seria melhor pedir exoneração ou trocar seus secretários. Segundo o coordenador do órgão local, desde agosto suas equipes estariam prontas para executar serviços de zeladoria, declarou em agosto último.

 

Nesta direção ficava o Ginásio poliesportivo demolido para o que seria um CEU. Para a Secretaria Municipal de Esportes ele ainda existe. Só se for em sonhos ou quando por obrigação a pasta o devolva ao lugar de onde tirou, reconstruindo-o. Foto: aloimage

 

Pasmem com esta resposta que envolve o Ginásio poliesportivo

Prevendo que chegaríamos a este ponto, que a possibilidade da reabertura do parque era real, guardamos para o final uma pérola, vinda diretamente da Secretaria Municipal de Esportes (SEME) em 1º de setembro de 2017: “O Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes foi cedido para a Secretaria Municipal de Educação em 2015 para a construção do CEU Vila Carrão. As Secretarias Municipais de Educação, Obras e Serviços e Esportes e Lazer reuniram esforços para disponibilizar parte do CEU provisoriamente para uso da população (área do campo de futebol, pistas e ginásio) como Clube da Comunidade (CDC), recebendo manifestação de entidades que tenham o perfil adequado para tal, até a retomada das obras. Serão colocados tapumes, isolando a área em obras, o que garantirá a segurança dos frequentadores. Enfatizamos que, imediatamente sejam retomadas as obras, a área deverá retornar à SME/SMSO para conclusão do CEU Vila Carrão”. Quem assina uma resposta desta, possui total desconhecimento da área à qual se refere.

O CEU Carrão não será construído e como usar um Ginásio de esportes demolido?

Como sabemos o Prefeito de São Paulo não pretende retomar as obras do CEU Carrão, mas observe o leitor que a resposta oficial da SEME inclui o uso provisório do Ginásio poliesportivo que nos referimos aqui. Como se ele foi demolido pelo próprio órgão ou pelo menos com o seu conhecimento e de outros, está implícito na resposta, sendo que o Centro Esportivo a eles está vinculado? Veja o leitor a que ponto chegamos.

Os ecos das torcidas que antes reverberavam no ginásio do parque, agora são ecos da inconsequência administrativa, que pretende alçar voos ainda mais altos na hierarquia de cargos públicos. É esta linha de administradores que se deseja para o futuro?

Centro Esportivo do Tatuapé: Abandono pela Prefeitura, causa perigo para a saúde pública 

O último fecha a porta! Mas esqueceram-na aberta, mostrando a forma como a Prefeitura encara a reabertura do Centro Esportivo. Realmente uma boa imagem daquilo que estamos mostrando, a corrosão do dinheiro público. Foto: aloimage

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