Domingo, 17 de dezembro de 2017 às 10h
Reaberto o Centro Esportivo do Tatuapé não se sabe sob qual auspício, a Prefeitura coloca-se em situação delicada, atentando contra a saúde e segurança dos usuários. A ideia provisória, que pode ser lida em uma das reportagens citadas abaixo, é criar um CDC, onde os responsáveis serão os próprios usuários, isso se alguém ou algum secretário municipal já não mudou esse propósito, divulgado há alguns meses. Dessa forma o órgão municipal se isenta de algumas responsabilidades, protelando uma solução efetiva.
Gerson Soares
Conversando com transeuntes e camelôs, apuramos que no início do mês de dezembro, por volta do dia 2, o Centro Esportivo Brigadeiro Eduardo Gomes (CEBEG) foi reaberto. Na quarta-feira (13), estivemos lá para conferir o que oferece aos usuários. Além dos campos de futebol vazios, onde apenas quatro garotos brincavam, mais nada existe de interessante. Fomos abordados por uma senhora que estava com a neta. “Você sabe o que vai ser aqui?”. E nada pode ser dito a ela, pois até agora não tivemos notícias oficiais das secretarias que administram o parque (Secretaria Municipal de Esportes e Lazer – SEME e Secretaria Municipal de Educação – SME), às quais encaminhamos diversas reportagens e perguntas.
Ao ler as matérias que compõem esta reportagem especial, será possível entender qual o objetivo da reabertura do CEBEG, que resumindo consiste em facilitar os jogos de alguns times de futebol, uso da pista ao lado de tapumes que escondem um perigo iminente e o passeio com os cães – muito provavelmente visando os moradores dos prédios que ficam bem em frente ao parque e moradores das imediações. Nesse sentido, o que vimos foi um rapaz conduzindo quatro cães, inclusive um deles solto e ameaçador, sem que houvesse qualquer tipo de segurança da Prefeitura para supervisionar essa atividade. O animal encarava uma criança que dava suas primeiras corridas e brincava, enquanto os pais caminhavam há alguns dela metros no campo de futebol. Se resolvessem atacá-la, não haveria chance para a pequena. Uma irresponsabilidade sem tamanho, revoltante. Fora a apreensão quanto a um ataque dos cães à criança ou a nós mesmos, observamos somente uma mulher idosa e um morador sem teto, sentados no banco abaixo do pavilhão dos estandartes, onde se via penosamente hasteadas as bandeiras do Brasil, de São Paulo e da Prefeitura da cidade.
Tomado por uma paisagem entristecida, contrastando apenas com o verde brilhante das árvores que resistem e embelezam o entorno, o Centro Esportivo está abandonado. Tapumes cercam toda a extensão dos campos de futebol de um lado e a tal pista que foi liberada ao público. Improviso, um local público que nos remete ao muro de Berlin, uma cena esdrúxula. Especialista em pinturas que se tornou, a Prefeitura pintou algumas paredes para esconder a sujeira deste lado dos tapumes, mas à esquerda do pavilhão das bandeiras, na antiga área das piscinas, alguém se esqueceu de fechar a porta de uma das construções e o desleixo ficou à vista. Todos que por ali passassem podiam ver o que é difícil de descrever. A imagem ao lado fala por si mesma.
Interesses mesquinhos
Nesse parque esportivo municipal, cercado pelo verde, as crianças da EMEI Quintino Bocaiuva participavam de atividades lúdicas promovidas pelos professores que agora nem sonham em levar seus alunos ao lugar, devido aos perigos de um lugar como esse abandonado há tanto tempo. Eles têm razão. Vimos madeiras com pregos, pelo menos uma caixa d’água com água parada repleta de insetos, e sabe-se lá quantos ratos perambulam por ali, defecando e urinando, a transmitirem doenças, mais suscetíveis aos pequenos e aos animais de estimação.
Ao invés de brincadeiras, como o “Caça Saci” e “Projeto Horta” que envolviam aulas para as crianças, promovidas nas áreas verdes do parque, a proposta de continuidade da degradação com a criação de um CDC (Centro Desportivo Comunitário) cercado por tapumes. Essa atitude que tem o aval da SEME e SME contenta a poucos e reforça o jeitinho brasileiro, no qual se cria o máximo de dificuldades para depois entregar algumas facilidades, recebendo sorrisos e tapinhas nas costas dos que se dobram à vontade dos interesses mesquinhos, que até agora só levou o país a essa maldita corrupção que o assola. Só pensam em si mesmos e a satisfazerem os próprios caprichos, pouco importando se o parque era usado por pessoas que vinham para namorar, brincar, se refrescarem na piscina, correr, jogar bola e basquete nas quadras, ou com o grupo de idosos japoneses que jogavam Gateball – uma visão que trazia paz ao espírito e durou anos no Tatuapé. Nada disso importa a quem só pensa em si e na alegria de alguns poucos compadres.
Reabertura da Bocha
Por sua vez, a voz da experiência foi ouvida por mim, no final da tarde da quarta-feira (13), depois de filmar inúmeras poças de água parada com larvas de pernilongos e ver a proliferação de insetos, o lixo que se espalha atrás dos tapumes – assista ao filme que fiz de pronto, com receio de perder a oportunidade de mostrar a todos a situação real que existe ali. A decadência do belo parque que poderia abrigar tantos esportes e desportistas, causa enorme desânimo, mas ao mesmo tempo nos incita a obrigar a Prefeitura devolvê-lo, ainda melhor do que antes, como forma de ressarcir toda a angústia que proporciona até agora.
Ouvi a voz experiente de um veterano de 85 anos que viu crescer as árvores do lugar, morador do bairro desde 1937. Há poucos dias, ele caiu ao pisar em um galho solto e por pouco não sofre um acidente grave dentro do parque reaberto sem condições. O motivo é que os idosos precisam passar por uma porta improvisada de arames em meio ao gradil da Rua Monte Serrat e depois vencerem as montanhas de mato e entulho que se acumulam para chegarem até sua sede. Disse-me ele que se a Prefeitura lhes concedesse água para molharem a cancha de bocha já poderiam jogar, porque apesar de ter sido reaberto o parque e seu espaço, o órgão municipal não lhes concedeu nem água e nem luz.
O que acha o leitor? A luz é necessária para jogarem cartas. Ao lado de outros veteranos que receberam de volta a possibilidade de passarem algumas horas com os velhos amigos, completou sua fala com a experiência que os anos lhe propiciaram, dizendo em tom compenetrado, deixando de lado as gozações que já havia feito a respeito da reabertura do parque: “Pra tudo tem um jeito. Pior do que está não fica”. Apesar de não concordar, aquilo me fez repensar se a abertura teria alguma utilidade. Concluo que não, mas disse a ele que respeito seu tom moderador.
Em tom menos sisudo, mais voltado para o bom humor com que os brasileiros costumam levar a situação em que vivem devido aos desmandos, péssimas administrações do dinheiro público e corrupção na política; no silêncio que ronda o parque, a resposta veio na hora da mesa onde outro grupo também jogava baralho em meio à penumbra: “Pior do que m...., só b....”, risos.
Centro Esportivo do Tatuapé: Abandono pela Prefeitura, causa perigo para a saúde pública
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