Sexta-feira, 16 de março de 2018 às 13h47


A pesquisa Contas Econômicas Ambientais da Água (Ceaa), divulgada hoje (16), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que 3,2 milhões de hectômetros cúbicos (hm³) de água, o equivalente a 3,2 trilhões de metros cúbicos, foram retirados do meio ambiente pelas atividades econômicas e famílias para distribuição e uso próprio em 2015. Um hectômetro cúbico corresponde a um milhão de metros cúbicos, enquanto um metro cúbico representa mil litros. 

Agência Brasil

Alana Gandra | Rio de Janeiro — O estudo inédito foi feito em conjunto pelo IBGE, Ministério do Meio Ambiente e Agência Nacional de Águas (ANA), contou com apoio da Agência Internacional de Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável e segue metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU).

O levantamento mescla informações de fluxo físico e monetário do setor de água. O pesquisador responsável pelo levantamento no IBGE, economista Michel Lapip, ressaltou que as informações obtidas são fundamentais para a sociedade e para a elaboração de políticas públicas pelos governos. Salientou que poucos países, além do Brasil, já elaboraram suas contas econômicas da água.

 

Pesquisa do IBGE diz que 3,2 trilhões de metros cúbicos foram retirados do meio ambiente pelas atividades econômicas e famílias para distribuição e uso próprio em 2015. Foto: Arquivo/Agência Brasil

 

O total de recursos hídricos renováveis no Brasil, isto é, toda a água disponível na superfície do território, era de 6,2 trilhões de metros cúbicos em 2015. Por habitante, isso equivale a 30,3 mil caixas d’água de mil litros. Em 2013, o total de recursos hídricos era de 7,4 trilhões de m³ e, em 2014, de 7,6 trilhões de m³.

A atividade econômica que mais contribuiu em 2015 para o volume total de água retirada foi eletricidade e gás, com participação de 97,3%, em função da operação das hidrelétricas brasileiras.

Michel Lapip destacou, entretanto, que esse setor se caracteriza pelo uso não consuntivo, em que a água é retirada de um rio e retorna na mesma qualidade e quantidade. “O consumo dele é ínfimo”, afirmou à Agência Brasil.

Excluindo a atividade de eletricidade e gás e as águas das chuvas que passam pelas redes pluviais, o retorno global de água para o meio ambiente alcançou 27 mil hm³, sendo que 25,6% desse retorno ocorreram por meio dos sistemas de esgoto e 74,4% foram lançados diretamente no meio ambiente.

Consumo de água atinge 30,6 bilhões de metros cúbicos em 2015

Já o consumo total de água, correspondente ao volume de água utilizada menos a água que volta para o meio ambiente, somou 30,6 bilhões de metros cúbicos em 2015, o que significa que empresas e famílias consomem apenas 0,5% dos recursos hídricos.

As atividades econômicas que apresentaram maior consumo de água foram agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (77,6%); indústrias de transformação e construção (11,3%); água e esgoto (7,4%).

O uso de água das famílias per capita, isto é, por pessoa, em 2015, foi de 108,4 litros por dia. Em 2013, atingiu 111 litros/dia e, em 2014, 114 litros diários.

A pesquisa revela, ainda, que 68% da água do abastecimento correspondem às famílias e 32% a atividades econômicas. As famílias pagaram 58,7% dessa água de distribuição em 2015, ficando os restantes 41,3% de gastos para as atividades econômicas.

Lapip destacou que a maior parte da água que chega na atividade econômica não vem do setor de abastecimento. “Ela capta direto. Então, ela não é paga para o setor de abastecimento”.

Em relação à vazão de esgoto enviado, 78,6% são destinados às famílias e 21,4% às atividades econômicas. Do mesmo modo que ocorre com os gastos com a água de distribuição, as famílias ficam com o maior percentual de gastos com serviços de esgoto (58,8%), enquanto as atividades econômicas arcam com 41,2%.

Valor da produção de água de distribuição e serviços de esgoto atinge R$ 42,5 bilhões

O valor da produção de água de distribuição e serviços de esgoto somou R$ 42,5 bilhões em 2015, sendo que a água de distribuição respondeu por 67,2% do total. O custo médio por volume de água e esgoto da economia foi de R$ 2,49 por metro cúbico.

O custo de água de abastecimento por volume de uso de água tratada fornecida foi maior para as atividades econômicas (R$ 3,52 por metro cúbico) em 2015 do que para as famílias (R$ 2,35 o metro cúbico).

O pesquisador do IBGE explicou, também, que o custo é menor para as famílias porque a estrutura tarifária do país beneficia mais o uso da água para abastecimento humano do que para meios produtivos, devido a questões como sobrevivência.

Em relação ao custo com serviços de esgoto por volume de águas residuais fornecidas à rede de esgoto, a diferença é ainda mais acentuada. Enquanto o custo para as atividades econômicas alcança R$ 4,01 por metro cúbico, para as famílias é de R$ 1,56 por metro cúbico.

Segundo a pesquisa do IBGE, em 2015 a atividade econômica água e esgoto correspondeu a 0,5% do valor adicionado bruto total da economia. Lapip observou que, quanto menor for esse indicador, “melhor para o setor, para a economia, para a sociedade, para nós todos. Quer dizer que preciso de menos litros de água para gerar R$ 1 de valor adicionado ou de riqueza agregada”.

Para a atividade de agricultura, pecuária, pesca, aqüicultura e produção florestal, o indicador de intensidade hídrica de consumo foi de 91,58 litros para gerar R$ 1 de valor adicionado; para as indústrias de transformação, 3,72 litros por real; para indústrias extrativas, 2,54 litros por R$ 1; e o indicador de eletricidade e gás foi 1,18 litro por real. Para a economia como um todo, foi necessário gastar seis litros de água para cada R$ 1 de valor adicionado bruto.

Já o indicador de eficiência hídrica, que mostra quanta riqueza foi gerada para cada metro cúbico de água consumido pela economia, apresentou média de R$ 169 por metro cúbico.

Segundo o IBGE, isso quer dizer que para cada mil litros de água que consome, a economia brasileira gera R$ 169. Entre as atividades, para cada mil litros de água consumidos pela agricultura, foram gerados R$ 11 de riqueza em 2015. O setor de eletricidade e gás gerou R$ 846 para cada metro cúbico consumido; as indústrias de transformação, R$ 269 por m³, e as extrativas, R$ 393.

Crise hídrica afeta resultados

O economista Michel Lapip salientou que o período abordado no estudo – de 2013 a 2015 - foi influenciado pela crise hídrica e pela redução da produção em diversas atividades econômicas.

“Isso impacta a demanda de água e seu valor adicionado gerado pela atividade”, disse. O período foi marcado por queda de 3,8% no volume de água retirada para distribuição, o que fez com que as famílias e demais atividades, que são os maiores usuários da água para distribuição, reduzissem também o volume de água usado em 4,3% e 3,4%, respectivamente.

Quanto aos gastos, o estudo mostra que o consumo final de água de distribuição das famílias subiu 8,8% e o consumo intermediário do grupo demais atividades evoluiu 10,4% entre 2013 e 2015.

Edição: Kleber Sampaio

Lei do Bem. Sobrefoto de Erik Araujo / Getty Images. Ilustração: aloart

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