Quinta-feira, 25 de janeiro de 2018 às 21h03

A imprensa brasileira e o noticiário internacional destacaram a condenação do ex-presidente brasileiro, citando a decisão como marco contra a corrupção.

Gerson Soares

Acompanhamos neste site, desde 2014, o início da chamada CPMI da Petrobrás, e em nossas publicações físicas (revista Alô Tatuapé) o caso do Mensalão. Houve dúvidas de que havia algum tipo de envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que se comprovava sua culpabilidade. Dizia ele que “não sabia de nada”. Todas as ações do Mensalão e Petrolão, ocorreram durante sua gestão e seguiram no governo de sua candidata eleita Dilma Roussef, que pela popularidade do líder petista conseguir até mesmo se reeleger para um segundo mandato, mas foi impedida de continuar pela aprovação do impeachment no Congresso Nacional. Escândalos e mais esquemas de corrupção foram desmantelados e muitos políticos tidos como da elite estão atrás das grades, assim como empresários que montaram impérios às custas da desgraça do povo brasileiro. Agora fica provado na Justiça, depois de todos os recursos e brechas aproveitadas pela defesa de Lula, que ele sabia sim do que ocorria não somente sob sua barba, mas que desse esquema também participava.

A história é longa. A Lava Jato começou em 2009, com a investigação de crimes de lavagem de recursos relacionados ao ex-deputado federal José Janene, em Londrina, no Paraná. Nove anos depois, a leitura do voto do desembargador federal João Pedro Gebran Neto, também foi longa: ele fez a leitura de seu voto que tem mais de 400 páginas, avisando antes que seria demorado, mas valeu a pena. Lula foi condenado pelo seu envolvimento e continuidade da corrupção que assola o País. Os corruptos, os bandidos que surrupiam a esperança, receberam um duro golpe da Lava Jato – a mais corajosa missão contra o desvio de riquezas brasileiras que talvez já tenha existido desde que a Europa ouviu falar do Peabiru, onde o ouro e prata brilhavam, e para cá enviou seus exploradores.

O colegiado que condenou Lula agiu em plena harmonia desde a abertura dos trabalhos e após a longa leitura que elevou a pena do ex-presidente. O juiz federal Sérgio Moro, havia aplicado nove anos e seis meses de reclusão ao ex-presidente e o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) aumentou a pena para 12 anos e 1 mês. Os desembargadores trabalharam de forma que ficou clara a sequência de seus pronunciamentos. Enquanto Gebran Neto esclareceu com minúcias o que o levou a aumentar a pena de Lula e não acolher o recurso da defesa. Na sequência de seu pronunciamento, após um intervalo de aproximadamente uma hora, o presidente do TRF4 desembargador federal Leandro Paulsen, foi mais sucinto e acompanhou-lhe o voto. Da mesma forma agiu o desembargador federal Victor Luiz dos Santos Laus, último integrante da 8ª Turma a votar. Antes do seu voto, porém, ele foi muito didático, expondo um resumo do tramite e o que estava sendo julgado, com palavras fáceis de entender a qualquer um, com didatismo.

Durante a leitura do seu voto, Paulsen deixou uma frase: “Lamentavelmente, Lula se corrompeu”. Essas palavras poderiam reverberar entre milhões de eleitores que em 2002 colocaram o ex-líder sindical e ícone do Partido dos Trabalhadores à frente da presidência da República, cargo que assumiria em 1º de janeiro de 2003, promovendo um governo que contentaria inicialmente muitos desses milhões de brasileiros que lhe concederam o poder. No entanto, fica provado agora, ele agiu de maneira a perpetuar-se e ao seu partido, formando uma teia devastadora de corruptos e corruptores que envergonha a nação brasileira. A Lava Jato ainda quer demonstrar em outro processo que Lula era o chefe de todo o esquema de corrupção que englobava instituições como a Petrobras e o BNDES, por exemplo.

Líder perdido

Lula teve a oportunidade ímpar – pela sua condição humilde de retirante nordestino e não pertencente ao berço da elite política – de ser tudo aquilo que o povo mais necessitado dos rincões nacionais esperava. Esperança, ele foi. Hoje, depois de talvez amealhar alguns milhões em seu nome ou de quem quer que fosse, é mal visto em sua própria terra, o Nordeste. E o que ganha no topo da escalada da vida: uma condenação de 12 anos de prisão em regime fechado, sendo este apenas o primeiro julgamento praticamente concluso, dentre vários outros pelos quais ainda deverá responder.

A esperança virou pó, mas seu populismo ainda o eleva nas pesquisas para novamente ocupar a presidência da República, este um paradoxo sem plausível explicação. De qualquer forma a notícia de sua condenação repercutiu na imprensa internacional que o considera inelegível, devido à Lei da Ficha Limpa. O que não impedirá os recursos já prometidos pelos advogados de Lula e nem que ele faça campanha. Em agosto, no entanto, o Supremo Tribunal Eleitoral deverá anunciar os nomes dos candidatos ao cargo máximo do País, e então estará conclusa a trama ou derrotada a intenção de perpetuação no poder do ex-presidente, agora associado às mais altas esferas da corrupção e o atraso do País. Seu partido o quer de qualquer forma como um mártir do sistema, alguém inatingível, um deus.

Por fim, ao virarmos mais uma página desta triste história, vemos a queda de uma estrela que se igualou a tantas outras conhecidas, a tantos outros partidos decadentes, à velha política do toma lá, dá cá; às mais baixas formas de distanciar-se do verdadeiro anseio popular, que na verdade nem são tão ambiciosos – educação de qualidade; saúde para viver dignamente; segurança para a tranquilidade necessária a uma vida relativamente pacífica e estaria dado o start que se esperava do líder. Mas como disse Paulsen, ele se corrompeu.

Distanciando-se daquilo que pregava, vagando por diversos caminhos que percorreu, depois de fazer acirrada oposição aos partidos dominantes – como o PMDB e PSDB que por fim a ele se coligaram de alguma forma pelos meandros intransponíveis de corredores assombrosos –, Lula estrela máxima do PT cai, levando consigo o resto de esperança que há muito fora por ele desperdiçada. O Brasil ainda busca líderes que coloquem a Pátria em primeiro plano, deixando de lado interesses traiçoeiros e conduzam a nação com honestidade.

Utopia ou verdade? Os séculos dirão.

 

Olhos atentos, perguntam: comemorar o quê? Ilustração: aloart/2014