Reportagem especial sobre a Revolução Constitucionalista de 1932
Gerson Soares
Alguns críticos ainda tentam subtrair o valor do intento paulista, mas mesmo derrotado, São Paulo venceu.
A despeito das críticas sobre os erros militares que geraram a derrota dos paulistas, o povo empenhou-se e suplantou os apelos feitos pelas entidades de classes, num esforço espantoso todos se engajaram. Os 87 dias de guerra mostraram ao ditador que São Paulo não poderia ser subjugado sem luta “todos puseram-se de pé em defesa do ideal da restauração da democracia no País”. São Paulo perdeu a guerra, mas Getúlio Vargas foi obrigado a reconhecer e a instituir a volta da democracia. No entanto, em 10 de novembro de 1937, novamente ele mostrava seu apetite ditatorial e ao mesmo tempo comprovava o quanto estavam certos os paulistas. Vargas desfere outro golpe na democracia assumindo novamente através da força. A democracia só seria devolvida ao país em 1945.
Conforme escreveu Carlos de Meira Mattos, “o historiador francês Jules Michelet encontrou nas obras do italiano Giovanni Vico os fundamentos de uma ciência histórica baseada em métodos de avaliação que combinavam os fatos históricos com a filosofia, o ambiente social, a psicologia coletiva, a expressão dos personagens. Michelet, aplicando o método de pesquisa de Vico, depois de ter publicado várias obras, abalou-se a escrever a História da Revolução Francesa. Em plena atividade de pesquisa escreveu a um amigo: ‘Jamais levantei peso tão grande, combinei tantos elementos aparentemente díspares, numa única unidade viva. Nossa tarefa é menor. Nossa postura de historiador é pequena, mas pretendemos chegar a uma unidade viva, a Revolução de 32’.”
“Mas se tão empenhado e poderoso foi esse ideal constitucionalista, ficou restrito a São Paulo? Ninguém, em parte alguma do Brasil moveu-se para sustentá-lo, por atos ou mesmo por gritos?” Pergunta Hernâni Donato em seu artigo. E, responde: “Pois houve gente assim e muita e em muitos lugares. Afinal, a revolução deveria ser feita pela Frente Única – larga corrente de liberais, principalmente do Rio Grande do Sul, com adesões esperadas em Minas Gerais, no Distrito Federal (a capital do Brasil à época ficava no Rio de Janeiro), em Mato Grosso e outros Estados. O porquê de, a 9 de julho, somente São Paulo e a parte sul do Mato Grosso cumprirem o combinado, é um capítulo que ainda está sendo escrito. Os que deveriam marchar e combaterem ao lado de São Paulo marcharam e combateram contra são Paulo”.
“Muitos afirmam que a Revolução de 32 foi um movimento da elite paulista. Foi da elite, sim, mas foi também do povo, das mulheres”, também escreveu Ivonne Capuano em seu artigo “A presença da mulher na luta paulista”, onde ressalta o engajamento das entidades femininas que produziram roupas, alimentos e cuidaram dos filhos e das famílias dos voluntários combatentes.
Juscelino Kubitscheck, que depois seria presidente do Brasil, na época oficial médico da Força Pública em Minas Gerais, mesmo participando do Governo Provisório e tendo sido contra a revolução paulista reformulou sua ótica e afirmou: “Uma daquelas causas pelas quais os homens podem viver com dignidade e morrer com grandeza. Custou-me voltar atrás, mas não tenho compromisso com o erro”.
Muitos foram os não paulistas que se engajaram e comandaram as forças de resistência ao regime ditatorial, como por exemplo, o carioca Euclides de Figueiredo, então coronel, que comandou no Vale do Paraíba, a principal das Divisões do Exército Constitucionalista e foi praticamente o último a cessar o combate. O pai do futuro presidente do Brasil, disse considerar a Revolução de 32 “o mais brilhante movimento cívico da história do Brasil republicano”. Figueiredo ainda seria aprisionado em Florianópolis, tentando levar para o Rio Grande do Sul a revolução militarmente perdida em São Paulo e no Mato Grosso do Sul. Posteriormente seria exilado.