Reportagem especial sobre a Revolução Constitucionalista de 1932

O dia 25 de janeiro é uma data comemorativa para a cidade mais cosmopolita da América do Sul, mas nesse mesmo dia, em 1932, São Paulo parou para reivindicar sua Liberdade.

Gerson Soares


Citada como um dos maiores exemplos de civismo, a Revolução Constitucionalista de 1932 e as suas consequências não podem ser esquecidas e são um exemplo para este dias tão desgastados pela falta de patriotismo, pela falta de amor ao Brasil – não me refiro ao amor pela Seleção Brasileira de futebol –, pela falta de empenho e colaboração político-social para que o povo alcance os objetivos naturais do ser humano, grafados no clássico documento aprovado no dia 26 de agosto de 1789, na França, e conhecido como “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, onde vemos, no item III: “O princípio fundamental de toda autonomia reside essencialmente na Nação; nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que ela não emane expressamente”.

O editorial da edição comemorativa do Digesto Econômico de julho de 2002, publicada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), refere-se a 32 como “(…) a epopeia em que todo um povo do maior, do primeiro, do mais desenvolvido Estado do Brasil se uniu nas ruas, nas praças, nos lares, onde fosse possível, para se organizar numa força militar, capaz de enfrentar o chefe do governo federal, que rasgara uma Constituição, desfizera a condição de Estado de Direito do Brasil, e não queria voltar à Constituição, a Carta Magna desse Estado, pois que seu objetivo era, simplesmente, exercer uma ditadura bem latino-americana. (…) Essa epopeia ficará na História de nosso país como única manifestação contra as forças malignas da usurpação das liberdades, obra de Getúlio Vargas e de seus homens de 1.000, de que fala Oliveira Viana, com profundo conhecimento de causa nas suas Instituições Políticas Brasileiras” (…).

 

Aviso distribuído pela ACSP em 23 de maio de 1932. Reprodução de Hernâni Donato – “A Revolução de 32”.

 

Sob a presidência de Carlos de Souza Nazareth, a ACSP teve importante contribuição na manifestação paulista. O presidente afirmou num dos seus discursos “que a união das classes conservadores nunca se fez tão necessária”, referindo-se a união dos mais diversos segmentos da sociedade paulista. No dia 23 de Maio, é distribuído ao comércio um boletim, assinado por Carlos de Souza Nazareth: “Exprimindo os sentimentos geraes de protesto contra as protelações infindáveis da solução do premente caso de São Paulo, a ACSP convida o comércio a fechar as suas portas e a suspender as suas transações durante 24 horas, a partir das 2 horas da tarde de hoje, se até esse momento não tiverem sido satisfeitas as legítimas aspirações do povo paulista”.

Correspondendo ao apelo que se lhe fazia a liberdade e o patriotismo, os paulistas foram às ruas. Na Praça do Patriarca, em frente ao Palácio dos Campos Elísios, ao QG da 2ª Região Militar que ficava na Rua Conselheiro Crispiniano, ao QG da Força Pública, na Luz. Esta não era a primeira vez que o povo paulista se manifestara em grandes torrentes e também não seria a última. Vários conflitos entre a população e as forças governamentais ocorriam no centro da cidade.

 

Multidão entrou pelos quartéis levando aos dirigentes das forças armadas seu apoio total.  Foto: ACSP

 

Porém, a gota d’água viria quando rumo ao centro a multidão vê cinco jovens tombados mortalmente, a tiros, disparados por elementos que guarneciam a sede do Partido Popular Paulista, na esquina da Rua Barão de Itapetininga com a Praça da República. Seus nomes Mário Martins de Almeida, Antônio Américo de Camargo Andrade, Euclides Miragaia, Drausio Marcondes de Souza e Amadeu Martins. Com isso, fundou-se uma entidade com a sigla M.M.D.C., organismo civil que apoiou às reivindicações de São Paulo. Em princípio sigilosamente, congregou todas as organizações civis e secretas existentes em São Paulo no combate à ditadura, para em seguida se transformar abertamente num símbolo do 23 de maio e da própria revolução.

Esta página histórica de São Paulo teve líderes vários, grandes oradores, escritores e heróis. Citar alguns deles certamente nos levaria ao erro, por isso esta homenagem se estende a todos e a cada um dos homens, mulheres, crianças de todas as raças e credos que estiveram lado a lado pela liberdade e contra a opressão.

 

O governador de São Paulo, Pedro de Toledo, passa em revista as tropas da Força Pública (hoje Polícia Militar). Foto: Álbum de Família 1932/DE

 


Publicação:
Terça-feira, 8 de julho de 2014


Atualização:
Terça-feira, 9 de julho de 2024


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