Domingo | 18 de dezembro, 2022

Há 468 anos, uma pequena aldeia formada ao redor de um Colégio de Jesuítas deu início a construção de uma das maiores aglomerações do planeta.


A fundação de São Paulo insere-se no processo de ocupação e exploração das terras americanas pelos portugueses, a partir do século XVI. Inicialmente, os colonizadores fundaram a Vila de Santo André da Borda do Campo (1553), constantemente ameaçada pelos povos indígenas da região. Nessa época, um grupo de padres da Companhia de Jesus, da qual fazia parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, escalaram a serra do mar chegando ao planalto de Piratininga. Do ponto de vista da segurança, a localização topográfica de São Paulo era perfeita, cercada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú.

1560: insignificância

Foi nesse lugar que, em 25 de janeiro de 1554, fundaram o seu colégio, ao redor do qual se iniciou a construção das primeiras casas de taipa que dariam origem ao povoado de São Paulo de Piratininga. Em 1560, o povoado ganhou foros de Vila e pelourinho, mas a distância do litoral, o isolamento comercial e o solo inadequado ao cultivo de produtos de exportação, condenou a Vila a ocupar uma posição insignificante durante séculos na América Portuguesa.

Limitada ao “Triângulo”

Assim, ela ficou limitada ao que hoje denominamos Centro Velho de São Paulo ou triângulo histórico, onde ficavam os Conventos de São Francisco, de São Bento e do Carmo. Até o século XIX, eram nas ruas do triângulo (atuais ruas Direita, XV de Novembro e São Bento) onde se concentravam o comércio, a rede bancária e os principais serviços de São Paulo. A área urbana inicial começou a ser ampliada com a abertura das ruas Líbero Badaró e Florêncio de Abreu.

 

Avenida Paulista em 1902: “A mais paulista das avenidas” quando a cidade prosperava com o dinheiro do café. Imagem: cartão postal da época / reprodução do livro citado, com permissão dos autores.

 

Transformações

No final do século, a cidade passou por profundas transformações econômicas e sociais decorrentes da expansão da lavoura cafeeira em várias regiões paulistas, da construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí (1867) e do afluxo de imigrantes europeus. O crescimento da cidade na virada do século foi vertiginoso. Nesse período, a área urbana se expandiu para além do perímetro do triângulo, surgiram as primeiras linhas de bondes, os reservatórios de água e a iluminação a gás.

Imigrantes

Juntos, esses fatores contribuíram para a formação de um parque industrial paulistano. O Brás e a Lapa transformaram-se em bairros operários, onde se concentravam as indústrias próximas aos trilhos da estrada de ferro inglesa, nas várzeas alagadiças dos rios Tamanduateí e Tietê. A região do Bexiga foi ocupada, sobretudo, pelos imigrantes italianos e a Avenida Paulista e adjacências – áreas arborizadas, elevadas e arejadas – pelos palacetes dos grandes cafeicultores.

Progresso

O século XX, em suas manifestações econômicas, culturais e artísticas, passa a ser sinônimo de progresso. A riqueza proporcionada pelo café espelha-se na São Paulo “moderna”, até então acanhada e tristonha capital. A partir dos trens, bondes, eletricidade, telefone, automóveis, velocidade, a cidade cresce, agiganta-se e recebe muitos melhoramentos urbanos como calçamento, praças, viadutos, parques e os primeiros arranha-céus.

 

1911 – Aspecto da Paulista nas proximidades da Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Localizada numa região alta, muitas casas ostentavam torreões que serviam como mirantes para contemplar o panorama. Imagem: cartão postal da época / reprodução do livro citado, com permissão dos autores.

 

Avenida Paulista

A antiga trilha de boiadeiros, depois conhecida como Rua da Real Grandeza e, finalmente, como Avenida Paulista, ficava em terrenos que foram adquiridos em 1890, pelo engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima e seus associados, para realizar um empreendimento imobiliário. A região foi demarcada, urbanizada e ligada por bondes ao resto da cidade. Recebeu tratamento urbanístico inspirado nas avenidas europeias, sendo arborizada com ipês roxos e amarelos, magnólias e plátanos.

Inauguração

Foi inaugurada em 8 de dezembro de 1891 com três quilômetros de extensão e três faixas de trânsito: para carruagens e cavaleiros, pedestres e bondes. Transformada em uma das regiões mais nobres da cidade, sediou os palacetes dos barões do café e os casarões rodeados por grandes jardins particulares, dos imigrantes enriquecidos na indústria e no comércio, com sofisticados projetos de arquitetura da Belle Époque num grande ecletismo de estilos, como o art noveau, o mourisco e o neoclássico.

Importância

A partir da década de 50, a Avenida Paulista adquiriu importância como via de serviço e comércio e entrou em acelerado processo de verticalização, com a demolição dos antigos casarões e a construção de edifícios comerciais e residenciais. A partir dos anos 1970, a avenida é o endereço preferido para a instalação das matrizes de grandes bancos, empresas multinacionais e para a construção de modernos e ousados arranha-céus. O resultado dessa saga paulistana pode ser vista e vivenciada em nossos dias com estações de metrô e os milhares de pessoas que por ali circulam diariamente.


Parte integrante da publicação original: “Memória Especial – São Paulo Quem te viu e Quem te vê”, por Gerson Soares. Revista Alô Tatuapé, São Paulo, nº 78: nov. 2003, pp. 8 a 12. Fontes: 1) Pesquisa realizada junto à Prefeitura de São Paulo – Departamento do Patrimônio Histórico. 2) “Lembranças de São Paulo – A Capital Paulista nos cartões Postais e Álbuns de Lembranças”. Obra de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo. Anotação: Livro à venda nas boas livrarias, uma obra imperdível para quem gosta de história e da cidade. Esclarecemos que em algumas imagens aparecem assinaturas e nomes de lugares. Isso ocorre porque eram utilizadas como cartões-postais na época. (Imagens utilizadas/reproduzidas do livro citado, com permissão dos autores, para uso educativo).