A enchente no Rio Grande do Sul acendeu o alerta para o risco da transmissão da doença, causada pelo contato com a água contaminada nos centros urbanos. Em situações de alagamento, a população precisa ter a atenção redobrada para medidas de prevenção e controle de roedores.


A leptospirose é transmitida a partir do contato direto ou indireto com a urina de animais infectados, principalmente ratos, pela bactéria Leptospira em contato com a pele e mucosas. As enchentes são importantes vetores para a disseminação da doença, já que a urina se mistura com a água dos alagamentos e à lama. A água em regiões alagadas pode se misturar com o esgoto. Dados da série histórica do Ministério da Saúde mostram que o Brasil teve uma média de aproximadamente 3.200 casos de leptospirose entre 2013 e 2023. Em 2024, até o mês de abril, foram contabilizados 734 casos, com foco no Sul e Sudeste.

“Essa é uma doença aguda e febril, e no caso das enchentes, pode ser contraída através do contato da água contaminada com mucosas (nariz, boca) ou feridas na pele. A pele intacta, se exposta por longos períodos em água contaminada, também pode contrair a bactéria. A doença possui letalidade de 40% em casos mais graves. Os altos índices de precipitações em algumas regiões potencializam a disseminação da bactéria e pode gerar aumento de casos”, alerta Jeferson de Andrade, biólogo e pesquisador de Desenvolvimento de Produtos e Mercado da BASF.

Durante enchentes, como as que o Rio Grande do Sul enfrenta até agora, é importante evitar o contato com áreas de infestações de roedores. “Caso não seja possível, a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) é imprescindível”, comenta o Biólogo. “Mesmo no barro, área com menos utilização de equipamentos de proteção, a bactéria pode se manter ativa por semanas ou meses”, comenta o especialista.

 

Porto Alegre (RS), 18 de maio: Homem atravessa o alagamento. Corpo de Bombeiros, Políciais e voluntários continuavam resgatando animais e levando mantimentos para as pessoas atingidas pela enchente. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Medidas preventivas

O cidadão deve evitar andar, nadar, tomar banho com água de enchentes. Caso seja inevitável o contato com a água, lama das cheias e esgoto, que podem estar contaminados, a pessoa deve usar luvas, botas de borracha ou sapatos impermeáveis. Se não houver disponibilidade desses itens, usar sacos plásticos duplos sobre os calçados e as mãos.

Ninguém deve ingerir água ou alimentos que possam ter sido infectados pelas águas das cheias.

Se houver cortes ou arranhões na pele, as pessoas devem evitar o contato com a água contaminada e usar bandagens nos ferimentos.

Se tiver contato com a água ou lama e apresentar sintomas como dores de cabeça e muscular, febre, náuseas e falta de apetite, deve procurar uma unidade de saúde.

Os suspeitos com sintomas compatíveis com leptospirose e que vieram de áreas de alagamento devem iniciar tratamento medicamentoso imediato e ter amostra coletada – a partir do 7º dia do início dos sintomas. O material deve ser encaminhado exclusivamente ao Laboratório Central do Estado.

A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, em vídeo divulgado nas redes sociais, orientou a população. “Mexeu na lama, andou na água da enchente e teve sintomas de leptospirose? Procure um atendimento de saúde, pois tem tratamento e temos medicações suficientes. O tratamento não pode esperar, não fique em casa achando que vai passar, pois isso pode se transformar numa doença grave”.

 

No dia 20 de maio, comerciantes retiravam entulho e limpavam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer / Agência Brasil

 

Orientações

A Secretaria da Saúde do estado publicou a primeira versão do Comunicado de Risco – Leptospirose e Acidentes com Animais Peçonhentos, com reforço e atenção aos sintomas e indicações de coletas para análise laboratorial.

A secretaria também disponibilizou aos gestores e profissionais de saúde o Guia de Consulta Rápida para a vigilância, que inclui informações como manifestações clínicas, diagnósticos e condutas diante de casos suspeitos.

Entre as demais doenças destacadas estão tétano, hepatite A, raiva, acidente com animais peçonhentos e doenças diarreicas, que são outros agravos potencializados em situações de alagamentos.


Fontes: Agência Brasil / BASF


Destaque – No dia 20 de maio, comerciantes retiravam entulho e limpavam lojas para retomar os negócios no Centro Histórico de Porto Alegre. Foto: Rafa Neddermeyer / Agência Brasil


Publicação:
Domingo | 2 de junho, 2024


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