Reportagem especial sobre a Revolução Constitucionalista de 1932

O Brasil tem heróis. A Revolução Constitucionalista de 1932 ou Guerra Paulista, como também é conhecida, deflagrado em nove de julho, além de outras datas cívicas como o 23 de Maio, nos remetem ao passado e formam a base para o futuro.

Por Antonio de Andrade*


(…) Muitos foram os heróis, mas na impossibilidade de se homenagear a todos, em nome de todos eles, são lembrados alguns deles. Primeiramente Paulo Virgínio. Morador do sertão de Cunha, foi aprisionado por tropa de fuzileiros navais que se dirigiam para atacar a cidade. Interrogado sobre a localização das tropas paulistas, mesmo sob tortura ele se negou a falar. E antes de ser fuzilado, depois de ser obrigado a cavar a própria sepultura, ele gritou: – “São Paulo vence!” Paulo Virgínio perdeu a vida, mas entrou na História como o herói de Cunha e da Revolução de 32. Em sua memória e de seu heroísmo, há um monumento na entrada da cidade de Cunha, na estrada para Paraty e essa rodovia que liga as cidades de Guaratinguetá-Cunha-Paraty recebeu o seu nome.

 

Cartaz ilustrando o mártir Paulo Virgínio e sua morte, depois de ser obrigado pelos governistas a cavar sua própria sepultura.

 

Outros nomes de heróis da Revolução de 1932, são os dos primeiros mártires que tombaram mortalmente com os primeiros tiros disparados, dias antes do 9 de julho. No dia 23 de maio, o povo paulista protestava contra a visita do representante de Getulio à cidade, o ministro Osvaldo Aranha, e entrou em confronto na esquina da Rua Barão de Itapetininga com a praça da República, com os partidários de Getulio Vargas – os membros da Legião Revolucionária de Miguel Costa e do Partido Popular Paulista. Nesse confronto, com muitos tiros de fuzil, de submetralhadoras e revólveres, são atingidos mortalmente, Euclides Bueno Miragaia, Antonio Américo de Camargo Andrade, Dráusio Marcondes de Souza e Mário Martins de Almeida, este último gravemente ferido, morreu ao chegar ao hospital. As iniciais dos nomes destes quatro primeiros mártires formaram a sigla MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo), a organização que cuidou, durante a Revolução, da direção geral do abastecimento, da intendência, das finanças, da engenharia, da saúde, do correio militar e da mobilização de outros serviços. Após o término da Revolução, a sigla foi adotada pela Sociedade Veteranos de 1932.

 

Placa “SP-171” Rodovia Paulo Virgínio. Foto: Diego Campos

 

Nos registros históricos constam os nomes do M.M.D.C., como os quatro primeiros que tombaram durante a Revolução, porém, o pesquisador, Hely Felisberto Carneiro (médico, nascido em 1932, residente em Sorocaba, SP), em anos de pesquisa descobriu que havia mais um herói que tinha sido mortalmente ferido no dia 23 de maio. Conforme suas informações, um mineiro de Muzambinho, Orlando de Alvarenga, foi também gravemente ferido nesse dia, com um tiro de fuzil na coluna lombar que esfacelou sua medula. Socorrido, sofreu 81 dias, falecendo no dia 12 de agosto. O pesquisador agiu para consertar os registros históricos sobre 1932 e conseguiu que em setembro de 1993, a diretoria da Sociedade Veteranos de 1932 – M.M.D.C. reconhecesse a falha dos registros históricos. Assim, baseado em um estudo feito pelo Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, foi criado o “Colar da Cruz do Alvarenga e dos Heróis Anônimos”.

Como homenagem póstuma ao herói Orlando de Alvarenga, em 28 de abril de 2003 o Prefeito da cidade de Sorocaba, SP, sancionou a Lei nº 6.814 designando a Rua nº 1 do Jardim Itapoã como “Orlando de Alvarenga” e em 13 de janeiro de 2004, o Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, depois que o pesquisador Hely Felisberto fez o pedido a ele, promulgou a Lei nº 11.658 designando o dia 23 de Maio como “Dia dos Heróis MMDCA” e por Decreto oficializou o “Colar da Cruz do Alvarenga e dos Heróis Anônimos”. (…)

 

Monumento em homenagem ao mártir cunhense e heroi paulista “Paulo Virgínio”. Eis o ponto onde teve de cavar sua própria sepultura antes de ser fuzilado pelos vis fluminenses por não revelar onde estavam posicionadas as tropas paulistas. Hoje seu corpo está sepultado no Mausoléu do Ibirapuera na cidade de São Paulo. Foto: Diego campos

 


*Antonio de Andrade, de Lorena, SP. Escreveu o livro “1932-Os deuses estavam com sede”, um romance histórico ambientado na Revolução de 1932. Seus livros e artigos são encontrados pelo site www.editora-opcao.com.br. Em nove de julho de 1999, o autor recebeu da Prefeitura de Cunha-SP, um diploma e medalha “Paulo Virgínio – Herói Constitucionalista” pelo apoio, contribuição e ajuda à Memória da Revolução de 1932.



Nota da redação:
Existem inúmeros registros sobre a Revolução Constitucionalista de 1932. Muitos historiadores, jornalistas e até mesmo ex-combatentes se ocuparam e ainda estão ativos em prol da memória deste que é considerado o mais importante ato de civismo na história da República. O conhecimento de Antonio de Andrade nos brinda com fatos como os descritos acima entre tantos outros. Porém, pela extensão de sua obra, só nos foi possível abordar esta pequena parte. Acesse o texto completo em: http://www.editora-opcao.com.br/ada27.htm


Publicação:
Segunda-feira, 7 de julho de 2014


Atualização:
Terça-feira, 9 de julho de 2024


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