Domingo | 24 de maio, 2020 | 11h08


Na semana passada os principais jornais da Europa colocaram o Brasil no epicentro da pandemia de coronavírus na América Latina, como se o país e seu presidente fossem culpados pela disseminação da COVID-19. Aliviadas com a trégua da doença, as redações internacionais poderiam se ocupar com notícias mais inspiradoras e incentivar a esperança dos brasileiros. Desejar felicidades ao Brasil (We wish Brazil happiness) seria um bom tema.

Gerson Soares

A impresa europeia resolveu se juntar aos que tentam denegrir a imagem do Brasil pelo mundo. Se por algum interesse sinistro não sei. Mas a bizarrice das notícias chamou atenção, principalmente aquelas focadas no presidente Jair Bolsonaro, destacando-o como alguém irresponsável que sai no meio do povo, provoca aglomerações ou se junta aos aglomerados. Quanto ao país que governa, continuam divulgando uma imagem deteriorada. Na verdade, para falar do Brasil é preciso ter um conhecimento tão profundo que escasseia até mesmo por aqui.

 

A imprensa nacional ajudaria mais trazendo esperança do que tentando denegrir a imagem do Brasil. Sejam felizes amigos! Ilustração: aloart

 

Não vi nada parecido na imprensa brasileira quando a Espanha, Reino Unido, Itália, França ou Alemanha viram multidões de cidadãos indo a óbito, aos milhares diariamente. Ninguém aqui falou que Angela Merkel deixou de usar máscara em algum pronunciamento ou que o parlamento inglês se reúne sem máscara mantendo apenas distância segura, a seu ver.

A imprensa brasileira não registrou nenhuma irresponsabilidade de Sua Majestade britânica por não obrigar os súditos a usarem máscara ou execrou os erros cometidos pelos governantes italianos que podem ter levado milhares às sepulturas. Pelo menos não vi nada disso em evidência. Durante esta pandemia muitos fatos ocorreram dos quais ninguém poderá se orgulhar. A pandemia mostrou que a humanidade simplesmente não está preparada.

A Europa aos poucos vai se livrando da COVID-19 e a imprensa internacional se volta para os países menos desenvolvidos da América, colocando o Brasil como protagonista da disseminação, projetando mais catástrofes, como se não bastassem os catastrofismos da imprensa nacional. Senhores: o vírus não surgiu aqui, ele foi “importado” daí. Não se pode comparar a população brasileira com a europeia sob diversos aspectos, inclusive o desta pandemia.

Que o atendimento público à saúde no Brasil é precário, todo mundo sabe. No entanto, atribuir aos problemas políticos do país e a Bolsonaro os efeitos de propagação do coronavírus, aí já é demais! Basta observar o tamanho do território, número de fronteiras e a interdependência das cidades fronteiriças para ver que essa conta não bate! É preciso medir as palavras, observar a obviedade, analisar de uma maneira menos genérica a situação brasileira e seu protagonismo regional.

O coronavírus e toda a conjuntura que envolve essa pandemia propiciam oportunidades para levantarmos os olhos aos céus mais vezes, unirmos nossas mentes, pensarmos em como melhorar o mundo – muita gente percebeu e já está fazendo isso. Porém, notícias dessa gente que arregaça as mangas nos momentos mais difíceis são bem menos disseminadas. Outra condição que a COVID-19 nos propicia é de cuidarmos mais uns dos outros.

A imprensa europeia está presenciando o alívio da doença no seu território, onde depois do medo surge a esperança. Quando se volta para atacar o Brasil, perde a ocasião de propagar concórdia, humanidade, mostrar bons exemplos daquilo que deu certo para inspirar os brasileiros. Ao invés de tentar denegrir a imagem deste gigante, que está disposto a se levantar, as redações internacionais poderiam se ocupar investindo em notícias mais alvissareiras.

Wishing your friends happy, this is very good!
Desejar felicidades aos amigos, isto é muito bom!

Hospital de campanha no Ibirapuera para tratamento de COVID-19 erguido em tempo recorde, sem licitação devido ao estado
de emergência atual. Custo informado de 12 milhões, mais 10 milhões por mês para manutenção. Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

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