Tietê: o rio de São Paulo

Edição: Gerson Soares | Edição de imagens: aloimage

Textos: Professor Fausto Henrique G. Nogueira (IFSP)

Nascendo a apenas 20 Km do litoral, para ele seria muito mais fácil correr para o mar e cumprir sua missão, mas teimoso resolveu seguir ao contrário, para o interior. Tomara essa teimosia ainda salve as suas águas que desastrosamente ficam poluídas nos trechos próximos à capital e grande São Paulo. Para um corajoso rio, que desafia até mesmo a natureza, eis mais um obstáculo a ser superado: a despoluição e voltar a ser como era antes. Vamos conhecê-lo melhor e ampliar as condições para que um dia o Tietê volte a ter o verdadeiro sentido do seu nome: Rio Verdadeiro.


 

Qualidade da água do Rio Tietê em Araçatuba, SP. Foto: Andréatl – 29/10/2011.

 

Os rios sempre possuíram uma importância capital para o desenvolvimento das civilizações, como o caso do Nilo para o Egito, do Tigre e o Eufrates, para a Mesopotâmia. Influenciaram a escolha do local a ser habitado, foram utilizados como vias de transporte, fornecedores de alimentos, para práticas esportivas e lazer.

O paulistano que nasceu nas últimas três décadas, talvez desconheça a importância de um personagem central na nossa história: o Rio Tietê. Esse ilustre desconhecido é citado nas conversas diárias apenas pelo seu mau cheiro, pelas enchentes, ou então pela poluição que o caracteriza. Para o habitante da cidade é um vilão, um algoz que assola a nossa frágil paz urbana, tão caótica; não sendo mais um motivo de orgulho, parece fingir que o rio não existe, prefere não entender o caos das avenidas, as favelas ribeirinhas, as indústrias poluentes.

Entretanto, este estorvo é fundamental na história da cidade e do país. Se hoje ele encontra-se nessa situação deplorável, foi pela intervenção criminosa e muitas vezes errônea do ser humano. Sua tranqüila existência como meio de comunicação para os índios foi quebrada com a chegada do europeu na época da Colônia, logo após a fundação de São Paulo.

 

Poluição visível no rio Tietê no município de São Paulo. A degradação dos recursos hídricos é um problema crônico da cidade. Foto: Fernando Mafra – Flickr

 

O Tietê nasce na cidade de Salesópolis a uma altitude de 1.030 metros na Serra do Mar, a 20 km do Atlântico. Diferentemente de outros rios – o que torna o Tietê bastante incomum – ele subverte a natureza e, ao invés de buscar o mar, se volta para o interior de São Paulo desaguando no rio Paraná, num percurso de quase 1.100 km. Essa característica foi bem expressada por Mário de Andrade:

“Meu rio, meu Tietê, onde me levas?
Sarcástico rio que contradizes
o curso das águas
E te afastas do mar e te adentras
na terra dos homens,
Onde me queres levar?...
Por que
me proíbes assim
praias e mar,
por que
Me impedes a fama das tempestades
do Atlântico
E os lindos versos que falam
em partir e nunca mais voltar?”

O lançamento de esgotos industriais inicia-se na cidade de Mogi das Cruzes, a 45 km da nascente. Na zona metropolitana o rio encontra o maior complexo urbano-industrial do país, e conhece um de seus trechos mais poluídos, a foz do Tamanduateí. Contudo, o Tietê passou a ser considerado o curso d’água que melhor do que qualquer outro monumento, representava o espírito da capital dos paulistas, mesmo sendo o curso preferencial de escoamento dos esgotos urbanos.

 

Nascente do Rio Tietê em Salesópolis, SP.