O comportamento da Família Real portuguesa e sua corte no Brasil, durante o período colonial, são recheadas de comentários engraçados. Por outro lado, a estratégica fuga de Lisboa teve desdobramentos e interesses comerciais de altas cifras envolvendo os ingleses.


Em novembro de 1806, Napoleão Bonaparte impôs o Bloqueio Continental aos países europeus. O objetivo foi que estes cortassem os laços comerciais com a Inglaterra, quebrando assim sua hegemonia econômica. Todavia, Portugal não aderiu causando a ira do general francês. Enquanto a Coroa portuguesa obtinha o apoio da Inglaterra para transferir-se ao Brasil e manter sua independência, Napoleão negociou com a Espanha, que lhe permitiu atravessar o país e invadir Portugal. Distanciando-nos desta parte da história, lembrando que a Família Real embarcou para o Brasil em 27 de novembro de 1807, desembarcou em Salvador no dia 22 de janeiro de 1808, vamos chegar à Baía de Guanabara em 8 de março daquele mesmo ano, para conhecermos algumas curiosidades do período de permanência de D. João VI e sua corte.

 

História do Brasil – John Luccock. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil. Tomadas durante uma estada de dez anos nesse país, de 1808 a 1818. Coleção Biblioteca Histórica Brasileira, direção de Rubens Borba de Moraes, Nº X. Tradução de Milton da Silva Rodrigues, Muito ilustrada. Livraria Martins, 1942, 435 pp. 24 x 18 cm. Encadernado com as capas originais, papel amarelado devido a ação de tempo. Levy Leiloeiro. Acesso em: mar. 2024.

 

Baía da Guanabara

A começar por essa baía que no idioma tupi-guarani significa “braço de mar ou seio de mar”, há registros dos primeiros navegantes portugueses que ao entrarem na Guanabara, imaginaram que estavam atravessando um Rio. Como era então o mês de janeiro, batizaram a baía de “Rio de Janeiro”. Anos mais tarde, em 1565, Estácio de Sá juntou a essa antiga denominação, o nome do rei de Portugal na época para dar nome à cidade que havia fundado: “São Sebastião do Rio de Janeiro”. A cidade é mencionada oficialmente pela primeira vez quando a segunda expedição exploratória portuguesa, comandada por Gaspar lemos, chegou em Janeiro de 1502, à baía, que o navegador supôs ser a foz de um rio, por conseguinte, dando o nome à região do Rio de Janeiro.

Cariocas

Na época em que a corte portuguesa chegou à sua principal colônia, em 1808, ainda havia nativos e estes nomearam as casas construídas com uma palavra que se tornaria muito comum. A palavra “carioca” é de origem indígena e significa “casa de branco”, como registram os viajantes bávaros Spix e Martius, vindos com D. Leopoldina para o Rio de Janeiro de D. João. As “casas de branco”, às vezes construídas de pedra, eram usadas pelos portugueses como proteção contra o ataque de índios armados com flechas de fogo. Naquele tempo o termo tinha conotação pejorativa, mas hoje designa de maneira geral os habitantes da cidade maravilhosa.

 

Botica no Rio de Janeiro, 1823. Aquarela de Jean-Baptiste Debret (1768–1848). Coleção Museu do Açude, Rio de Janeiro.

 

Farmácias

Outro comportamento interessante foi a proliferação de farmácias desde os tempos da Corte de D. João. Se por falta de saúde ou por excesso de prudência da população não se sabe, mas já havia uma grande quantidade desses estabelecimentos espalhados nas esquinas do Rio de Janeiro. O inglês John Luccok, que fez no início do século XIX esta constatação, alertava para o fato de que muitas dessas boticas não possuíam profissionais da especialidade, uma vez que somente em 1809 foi criado na cidade o curso de Medicina. Nos estabelecimentos da época podiam-se encontrar ópio, rosa, sene, manacá, bálsamo católico, bálsamo de copaíba e água vienense, além de pomadas de todo tipo, principalmente a chamada “alvíssima”.

Perereca

Esse era o apelido do maior cronista da Corte joanina na capital da colônia. Ele foi um padre e seu verdadeiro nome era Luiz Gonçalves dos Santos. Padre Perereca, apelido um tanto maldoso, foi dado pelos cariocas em razão da semelhança física existente entre o anfíbio e o clérigo, magro de corpo e com olhos esbugalhados. Perereca nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1767, e viveu até os 77 anos de idade. Na sua obra “Memórias para servir à história do Reino do Brasil”, descreveu, como testemunha ocular da época, o episódio da chegada da Família Real e todas as mudanças ocorridas na paisagem urbana da cidade que, a partir de então, seria a sede do Império Português.

 

Souvenir de Rio de Janeiro. 1832. Pintores: Jean-Baptiste Debret (1768–1848); Victor Barrat; Johann Moritz Rugendas (1802–1858). Autor: Johann Moritz Rugendas. Lápis médio, óleo e aquarela. Dimensões. Altura: 60 cm. Largura: 73 cm. Coleção Brasiliana Itaú.

 


Fontes:
IBGE. Brasil/Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ). Prefeitura. 2014. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br. Acesso em: mar. 2024.
História Cantada. Disponível em https://historiacantada.wordpress.com/2013/07/27/36-curiosidades-sobre-o-periodo-de-d-joao-vi/. Acesso em: mar. 2024.


Imagens:
Botica no Rio de Janeiro, 1823. Aquarela de Jean-Baptiste Debret (1768–1848). Coleção Museu do Açude, Rio de Janeiro. Via: Wikicommons
Souvenir de Rio de Janeiro. 1832. Pintores: Jean-Baptiste Debret (1768–1848); Victor Barrat; Johann Moritz Rugendas (1802–1858). Autor: Johann Moritz Rugendas. Lápis médio, óleo e aquarela. Dimensões. Altura: 60 cm. Largura: 73 cm. Coleção Brasiliana Itaú.
História do Brasil – John Luccock. Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil. Tomadas durante uma estada de dez anos nesse país, de 1808 a 1818. Coleção Biblioteca Histórica Brasileira, direção de Rubens Borba de Moraes, Nº X. Tradução de Milton da Silva Rodrigues, Muito ilustrada. Livraria Martins, 1942, 435 pp. 24 x 18 cm. Encadernado com as capas originais, papel amarelado devido a ação de tempo. Levy Leiloeiro. Acesso em: mar.2024.


Publicação:
Sábado | 2 de março, 2024