Domingo | 6 de novembro, 2022

Estudo mostra que os níveis de hormônios desses tubarões são mais altos do que de outros indivíduos da mesma espécie que passam menos tempo nesses locais. Vamos descobrir o porquê.

Por André Julião da Agência Fapesp


Tiger Beach, ou praia dos tigres, nas Bahamas, é conhecida pela beleza paradisíaca e por habitantes que poderiam espantar qualquer um de suas águas, mas acabam sendo as maiores atrações do turismo de mergulho praticado ali: os tubarões-tigre (Galeocerdo cuvier).

Alimentação para encantar turistas

As águas cristalinas e rasas, com 5 metros de profundidade em média, favorecem a visualização dos animais. Mas o fornecimento de alimentos pelas operadoras de turismo locais, como carcaças de peixe, é o que garante a presença dos predadores, que podem ultrapassar 3 metros de comprimento.

Um grupo de cientistas do Brasil e dos Estados Unidos, que inclui pesquisadores apoiados pela FAPESP, descobriu que as fêmeas de tubarão-tigre que visitam essas áreas com frequência são maiores e têm níveis hormonais mais altos do que de outros indivíduos da mesma espécie que passam menos tempo nesses locais.

 

Os tubarões-tigre (Galeocerdo cuvier) que usam mais as áreas de mergulho normalmente são maiores, com níveis mais altos de ácidos graxos ômega-3 e de hormônios em comparação com tubarões-tigres de outras áreas. Foto: Neil Hammerschlag

 

Fêmeas dominam

“Essas áreas são dominadas por fêmeas de grande porte. Algumas, inclusive, grávidas. De modo geral, os níveis de hormônios eram mais altos naquelas que estavam em locais onde ocorre o fornecimento de alimento do que nas ‘tigresas’ que não interagem tanto com mergulhadores. Além disso, as primeiras possuem uma condição nutricional melhor, com mais ômega-3 no sangue”, conta Bianca Rangel, que realizou o trabalho como parte de seu doutorado no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) com bolsa da FAPESP.

Com os dados de uso do espaço, coletados durante 90 dias, foi possível estabelecer os animais que passavam mais tempo em áreas onde não ocorre o mergulho e aqueles que ficavam onde é ofertado alimento para que possam interagir com os turistas.

“As fêmeas de grande porte dominam as áreas onde há o mergulho, enquanto as juvenis, de porte menor, ficam de fora. Isso mostra uma dominância por parte dessas predadoras, que provavelmente encontraram vantagens em estar nesses territórios e conseguem se impor perante as menores”, explica Rangel.

 

Tiger Beach, nas Bahamas, é um local privilegiado para a observação de tubarões-tigre (Galeocerdo cuvier); as fêmeas adultas, que dominam o local, podem ultrapassar 3 metros de comprimento. Foto: Neil Hammerschlag

 

Alimentação

Um reflexo do uso do território na fisiologia das “tigresas” – como são carinhosamente chamadas as fêmeas de tubarões-tigre pelos pesquisadores – está na alimentação. Seu conteúdo pode ser medido pela concentração de ácidos graxos, as gorduras de diferentes tipos, e nos isótopos estáveis, que indicam em que degrau da cadeia alimentar estão os alimentos consumidos pela quantidade de nitrogênio acumulada.

Alimentadas com carcaças de garoupas e outros peixes gordurosos, as “tigresas” das áreas de mergulho tiveram valores mais altos de ácidos graxos do tipo ômega-3 e de isótopos de nitrogênio do que aquelas que passaram menos tempo nesse território.

A diferença entre as frequentadoras das áreas de mergulho e as outras fêmeas foi visível ainda na concentração de hormônios, no caso, valores médios de testosterona (três vezes maior), estradiol (quatro vezes superior) e corticosteroides (16,4 vezes mais).