Sábado | 17 de dezembro, 2022

Esta pequena história se repete e se repete no Brasil, demonstrando um comportamento anômalo: a classe política, salvo raras exceções, dentre os que ocupam altos cargos do poder e que poderiam mudar a vida de pessoas como João – um cidadão brasileiro simples que acredita em uma vida melhor –, permanecem cuidando de si próprios e de seus interesses particulares.


O personagem desta história existe aos milhões. A data 2002 é apenas uma metáfora, tudo começou há muito mais tempo e ainda permanece em nossos dias, desde que a moral deixou de se distinguir.

O operário

João trabalha em uma pequena metalúrgica e tem como característica acreditar nas pessoas, nas coisas por assim dizer, em consequência acredita nas promessas dos políticos brasileiros. Na eleição de 2002, há 20 anos, convidou um velho amigo que estava trabalhando com ele na fábrica para irem a um comício depois do serviço. O amigo lhe disse que não iria, descrente dos políticos e suas promessas. João insistiu tanto que para não desapontá-lo o amigo acabou por acompanhá-lo ao tal comício.

Na fábrica…

Quatro anos passaram e as histórias mais escabrosas a respeito da classe política se desenrolavam sem que ninguém soubesse, quer dizer muita gente sabia que os políticos não eram de confiança. “O negócio é trabalhar João, se você não trabalhar para garantir o pão da sua família, ‘a vaca vai pro brejo’”, diziam seus companheiros de jornada na fábrica.

Mas João sempre insistia que as coisas iriam melhorar. Até que vieram as eleições novamente e ao convidar seus parceiros de trabalho para irem outra vez ao comício João foi ignorado. “Vamos tomar uma cerveja João, é melhor pra você”, disseram os operários. João discordava e acabou indo sozinho. Era início de outubro e as eleições presidenciais de 2006 instigavam a classe política que se movimentava no país, quase toda semana havia comícios nas portas das fábricas.

Candidato à presidente

“Hoje vai vir um candidato a presidente aqui. Desta vez vocês vão comigo? Perguntou João durante o expediente. Os operários cansados das mesmas promessas disseram que de jeito nenhum iriam. Mas aquele seu velho amigo, não resistiu aos apelos de João e para não deixá-lo sozinho o acompanhou. João estava entusiasmado: “Está vendo, eu te falei? Eles agora vão fazer de tudo pra melhorar nossa saúde, vai ter escola aqui e o homem falou que vai construir um hospital aqui na vila. Te falei?!”

Promessas

O amigo ouvia e por um instante chegou acreditar naquelas promessas. Mas depois do comício ninguém nunca mais viu aqueles políticos do palanque. As promessas viraram poeira ao vento e o que se viu foram escândalos de corrupção. A escola nunca foi construída, muito menos o hospital. A saúde continua muito ruim por lá, e os moradores até hoje se deslocam para locais distantes quando estão doentes. Mesmo assim, esperam meses na fila para fazer um exame.

Mordaça e risos

Na atualidade… “Pessoal vai vir um político aqui. Esse é sério, já me informei, ele falou…”. Os operários interromperam o João e se não fosse a grande amizade entre eles, teria sido amordaçado. Risos… Brincadeira, mordaça nem existe mais…


Destaque – Imagem: aloart