Quinta-feira, 25 de outubro de 2017 às 19h50
Diz o ditado popular que homem não chora. Em relação à dor, a crendice tem certa razão. Devido a uma série de fatores, o comportamento é diferente do da mulher quanto à percepção da dor.
“As dores são sentidas de maneira diferente entre os sexos. Experimentos revelaram que as mulheres têm maior capacidade de distinguir as regiões com dor, menor limiar de percepção dolorosa e menor tolerância aos estímulos da dor induzidos do que os homens. Estudos com ressonância magnética funcional demonstraram diferenças no processamento cerebral da dor. Além disso, é fato que as mulheres sejam mais comumente afetadas por dores crônicas”, explica o neurologista Rogério Adas Ayres de Oliveira, coordenador do Departamento Científico de Dor da ABN (Academia Brasileira de Neurologia).
Entre as principais causas possíveis para a predisposição feminina para a ocorrência de dor estão, segundo o neurologista, os ritmos hormonais sexuais cíclicos e grandes variações nas concentrações dos principais hormônios (estrogênio, progesterona e testosterona). Mas ele ressalta que a dor é uma experiência subjetiva e individual que recebe a influência de uma ampla gama de fatores - biológicos, psicocomportamentais, cognitivos e socioculturais – que são orquestrados pelo encéfalo.
“Por isso, a percepção da dor varia muito de pessoa para pessoa. Um determinado estímulo pode ser percebido como mais ou menos doloroso por fatores que vão desde a espessura da pele, limiares das fibras nervosas, atividade inflamatória, fatores hormonais, até atenção, padrões de pensamento e flutuações do humor, ansiedade, medo e humor depressivo, bem como contextos e expectativas sociais, experiências passadas, entre outros”, avalia Dr. Adas.
Mais propensas às dores crônicas, “as mulheres sofrem com as enxaquecas e as cefaleias causadas por tensão, as dores temporo-mandibulares, a fibromialgia (dor que ocorre nos tecidos fibroso e muscular de diferentes partes do corpo), dores crônicas da coluna cervical e lombar, as dores pélvicas, entre outras, enquanto os homens são mais vulneráveis às cefaleias em salvas (que atinge um só lado da cabeça), neuralgias pós-herpéticas (lesões na pele observada após a herpes zoster), entre outras”, relata o médico.
Apesar das diferenças na percepção da dor, os tratamentos são similares para ambos os sexos.
“Foram descritos, contudo, diferenças quanto ao perfil de utilização e eficácia de analgésicos entre homens e mulheres. Condições dolorosas cíclicas como as enxaquecas peri-menstuais (antes da menstruação), as dismenorreias (menstruações mais difíceis), entre outras condições podem demandar abordagens específicas”, garante o neurologista.
O médico afirma ainda que é muito difícil diferenciar o papel de cada fator na experiência dolorosa. “Aspectos genéticos, ambientais, socioculturais são relevantes em proporções variadas em cada indivíduo ou população”, confirma. E além das diferenças na percepção de dor entre os sexos, há as variações entre faixas etárias, etnias e culturas.
“Isso demonstra que a combinação de fatores ambientais associada a diferenças genéticas individuais vai determinar as diferentes suscetibilidades para a ocorrência de dor crônica no decorrer da vida e grande variabilidade na expressão da experiência dolorosa”, conclui.
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