Segunda-feira, 2 de maio de 2018 às 19h13
Abandono do Centro Histórico de São Paulo leva a consequência desastrosa. Um incêndio de grandes proporções tomou conta do noticiário desde a madrugada do dia 1º de Maio, uma data bastante emblemática para tal ocorrência.
Gerson Soares
O fato que já é de domínio público, aconteceu num edifício construído em 1960. Erguido sob olhar modernista, era considerado um marco na arquitetura de São Paulo devido a utilização de esquadrias metálicas e vidro em toda a fachada – a “pele de vidro” que lhe dava maior notoriedade –, mas contava com outros avanços estruturais.
O Edifício Wilton Paes de Almeida foi projetado pelo arquiteto francês Roger Zmekhol, tinha 24 andares e ruiu com um incêndio, cuja origem ainda está sendo apurada, mas que segundo informações preliminares teria começado no quinto andar. A inauguração da obra ocorreu em 1968, foi sede das empresas do empresário e político Sebastião Paes de Almeida, passou para o patrimônio da União depois de servir como pagamento de dívidas com a Receita Federal. Entre os anos 1980 a 2003, ficou conhecido como prédio da Polícia Federal, tendo sido ocupado também por uma agência do INSS no primeiro andar. Ficava ao lado da Igreja Evangélica Luterana de São Paulo e desde a sua concepção diagonalmente ao Largo do Paissandu, onde a história da cidade vai mais longe pelas memórias da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, onde desabrigados se reúnem até este momento.
A tragédia poderia ter sido muito maior, mas entidades como o Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento São Paulo (IABsp) que emitiu uma nota na tarde de hoje, alertam para o perigo que ronda o centro histórico da cidade. “Para além da tragédia que esse episódio representa, cabe destacar que estamos diante de problemas sistêmicos que afligem a maioria das grandes cidades brasileiras e que demandam discussões que articulem necessariamente políticas urbanas, habitacionais de patrimônio cultural e de gestão dos bens públicos”, diz o comunicado.
Devido suas características arrojadas e marcantes, o edifício foi considerado um bem de interesse histórico, arquitetônico e paisagístico, o que garantia a preservação de suas características externas, e por tal razão, foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), em 1992.
Mas o que vemos na imagem de 2016, é uma fachada pichada com requintes da mais pura insensatez, onde o vidro que lhe conferiu tanta altivez em 1968, em meio a um centro que ainda lembrava o início do século XX, ganhou uma decoração bizarra com inscrições que beiram as raias da demência. Assim como esse marco histórico, outras obras e edifícios das ruas centrais da cidade são alvo de pichadores, nos quais sua arte obscura e desafiadora se propaga. Como vimos, chegando ao Patteo do Colégio há poucos dias, causando revolta.
Burocracia e a manobra de pessoas carentes
As construções que marcaram o auge daquela São Paulo que já despontava com obras que a enfatizavam como “maior cidade da América Latina”, “a Nova York dos trópicos”, estão esquecidas. Os governos que se sucedem não preservam para as novas gerações a história que a consagrou. Os jovens, muitos deles perdidos e abandonados, assim como a própria cidade, preferem pichar suas obras de arte ao invés de admirá-las.
Assim a história de São Paulo vai sumindo diante das invasões, chamadas de ocupações pelas entidades que dizem defender os direitos de quem nada tem, mas arrancam-lhes as entranhas cobrando taxas para que sobrevivam em lugares como o Edifício Wilton Paes de Almeida em péssimas condições, mais um que desabava para a vergonha de quem tem olhos, mas não enxerga; tem ouvidos, mas não escuta; tem poder, mas não exerce. De acordo com artigo publicado na Wikipedia, “no momento do incêndio e desabamento, 146 famílias moravam no edifício e pagavam entre R$ 250,00 a R$ 500,00 de aluguel para o Movimento Luta por Moradia Digna (LMD), grupo ligado ao Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM)”.
A burocracia corrói as entranhas do Brasil e gera mais e mais corrupção, abarrotando os tribunais. Secretarias impedem o trabalho de outras tantas repartições públicas que se contrapõem em opiniões para descobrirem quem manda mais ou quem solucionará menos; envoltas numa confusão que atravessou o século XX e se expande agora no século XXI, apenas citando o que diz respeito ao patrimônio público e tombado. Enquanto se atrapalham, o patrimônio do passado, as gerações formadas por pessoas carentes, do presente e do futuro, vão sendo transformadas em uma massa manobrada por interesses mesquinhos e pela revolta, pronta para servir aos que se intitulam líderes, que dessa massa se alimentam, sugam as energias e obtém os louros necessários para chegarem ao poder. E, quando o alcançam, a ciranda recomeça.
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