Objetivo foi apontar estratégias que possam ajudar a conter a disseminação de ‘superbactérias’ em hospitais. Pesquisa feita no Hospital das Clínicas mostra que é fundamental identificar e isolar o paciente infectado logo ao entrar no pronto-socorro. Resultados indicam ainda que a internação no PS por mais de dois dias pode comprometer os esforços de contenção.


A identificação rápida de pacientes contaminados por um tipo de “superbactéria” – as enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos (CRE, na sigla em inglês) – e o isolamento precoce desses indivíduos reduzem a transmissão em áreas de internação de pronto-socorro (PS). No entanto, mantê-los por mais de dois dias na emergência compromete os esforços de contenção porque aumenta o risco de contaminação, a chamada colonização.

Esses são os principais achados de uma pesquisa feita por um grupo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). Os resultados foram divulgados na revista Clinical Infectious Diseases e publicados no dia 5 de julho de 2023.

Infecções

As enterobactérias são um tipo de bactéria (gram-negativas) que geralmente causam infecções em ambientes de saúde – hospitais e pronto-socorros – e incluem cepas como a Escherichia coli, responsável por infecções urinárias e colite hemorrágica, e a Klebsiella pneumoniae, que pode levar à pneumonia e à infecção de corrente sanguínea. As CRE são consideradas ameaça à saúde pública pela dificuldade de tratamento. Os antibióticos carbapenêmicos geralmente são a última linha de defesa contra infecções provocadas por esses microrganismos.

 

A bactéria mais comum no estudo foi a Klebsiella pneumoniae, que pode levar à pneumonia e à infecção de corrente sanguínea. Imagem: NIAD/Wikimedia Commons

 

Intervenção

“Fizemos uma intervenção em um pronto-socorro superlotado, ou seja, um hotspot para transmissão de bactérias resistentes. Vimos que essa intervenção teve um impacto na redução de bactérias multirresistentes dentro do PS e também no próprio hospital”, revelou à Agência FAPESP o médico infectologista Matias Chiarastelli Salomão, primeiro autor do artigo e integrante da Subcomissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) da FM-USP.

Estudos anteriores realizados no Departamento de Emergência já haviam demonstrado que 6,8% dos pacientes admitidos são colonizados por CRE, com uma taxa de contaminação de 18% durante a internação no local.

Infecção durante internação

Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2022, apontou que a cada 100 pacientes internados em hospitais para cuidados intensivos, sete – em países de alta renda – e 15 – em países de baixa e média renda – adquirem ao menos uma infecção associada à atenção à saúde durante a internação. Em média, um a cada dez pacientes afetados morrerá por este motivo.

Pacientes internados no pronto-socorro

De acordo com Salomão, um dos focos do trabalho foi tentar entender e buscar alternativas para impedir que infecções no pronto-socorro se espalhassem para outras alas do hospital. “A intervenção que usamos é pragmática e pode ser aplicada em outros locais. Sobre o resultado relacionado à internação na emergência por mais de dois dias comprometer os esforços de contenção, acreditamos que seja uma questão de estrutura do PS, que não é adaptada para ter pacientes de longo prazo. Ou seja, tem macas mais próximas, pontos de higiene de mãos mais distantes, entre outros”, complementa.

A pesquisa foi conduzida no pronto-socorro do Hospital das Clínicas da USP, que tem 800 leitos. Muitas vezes, porém, o local está superlotado, abrigando o dobro de pacientes internados, com alguns permanecendo por mais de 11 dias.


Fonte: Agência FAPESP | por Luciana Constantino


Destaque – Imagem: aloart


Publicação:
Domingo | 1º de outubro, 2023