Trabalho conduzido por pesquisador brasileiro em Harvard mostra que a serotonina – hormônio conhecido por regular o humor – tem papel central no desenvolvimento de hipoglicemia pós-prandial em até 30% dos indivíduos operados; achados indicam caminhos para possíveis tratamentos

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP


A hipoglicemia pós-prandial é uma das principais complicações da cirurgia bariátrica, podendo afetar até 30% dos operados. Ao contrário da hipoglicemia comum, em que o baixo nível de açúcar no sangue está geralmente associado a pouca alimentação, a pós-prandial ocorre depois das refeições, causando no indivíduo sintomas como sudorese, tremores, fraqueza e até confusão mental.

Estudo conduzido na Universidade Harvard, Estados Unidos, identificou o papel central da serotonina (hormônio envolvido na regulação do humor) no desenvolvimento da hipoglicemia pós-bariátrica. Os resultados foram divulgados dia 12 de setembro de 2024 no Journal of Clinical Investigation e, segundo os autores, indicam caminhos para possíveis tratamentos.

“Identificamos que esse tipo de hipoglicemia está associado à desregulação dos níveis de serotonina no sangue, hormônio que, além de controlar o humor, também é capaz de estimular a secreção dos hormônios insulina [no pâncreas] e GLP-1 [sigla para glucagon-like peptide-1, produzido no intestino delgado em resposta à ingestão de alimentos] no organismo”, conta Rafael Ferraz-Bannitz, que conduziu a investigação durante estágio no exterior apoiado pela FAPESP. O grupo também recebeu financiamento dos National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos.

“Observamos que, nos indivíduos com hipoglicemia pós-bariátrica, os níveis de serotonina estão baixos quando eles estão em jejum. No entanto, após uma refeição, aumentam significativamente, ao contrário de pacientes sem sintomas ou de pessoas que não fizeram bariátrica, cujos níveis de serotonina diminuem após uma refeição”, acrescenta Ferraz-Bannitz, que atualmente é pós-doutorando da Joslin Diabetes Center and Harvard Medical School.

Segundo o pesquisador, embora o problema seja comum – nos Estados Unidos, país com maior número de cirurgias bariátricas do mundo, estima-se que atinja até 30% das pessoas operadas –, ainda pouco se sabia a respeito dos mecanismos que desencadeiam a hipoglicemia pós-prandial. “É algo extremamente incapacitante, os pacientes chegam a concentrar os alimentos em apenas uma refeição por dia, pois sabem que vão passar muito mal. Muitos não conseguem trabalhar, dirigir ou ter o mínimo de qualidade de vida. E é um problema que pode atingir até 83 mil pessoas todos os anos só nos Estados Unidos. No Brasil, esse número também deve ser alto, pois é o segundo país que mais realiza cirurgias bariátricas no mundo”, sublinha o pesquisador.


Clique aqui para ler a matéria completa


Destaque – Imagem: aloart


Publicação:
Sábado | 14 de setembro, 2024


Leia outras matérias desta editoria

Cirurgia de nariz sem dor e sem cortes? É possível e transforma a vida, diz médico

A septoplastia por vídeoendoscopia corrige desvio de septo, alivia sinusite e cefaleia e permite voltar à rotina em poucos dias. O médico Fabiano Brandão afirma que é possível corrigir problemas respiratórios no nariz sem cortes, sem hematomas e...

Hospital realiza cirurgia inédita no país para tratamento de Parkinson à distância

Pela primeira vez no Brasil foi realizada a implantação de um dispositivo que permite ajustar o tratamento de Parkinson à distância. O procedimento feito pelo Hospital Moinhos de Vento, em um paciente uruguaio, aconteceu no último dia 4 de novembro. A...

Estudo aponta redução de 39% de recorrência de AVC com uso de polipílula

Levantamento internacional liderado pelo Hospital Moinhos de Vento no Brasil expõe resultados em Congresso na Espanha. O estudo TRIDENT, coordenado pelo The George Institute for Global Health, da Austrália, e conduzido pelo Hospital Moinhos de Vento no...

Epidemia silenciosa: os impactos da saúde mental para o coração

Nova diretriz de cardiologia destaca a urgência de tratar como fator de risco cardiovascular doenças como a depressão e a ansiedade. Um novo consenso clínico da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), divulgado no Congresso de 2025 em Madri, lança um...

Rinite alérgica: 5 aspectos que muita gente ainda não conhece

Vacina, herança genética e incidência maior em mulheres estão entre os aspectos desse problema. Os sintomas são bastante conhecidos e os fatores que a provocam, idem. A rinite alérgica, de forma bem resumida, é uma inflamação da mucosa nasal, que ocasiona...

Segurança do paciente: como a cooperação nacional está salvando vidas e transformando o SUS

Admilson Reis — Superintendente de Responsabilidade e Gestão de Riscos do Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre - RS). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada dez pessoas hospitalizadas no mundo sofrem algum tipo de dano...

Halitofobia: quando o medo do mau hálito se torna uma fobia social

Especialista alerta para a condição conhecida como pseudo-halitose, em que o paciente acredita sofrer de mau hálito sem apresentar sinais clínicos. Transtorno pode comprometer convívio social e qualidade de vida. A preocupação com o hálito é comum e, até...