Ahmed Sameer El Khatib — Doutor em Finanças e Educação, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais, pós-doutor em Contabilidade e Administração.  É professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).


Embora a aposentadoria seja uma das fases mais importantes da vida, a maioria dos brasileiros não se prepara adequadamente para ela. Segundo pesquisa da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), apenas 12% da população afirma investir pensando no futuro. Grande parte depende exclusivamente do INSS, o que pode não ser suficiente para manter o padrão de vida após deixar o mercado de trabalho.


Essa falta de preparo está ligada tanto a questões culturais quanto à ausência de educação financeira. “O brasileiro tende a viver o presente e priorizar o consumo imediato, postergando decisões de longo prazo. Mas o tempo é o grande aliado da aposentadoria. Quanto mais cedo se começa, mais fácil se torna acumular recursos para o futuro”, explica.

Além disso, o aumento da longevidade é outro fator que exige atenção. A expectativa de vida do brasileiro já passa dos 75 anos, e muitos viverão mais de 30 anos após a aposentadoria. “Isso significa que não basta parar de trabalhar: é preciso garantir renda para três décadas ou mais, em um período no qual as despesas com saúde tendem a crescer”, alerta El Khatib.

O professor também aponta alguns erros comuns: confiar apenas no INSS, não calcular as despesas futuras, adiar o início da poupança e não diversificar os investimentos. “A previdência pública deve ser entendida como um complemento, não como a única fonte de renda. O ideal é criar uma carteira própria de acumulação, com diferentes ativos e prazos, que ofereça segurança e rentabilidade ao longo do tempo”, destaca.

Para quem deseja começar agora, algumas dicas podem ajudar:

:: Definir metas claras: calcular quanto será necessário por mês na aposentadoria e projetar os gastos essenciais;
:: Começar pequeno, mas começar já: separar parte da renda mensal, mesmo que seja 5%, e aumentar os aportes com o tempo;
:: Diversificar os investimentos: incluir aplicações de baixo risco, como Tesouro Selic, mas também buscar produtos de longo prazo, como fundos de previdência e renda variável;
:: Revisar o plano regularmente: adaptar a estratégia conforme mudanças de idade, renda e objetivos;
:: Pensar além do dinheiro: investir também em saúde, educação continuada e qualidade de vida, fatores que reduzem gastos futuros.

O impacto da disciplina é enorme. Simulações mostram que uma pessoa que começa a investir R$ 500 por mês aos 25 anos pode acumular mais de R$ 1 milhão até os 60, considerando rentabilidade média de 8% ao ano. Já quem inicia aos 40 anos, investindo o mesmo valor, acumularia menos da metade. Esse exemplo deixa claro que não é só quanto você guarda, mas quando começa. O tempo multiplica o esforço.

Mais do que uma obrigação financeira, planejar a aposentadoria é uma forma de cuidar do futuro com autonomia e tranquilidade. A aposentadoria não deve ser encarada como um fim, mas como uma fase de realização. O planejamento é o caminho para que ela seja vivida com dignidade, qualidade de vida e liberdade de escolhas.


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