Paulo Serra — Especialista em Gestão Governamental e em Políticas Públicas, pela Escola Paulista de Direito; e em Financiamento de Infraestrutura, Regulação e Gestão de Parcerias Público-Privadas (PPPs), pela Universidade de Harvard (Estados Unidos).


O encontro relâmpago entre os presidentes Donald Trump (Partido Republicano), dos Estados Unidos, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do Brasil, de pouco mais de 30 segundos, durante reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), ganhou manchetes no mundo inteiro. Foi um gesto rápido, quase protocolar, mas indiscutivelmente carregado de simbolismo. Mas, afinal, poderia este breve contato significar uma mudança real no rumo das relações entre as duas nações?


No momento em que o Brasil enfrenta os efeitos do chamado tarifaço, com taxas de até 50% impostas pelo governo americano sobre a exportação de nossos produtos, como café, carne, laranja e cobre, me vem a seguinte pergunta: estamos diante de uma abertura para o diálogo ou de mais um episódio que alimenta narrativas políticas sem impacto real na vida da população?

Só na Região do Grande ABC, no estado de São Paulo, o tarifaço já representa uma perda estimada em R$ 80 milhões. Isso não é teoria ou retórica: são empregos ameaçados, empresas fragilizadas e famílias sentindo no bolso as consequências de decisões tomadas a milhares de quilômetros de distância.

É neste contexto que o encontro entre Trump e Lula chama a atenção. Mais do que medir forças ou marcar posição, o Brasil precisa de pontes, não de muros. Precisa de diálogo, não de guerra. Precisa de resultados práticos, e não apenas de discursos inflamados que mobilizam torcidas, mas não resolvem as demandas reais do dia a dia do cidadão.

Na experiência de quem já governou uma cidade com quase um milhão de habitantes, fica claro que a polarização não resolve nada. Em Santo André-SP, cidade da qual fui prefeito por dois mandatos consecutivos, avançamos em áreas sensíveis, como Saneamento Básico, Educação e equilíbrio fiscal, porque soubemos priorizar a gestão acima da disputa política. O mesmo raciocínio vale para o Brasil: ao meu juízo, é com foco em resultados, e não em narrativas, que se enfrenta crises e se cria prosperidade.

Quando a Política se transforma em guerra permanente, quem perde é o povo. São menos investimentos, menos empregos, menos qualidade de vida, e menos confiança da população nos mandatários. Ao contrário, quando a Política assume o papel de ponte, apesar de diferentes interesses, o efeito positivo aparece no cotidiano da nossa gente.

Evidentemente, um encontro de 30 segundos não resolve tarifas milionárias, nem sozinho derruba barreiras comerciais e tampouco inaugura um novo ciclo de relações diplomáticas bilaterais. Mas pode, sim, ser um primeiro passo. Pequenos acenos podem abrir portas que antes pareciam fechadas.

A questão é: vamos aproveitar a oportunidade para transformar tal gesto em negociação real, em defesa concreta dos interesses nacionais, ou vamos desperdiçar a chance, presos na armadilha da polarização, que só divide e enfraquece o País?

O Brasil precisa recuperar sua capacidade de diálogo internacional, proteger seus setores produtivos, gerar confiança nos investidores e, acima de tudo, pensar em quem mais sente os impactos da crise — o trabalhador e sua família.

Se os 30 segundos entre Trump e Lula se tornarem o ponto de partida para essa mudança de postura, terão valido mais do que muitas horas de discursos inflamados, de reuniões infindáveis, de trocas de ofícios. Em suma: nosso País não precisa de mais palanques: precisa de respostas!


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